Bielorrússia diz que sanções da UE reforçam ligação do país à Rússia

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De  Anelise Borges
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Pela primeira vez desde a repressão dos protestos contra o resultado das eleições, um representante da Bielorrússia aceitou falar com a euronews.

Pela primeira vez desde a violenta repressão dos manifestantes que protestaram contra o resultado das eleições presidenciais na Belorrússia, um representante do governo de Aleksander Lukashenko aceitou falar com a Euronews.

euronews: “O governo de que faz parte foi acusado de violações massivas e sistemáticas dos direitos humanos após as eleições presidenciais contestadas do ano passado. Eu estava em Minsk e vi a repressão brutal contra os manifestantes que protestavam nas ruas contra o que acreditavam ser uma eleição roubada. A ONU condenou as ações do seu governo e disse que os bielorrussos devem ter o direito de expressar a sua dissidência. Arrepende-se das ações do seu governo?"

Ministro dos Negócios estrangeiros da Bielorrússia, Vladimir Makei: “O problema é que você e eu temos opiniões diferentes sobre o que aconteceu na Bielorrússia em agosto passado e, infelizmente, as acusações mútuas foram tão longe que não há como voltar atrás. Olhamos para os acontecimentos do ano passado de pontos de vista completamente diferentes. Sim, talvez as autoridades tivessem agido, por vezes de forma excessiva. Mas foi uma reação adequada a todos os protestos violentos e não pacíficos que ocorreram na Bielorrússia no ano passado após as eleições presidenciais. Na verdade, houve uma tentativa de golpe de Estado. Por isso, as ações das autoridades responsáveis pela aplicação da lei foram absolutamente adequadas e necessárias. Era o destino do país que estava em jogo. E se a escolha era entre o destino do país ou essas coisas de que falava, incluindo os direitos humanos, estou convencido de que o governo de qualquer país teria optado por manter a independência do Estado e a soberania. Foi precisamente o que as autoridades bielorrussas fizeram".

Não se trata de pessoas detidas sem motivo. Os que foram detidos injustamente foram libertados ou estão a ser libertados. Os que ficaram detidos estão a ser julgados e serão punidos de acordo com as leis da República da Bielorrússia.
Vladimir Makei
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia

euronews: “Escolheu a soberania em detrimento do próprio povo? Cerca de 30 mil pessoas foram detidas desde o início desta crise. Centenas continuam atrás das grades até hoje. A ONU pediu a libertação imediata de todos os presos políticos no país e ainda assim as pessoas continuam a ir para a rua, embora haja menos gente. Esse movimento de oposição não vai acabar ou vai? Qual é o seu plano para sair desta crise?

Vladimir Makei: “Hoje, a situação, em geral, na Bielorrússia é absolutamente normal. A situação estabilizou-se, normalizou-se. Os protestos que menciona não existem. Quanto às pessoas que foram detidas no passado, devo assegurar-lhe que foram detidas por crimes específicos e violações de direitos. Não creio que nos países da União Europeia esses crimes de terrorismo sejam avaliados de forma diferente. Tivemos oito casos de terrorismo ligados a ataques incendiários contra edifícios, carros-bomba, entre outras coisas. Houve dez casos de bloqueio de vias férreas e um grande número de bloqueios de estradas. Tudo isso motivado politicamente. Também há casos claramente relacionados com violações de legislação específica da República da Bielorrússia, como ataques a polícias e ameaças a familiares de funcionários públicos e de polícias, incluindo crianças. Tudo isso são crimes punidos por lei nos nossos países. E nós agimos da mesma forma na Bielorrússia. Não se trata de pessoas detidas sem motivo. Os que foram detidos injustamente foram libertados ou estão a ser libertados. Quanto aos que ficaram detidos, estão a ser julgados e serão punidos de acordo com as leis da República da Bielorrússia.”

As sanções da União Europeia e de outros países ocidentais contra a Bielorrússia só contribuem para (...) o reforço dos processos de integração numa base bilateral, e não apenas numa base bilateral, mas também numa base multilateral, em toda a área pós-soviética.
Vladimir Makei
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia

euronews: “Desculpe interrompê-lo mas está a dizer que Katsiaryna Adreyeva e Daria Chultosva, os dois jornalistas condenados a dois anos de prisão por fazerem o seu trabalho, Mikita Zalatarou, Maria Kalesnikova, Viktor Babariko e o filho Eduard Babariko, Yury Siarhei, Kiryl Kazei, de 17 anos, Ivan Tsahalka, a lista é infinita. Está a dizer que todas essas pessoas estão na prisão porque deveriam estar presas e não é por motivos políticos?

Vladimir Makei: “Não represento o poder judicial nem a comissão de investigação, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Não posso falar sobre cada caso específico. Podemos enviar-lhe as informações relevantes que confirmam violações da lei por parte desses indivíduos para cada caso particular. Posso citar alguns nomes, o senhor deputado Zinchenko, o senhor deputado Avtukhovich e o senhor deputado Olinevich foram detidos por actos específicos de terrorismo, um golpe de estado. Em relação a isso, aliás, os meios de comunicação social ocidentais e a opinião pública ficaram vergonhosamente calados. Não é segredo para ninguém que, há poucos dias, as forças especiais da República da Bielorrússia, em cooperação com as forças especiais russas, descobriram uma conspiração contra as autoridades bielorrussas, incluindo um plano para assassinar o Chefe de Estado, e o rapto e assassinato de 37 membros do governo. Por que é que o Ocidente não fala sobre isso? Por que é que os média na Europa não falam sobre isso?"

