Centenas de palestinianos, incluindo crianças, e muitos com passaportes estrangeiros continuam a concentrar-se em Rafah, à espera de poderem fugir da contraofensiva israelita ao Hamas
Centenas de palestinianos na Faixa de Gaza, muitos com passaportes estrangeiros, continuam a aguardar junto ao posto de fronteira de Rafah a autorização para entrarem no Egito e fugir da anunciada contraofensiva de Israel contra o Hamas, grupo considerado terrorista pela União Europeia.
O desespero aumenta e o ambiente começa a ferver.
Do lado do egípcio, muitos camiões com ajuda humanitária enviada de diversos países começam também a amontoar-se, à espera da autorização para entrar na Faixa de Gaza e distribuir os bens essenciais que são cada vez mais escassos num território sem abastecimentos nem eletricidade há uma semana, e também sem água na larga maioria desta faixa litoral palestiniana sob bloqueio de Israel.
Os palestinianos que deixaram as respetivas casas estão a procurar abrigo em escolas e hospitais geridos pela ONU, mas em especial nas instalações de saúde as condições de ajuda estão a deteriorar-se rapidamente.
Alguns hospitais asseguram mesmo já estar à beira do colapso, com os respetivos geradores de eletricidade com menos de um dia de combustível para funcionar e os medicamentos armazenados perto do fim.
Um cessar-fogo e a abertura da fronteira chegaram a ser anunciadas esta segunda-feira pela manhã, mas foram desmentidos tanto por Israel como pelo Hamas. Mais tarde, o Egito disse estar ainda a aguardar o acordo de Israel para abrir a fronteira, fechada há uma semana devido ao agravar do conflito.
O posto fronteiriço de Rafah foi alvejado diversas vezes pela artilharia israelita depois do ataque de 7 de outubro do Hamas, que terá feito só nesse sábado mais de mil mortos e despertado de imediato uma sede vingança no governo de Benjamin Netanyahu, um dos maiores defensores da política de colonatos na Cisjordânia.
A contraofensiva, aliás, foi quase imediata e fez-se sentir em centenas de bombardeamentos sobre a Faixa de Gaza, onde vivem 2,4 milhões de pessoas e onde o movimento paramilitar palestiniano se encontra barricado e fortemente armado.
Perante a pressão internacional, e nomeadamente do maior aliado, os Estados Unidos, Israel tem protelado a anunciada contraofensiva "coordenada entre terra, ar e mar" sobre Gaza.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, está de novo em Israel após um périplo pela região, reiterou o apoio da Casa Branca ao Estado hebraico e ao direito, "aliás, a obrigação de se defender a si e ao seu povo", mas não só.
"Os Estados Unidos esto ativamente a trabalhar para garantir que o povo de Gaza possa fugir do perigo e para que a ajuda necessária, comida, água e medicamentos, possa entrar [em Gaza]", expressou Blinken pelas redes sociais.
Até a Rússia, que mantém a invasão na Ucrânia e o bombardeamento diário de zonas civis, apelou a um cessar fogo. Vladimir Putin é um conhecido aliado do Irão e, por arrasto, do Hamas, grupo protegido há anos pela República islâmica.
Para mitigar eventuais vítimas civis e uma calamidade humanitária, prevista pela ONU, o governo hebraico tem vindo a prolongar o prazo concedido para os residentes da Cidade de Gaza, no norte do território, se desloquem para o sul, tendo inclusive reaberto o fornecimento de água a partes da região de Khan Younis para tentar atrair o máximo de civis para aquela zona mais próxima do Egito.
O habitual fornecimento de água, eletricidade e combustíveis para a Faixa de Gaza, sob um bloqueio israelita há mais de 15 anos, foi cortado logo no início da invasão para tentar reduzir a capacidade de resposta do Hamas à prometida contraofensiva.
Mais de um milhão de pessoas já se terão deslocado do norte para o sul enclave palestiniano, estimam as Nações Unidas, e o número de pessoas que pretendem mesmo deixar a Faixa de Gaza, e se encontram bloqueadas, tem vindo a aumentar junto às grades da fronteira de Rafah. Entre eles, há muitas crianças.
O ataque do Hamas a Israel e a consequente contraofensiva sobre a Faixa de Gaza já provocaram a morte de mais de quatro mil pessoas.
Pelo menos 1.300 pessoas morreram do lado israelita e mais de 2.700 vítimas dos bombardeamentos indiscriminados sobre Gaza. Tudo em 10 dias.