Wahid e Ahn (nomes fictícios) não escondem o pessimismo com os recentes acontecimentos no Afeganistão
Se em Cabul, ninguém sabe bem para onde caminha o Afeganistão, em Lisboa a angústia da dúvida é multiplicada pela distância que separa as duas cidades. Wahid e Ahn, nomes fictícios, são dois refugiados afegãos na capital portuguesa que acompanham com preocupação o regresso dos talibãs ao poder e receiam pelo futuro do seu país.
Um país que já não é o mesmo que testemunhou a primeira passagem dos extremistas pelo poder, entre 1996 e 2001. Wahid destaca o papel desempenhado pelas forças internacionais no terreno:
"A comunidade internacional ajudou muito. Por exemplo, a formar um novo governo, um novo exército, uma nova Constituição, a estabelecer um sistema de democracia, instituições para defender os direitos humanos... São os afegãos que têm de continuar, de manter estas conquistas. Agora que os talibãs chegaram estou preocupado em perder estas conquistas de 20 anos."
Um receio justificado, não só pelo passado dos talibãs mas também pelos relatos que chegam desde Cabul:
"Desta vez eles parecem mais fortes do que há 20 anos. Têm mais armas agora, têm acesso a tudo, aos veículos militares do país. Desta vez temos mais medo."
Ahn também não esconde o receio e admite que desde que os talibãs tomaram Cabul se encontra num estado de ansiedade permanente e tem muitas dificuldades para dormir. Lamenta que sejam sempre os mesmos a sofrer:
"As pessoas que têm dinheiro, saem. Por exemplo, o Presidente saiu do país. Pessoas como ele, que têm dinheiro, saem. Só morrem os pobres, sempre os pobres."
Quanto ao futuro do país, não consegue esconder o pessimismo:
"Não tem futuro o Afeganistão. Há 50 anos que o país está em guerra, até agora... não tem futuro. Sinto uma grande vergonha, o mundo inteiro olha para nós."