Desde que as sanções contra a Bielorrússia foram levantadas, alcançámos muito mais do que em 15 anos de sanções contra o regime da Bielorrússia. Toda a gente reconhece esse facto, nomeadamente no comércio e na economia, nas esferas humanitária e dos direitos humanos.
Vladimir Makei
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia

euronews: “Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Europeia disseram que as eleições presidenciais do ano passado no seu país não foram livres nem justas. Muitas potências ocidentais não reconhecem Alexander Lukashenko como o legítimo presidente da Bielorrússia. Como estão as relações entre a Bielorrússia e algumas dessas potências ocidentais, hoje?

Vladimir Makei: “Sim, infelizmente, nesta fase, devo admitir que as nossas relações com a União Europeia, com o Ocidente em geral, estão em crise. Mas sempre considerámos a União Europeia como o nosso segundo parceiro comercial e económico, uma fonte de tecnologias e inovações para a Bielorrússia. E acredite em mim, nos últimos cinco anos, desde que as sanções contra a Bielorrússia foram levantadas, alcançámos muito mais do que em 15 anos de sanções contra o regime da Bielorrússia. Toda a gente reconhece esse facto, nomeadamente no comércio e na economia, nas esferas humanitária e dos direitos humanos. Até uma organização de direitos humanos conhecida, a Freedom House, que não nutre simpatias em relação à Bielorrússia, afirmou no dia 28 de abril que a ideia de uma Bielorrússia mais democrática é hoje uma perspectiva mais longínqua do que antes. Eu concordo absolutamente com essa conclusão. A única pergunta é: por que é que isso aconteceu? Por que é que a Bielorrússia foi rejeitada e graças a quem? A pergunta é retórica. E coloco a pergunta, em primeiro lugar, aos defensores dos direitos humanos na Europa.”

euronews: “A Bielorrússia de Alexander Lukashenko ainda tem amigos, ou devo dizer, tem um amigo importante, a Rússia. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, recebeu Alexander Lukashenko na semana passada. Pode contar-nos mais coisas sobre esse encontro entre os dois líderes? E talvez a questão mais importante: a Rússia é o último recurso para poder permanecer no poder?”

Vladimir Makei: “Não se trata de a Rússia estar a ajudar o regime a permanecer no poder. De forma alguma. O nosso relacionamento com a Rússia é ditado pela nossa localização geográfica e pela nossa história. A Rússia é nossa vizinha. É um Estado poderoso tanto economicamente como do ponto de vista militar. É um ator geopolítico no cenário mundial o que explica a necessidade de construir relações normais e amigáveis com esse poder. Além disso, as nossas relações são antigas e estamos ligados por séculos de contactos e de história. Isto também é muito importante e conseguimos, no âmbito do Estado de união, direitos praticamente iguais para os cidadãos bielorrussos e russos. Quanto às nossas relações com a Rússia, temos interesse em fortalecê-las , antes de mais, do ponto de vista comercial e económico. Queremos garantir direitos iguais para as entidades económicas da Bielorrússia e da Rússia no âmbito do Estado da União. Durante a reunião que mencionou, falou-se do fortalecimento do Estado da União, de uma maior integração, do desenvolvimento da cooperação industrial, da igualdade de preços para o gás e os hidrocarbonetos. E, claro, porque o reforça da soberania e da independência é benéfico para a Bielorrússia, pretendemos continuar a desenvolver processos de integração com a nossa vizinha Rússia. Além disso, devo dizer-lhe inequivocamente que as sanções da União Europeia e de outros países ocidentais contra a Bielorrússia só contribuem para o futuro desenvolvimento e para o reforço dos processos de integração numa base bilateral, e não apenas numa base bilateral, mas também numa base multilateral, em toda a área pós-soviética".

Acreditamos que só podemos ser bem sucedidos através do diálogo e com base sistema jurídico do país e não por meio de tentativas de fazer uma revolução ou de conquistar o poder nas ruas com manifestações.
Vladimir Makei
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia

euronews: Uma última pergunta, desculpe interrompê-lo, é muito curta. O que planeia fazer para restaurar a confiança do seu povo? Tem uma mensagem, hoje, para o povo da Bielorrússia?

Vladimir Makei: "Se segue de perto os acontecimentos na Bielorrússia sabe que essa mensagem foi transmitida ao povo, há muito tempo. Há um diálogo aberto e absolutamente inclusivo que visa a melhoria do processo constitucional e a introdução de alterações à constituição. Todos podem participar nesse processo. A 1 de agosto, teremos propostas de emendas à constituição, que serão apresentadas para que haja uma ampla discussão pública. Quem quiser participar nesse diálogo é bem-vindo. Acreditamos que só podemos ser bem sucedidos através do diálogo e com base sistema jurídico do país e não por meio de tentativas de fazer uma revolução ou de conquistar o poder nas ruas com manifestações. Só através deste tipo de diálogo poderemos ter sucesso e ter uma verdadeira democracia na República da Bielorrússia, uma democracia que não é imposta com paus, mas uma democracia que amadurece na mente dos cidadãos".

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