Rota mais perigosa do Mediterrâneo atrai cada vez mais pessoas

Migrantes privilegiam cada vez mais a rota mais perigosa do Mediterrâneo
Migrantes privilegiam cada vez mais a rota mais perigosa do Mediterrâneo Direitos de autor Francisco Seco/Copyright 2022 The AP. All rights reserved
Direitos de autor Francisco Seco/Copyright 2022 The AP. All rights reserved
De  euronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Medidas repressivas dos países do sul da Europa levam os migrantes a tentar a sua sorte precisamente na rota migratória mais mortífera do planeta

PUBLICIDADE

Desde o início do ano, mais de 1300 pessoas perderam a vida ou desapareceram a tentar chegar à Europa. Os números são cruéis e representam apenas os casos conhecidos, o número real é maior e irá continuar a crescer.

Apesar dos riscos, mais de 75 mil pessoas conseguiram completar a travessia. Itália, Espanha e Grécia são os três países mais afectados e, cada um à sua maneira, têm-se preocupado mais em impedir novas chegadas do que em salvar quem está suficientemente desesperado para se fazer ao mar.

euronews
Chegadas de migrantes à Europaeuronews

Itália adotou uma nova lei sobre a migração que limita o acesso ao estatuto de proteção especial e condiciona a ação dos navios de resgate no Mediterrâneo.

Espanha assinou um acordo histórico com Marrocos, que levou Pedro Sánchez a definir o país africano como "um aliado essencial para a nossa segurança e para uma migração ordenada”. Ma prática, transferiu o problema para Rabat e o episódio de junho de 2022 em Melilla, que provocou 23 mortes, é um triste exemplo.

Grécia reforçou consideravelmente as patrulhas marítimas, acusadas em várias ocasiões de não respeitar a lei internacional.

Malta, que apesar do menor volume de chegadas está no coração do Mediterrâneo, é acusada pela Amnistia Internacional de ignorar pedidos de resgate e proceder a detenções arbitrárias.

Crescem os apelos para a criação de rotas legais de migração, nomeadamente da ONU, mas Bruxelas tem optado por um rumo diferente, até porque conciliar as vontades dos 27 Estados-membros no que diz respeito à migração parece ser uma missão impossível.

A nova lei sobre a migração é um passo em frente mas não esconde o facto de que é cada vez mais difícil entrar em território europeu. O Mediterrâneo não é a única fronteira. Também por terra é cada vez mais difícil entrar e se em 2014 havia pouco mais de 300 quilómetros de muros ou vedações de arame farpado nas fronteiras europeias, hoje são mais de 2 mil.

As restrições impostas baixaram a utilização de praticamente todas as rotas, a excepção foi a rota do Mediterrâneo Central, precisamente a mais perigosa, que se tornou a privilegiada pelos migrantes.

euronews
Chegadas à Europa por rota migratóriaeuronews

Mais de metade das chegadas ao território europeu nos primeiros cinco meses do ano teve origem precisamente nessa rota. Mais de mil pessoas perderam a vida, juntando-se a uma longa lista, ou não fosse esta a rota migratória mais mortífera do planeta.

No coração desta rota está o porto tunisino de Sfax, onde as autoridades locais garantem que impediram 13 mil pessoas de fazer a travessia só nos primeiros três meses do ano.

O problema foi agravado pelo discurso do Presidente Kais Saied contra os migrantes subsaarianos, acusando-os de ameaçar a identidade demográfica do país e de serem responsáveis pela violência e criminalidade.

Como resultado, verificaram-se uma série de ataques racistas na Tunísia e aumentou também o fluxo migratório no país.

A solução da União Europeia passa pela promessa de dinheiro, mais de mil milhões de euros de assistência financeira a um país a atravessar uma grave crise económica, mas Saied tinha avisado à partida que não aceitaria que o seu país se tornasse no guarda fronteiriço de outros países.

A solução política para o problema da migração tarda em chegar. Para as mais de 27 mil pessoas que morreram ou desapareceram no Mediterrâneo desde 2014, chegará tarde demais.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Candidata do Renew Europe defende que é urgente dar armas à Ucrânia

Milhares voltam a manifestar-se na Geórgia contra a lei dos "agentes estrangeiros"

Eleições europeias: as questões nacionais estão a ofuscar as questões europeias?