A Polónia e a Bulgária podem dispensar o gás russo durante alguns meses: até ao próximo Inverno

Bulgária procura alternativas ao gás russo
Bulgária procura alternativas ao gás russo Direitos de autor AP Photo/Sergei Grits
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A Polónia e a Bulgária podem dispensar o gás russo durante alguns meses, até ao próximo Inverno

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A decisão da Rússia de cortar o fornecimento de gás à Polónia e à Bulgária ocorre em plena Primavera. O verdadeiro desafio vai ser encontrar alternativas para o consumo de energia da indústria antes do próximo inverno.

A decisão da Gazprom, anunciada aos dois estados membros da UE na terça-feira à noite, foi descrita como "chantagem" pela presidente da Comissão Europeia. Ursula von der Leyen afirmou que se trata de "lembrete forte" de que o bloco precisa de "parceiros fiáveis para construir a sua independência energética".

A responsável europeia procurou minimizar as consequências da decisão russa, sublinhando que os países vizinhos se intensificaram para fornecer gás à Polónia e à Bulgária. As autoridades da Bulgária e da Polónia quiseram igualmente transmitir um sentimento de tranquilidade. O primeiro-Ministro da Bulgária, Kiril Petkov, elogiou o plano para a conclusão do gasoduto  Interconnector Greece - Bulgaria(IGB), que fornecerá ao país sobretudo gás do Azerbaijão. Por seu turno, a ministra polaca do Clima e Ambiente, Anna Moskwa, salientou que devido às reservas existentes "haverá gás nos lares polacos".

O Inverno polaco "vai ser difícil"

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o carvão representou um pouco mais de 40% do cabaz energético da Polónia em 2020, seguido pelo petróleo (cerca de 30%) e do gás natural (cerca de 18%). O restante provém de biocombustíveis e resíduos e de outras fontes de energias renováveis, incluindo energia eólica e solar.

No entanto, a Polónia gera menos de metade (46%) da energia consumida no país.

O país produz cerca de 80% do carvão que consome, mas, possui apenas 20% do gás e 3% do petróleo utilizados. O resto é importado. Cerca de metade do gás e quase dois terços das importações de petróleo da Polónia provêm da Rússia, segundo o grupo de reflexão Forum Energii.

Quando a decisão da Gazprom foi anunciada, Anna Moskwa afirmou que Varsóvia se tinha preparado para um cenário de corte e que "graças a investimentos em infraestruturas, tais como o Tubo Báltico ou ligações com outros Estados-Membros da UE, o sistema de gás polaco é capaz de abandonar completamente os fornecimentos da Rússia". A responsável acrescentou que as reservas de gás representavam 76% da capacidade.

Joanna Maćkowiak Pandera, presidente do Forum Energii, disse à Euronews que "a decisão da Gazprom não irá afectar a produção de electricidade" na Polónia.

"O maior problema diz respeito à indústria, que é o maior consumidor de gás na Polónia, 42%. Depois, vêm as famílias e o setor do aquecimento. O Inverno ao nível do aquecimento será certamente difícil", sublinhou presidente do Forum Energii.

O Tubo Báltico concebido para transportar gás natural da Noruega até à Polónia através da Dinamarca, ainda não está concluído. Espera-se que forneça anualmente 10 mil milhões de metros cúbicos de gás à Polónia, cerca de metade do consumo total do país.

Deverá começar a funcionar a 1 de Outubro, embora com volumes inferiores ao previsto e deverá estar totalmente operacional a partir de 1 de Janeiro de 2023, numa altura em que o inverno já estárá bem instalado no Velho Continente.

Bulgária extremamente dependente da Rússia

O carvão é a principal fonte de energia da Bulgária, seguido de perto pelo petróleo e pelo nuclear. O gás natural representa apenas 10-15% do mix energético búlgaro. O restante é fornecido por biocombustíveis, energia hidroeléctrica, eólica e solar.

Mas, pelo menos três quartos das importações de gás da Bulgária provêm da Rússia, e o gás é fundamental para a indústria ", disse à euronews Martin Vladimirov, diretor do Programa de Energia e Clima do Centro para o Estudo da Democracia.

"Um terço da procura de gás búlgaro provém da maior refinaria do sudeste da Europa (propriedade da Rússia), das fábricas de fertilizantes, das fábricas de vidro e dos produtores petroquímicos. Sem um abastecimento de gás alternativo estável e consistente, seria difícil para a Bulgária assegurar as necessidades de consumo de gás da indústria. O racionamento, bem como os cortes de produção não podem ser descartados", acrecentou o responsável.

De acordo com Vladimirov, as reservas de gás da Bulgária não ultrapassam os 17% da capacidade máxima. “A manter-se a atual taxa de retirada de cerca de quatro milhões de metros cúbicos por dia, não será possível cobrir totalmente a procura interna de gás durante mais de duas a três semanas".

Gasoduto IGB vai reduzir dependência búlgara mas ainda não está pronto

As autoridades do país apostam no Gas Interconnector Greece - Bulgaria (IGB). O gasoduto deverá permitir à Bulgária ligar-se ao Corredor Sul do Cáspio, uma rota de abastecimento de gás natural que atravessa a Turquia, a Geórgia e o Azerbaijão até aos terminais da Grécia e Itália.

Mas é pouco provável que o IGB comece a funcionar antes de as temperaturas baixarem.

"É provável que as obras de construção terminem em Setembro e depois há um processo de certificação de 3 meses", disse Vladimirov.

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No entanto, quando as torneiras do IGB estiverem totalmente abertas, haverá um "efeito transformador na segurança do fornecimento de gás à Bulgária", referiu Vladimirov. Está previsto o fornecimento de mil milhões de metros cúbicos de gás por ano.

No entanto, é provável que "a Bulgária tenha de procurar alternativas adicionais, inclusive por meio da assinatura de contratos de fornecimento de GNL (gás natural liquefeito) a longo prazo com os Estados Unidos, o Qatar ou a Argélia", acrecentou Vladimirov.

"Como medida imediata, o governo búlgaro deveria assinar acordos de solidariedade com a Grécia e a com a Roménia para fornecimento de gás, uma vez que o fornecimento russo ao mercado do sudeste europeu diminui", aconselhou o especialista.

O potencial dos Estados Unidos, do Qatar e da Coreia do Sul

A UE prometeu cortar as importações de gás russo em dois terços até ao final do ano, duas semanas após Moscovo ter lançado um ataque militar contra a Ucrânia.

Bruxelas concluiu um acordo com Washington no final do mês passado para que os Estados Unidos aumentassem as entregas de gás natural liquefeito em 15 mil milhões de metros cúbicos este ano para compensar a perda de gás da Rússia. Espera-se que os Estados Unidas forneçam mais 50 mil milhões de metros cúbicos de GNL até 2030.

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Bruxelas comprometeu-se a acelerar os investimentos para diversificar o chamado mix energético, incluindo em energias renováveis, mas também em terminais que possam receber GNL de países como o Qatar, a Coreia do Sul e Israel.

Esses terminais poderão mais tarde ser reequipados para o hidrogénio, que constitui um elemento chave do Pacto Ecológico Europa. A UE quer ser “o primeiro continente neutro em carbono até 2050”.

Esta quarta-feira, von der Leyen garantiu que o bloco dos 27 está a trabalhar para "assegurar o fornecimento alternativo de gás de outros parceiros", sublinhando que a decisão da Gazprom é "um forte lembrete de que precisamos de trabalhar com parceiros fiáveis".

Segundo a Comissão Europeia, a UE tem potencial para importar mais 50 mil milhões de metros cúbicos de GNL por ano.

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