A escrita é um momento solitário em que o objetivo final é partilhar ideias e sentimentos com o maior número de leitores possível.
Para muitos escritores, é um sonho ter um livro traduzido e chegar a um público internacional. Mas quando a língua em que se escreve é pouco falada, fora do seu país, é muito mais difícil levar as palavras a viajarem pelo mundo.
Geração Ípsilon foi até Riga, na Letónia, para conhecer Inga Zolude, uma das vencedoras do Prémio de Literatura da União Europeia.
“Penso que vale a pena interessar-se pela literatura letã porque é uma literatura única, diferente e de alta qualidade. Espero que o momento em que a nossa literatura for descoberta, de forma mais alargada, aconteça em breve”, explica Inga Zolude.
E é esse mesmo o objetivo do prémio europeu: estimular a circulação das obras literárias num continente onde a diversidade de línguas pode ser um obstáculo ao intercâmbio cultural.
Os vencedores são escolhidos por júris nacionais.
Não há processo de candidatura. Tanto o escritor como o editor são surpreendidos pela notícia.
Antes de mais, o prémio internacional ajuda o escritor a tornar-se conhecido no seu próprio país. Por exemplo, Inga Zolude ganhou, recentemente, um galardão na Letónia.
Chegar ao público internacional é uma tarefa mais complexa, como adianta a editora Dace Sparāne-Freimane:
“O primeiro problema é a tradução porque o letão não é uma das línguas mais conhecidas da União Europeia. Por isso, o primeiro problema é encontrar tradutores e depois o apoio financeiro para a tradução”.
Um romance traduzido, por enquanto, continua a ser um sonho. Mas o projeto está em marcha. A editora e tradutora americana Suzanne McQuade viveu na Letónia e deseja partilhar tudo o que aprendeu:
“São nações pós-soviéticas e as pessoas têm uma visão desses países que não corresponde à realidade. Penso que é importante olhar para os novos autores, porque eles dão-nos uma perspetiva totalmente nova”.
A tradução é apenas o primeiro passo. O mais difícil é encontrar uma editora interessada em publicar o livro.
Suzanne McQuade deseja convencer uma editora a candidatar-se às bolsas de tradução da União Europeia. Os vencedores do prémio têm preferência no processo de seleção.
É extremamente difícil, para um autor não-anglófono, vingar no mercado de língua inglesa.
“Os leitores ingleses tendem a não ler literatura traduzida. Outro problema é o facto de os autores estrangeiros serem pouco publicados em Inglês. Acho que é importante os editores apostarem mais na tradução de literatura de outros países”, explica McQuade.
Geração Ípsilon falou com o diretor do Centro de Literatura da Letónia. O encontro decorreu mesmo em frente ao novo edifício da Biblioteca Nacional, símbolo da vitalidade cultural da cidade.
Janis Oga, responsável pela promoção internacional da literatura letã, defende a importância dos apoias europeus à tradução, mas admite que a burocracia é um obstáculo:
“Nas pequenas editoras há muito poucas pessoas e poucos funcionários. Normalmente, são geridas por criativos, poetas e escritores. Quando se trata de cumprir o formulário de inscrição com mais de duas páginas pode ser um verdadeiro desafio para eles”.
Um desafio que vale a pena superar já que muitas vezes são as pequenas editoras que revelam ao público pérolas desconhecidas da literatura internacional.
E quando as palavras se tornam compreensíveis, há muito a descobrir. Todos os anos, o Prémio de Literatura da União Europeia, galardoa e ajuda a traduzir doze novos autores.
“Penso que a arte e a literatura, se for traduzida, é uma linguagem universal”, afirma Inga Zolude.
Os três livros de Inga Zolude ainda não foram publicados fora da Letónia, mas é possível ler excertos de dois deles em francês, inglês e alemão no sítio de Geração Ípsilon.
Por enquanto, a escritora assinou acordos para publicar os romances na Bulgária, República Checa e Dinamarca.