Mal-estar na UE após encontro entre Orbán e Putin na China

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, encontrou-se com o Presidente russo, Vladimir Putin, para conversações pessoais na China.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, encontrou-se com o Presidente russo, Vladimir Putin, para conversações pessoais na China. Direitos de autor Grigory Sysoyev/Sputnik
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De  Jorge LiboreiroAlice Tidey
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Artigo publicado originalmente em inglês

As imagens do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e do Presidente russo, Vladimir Putin, a apertarem as mãos na China causaram mal-estar em Bruxelas, numa altura em que se multiplicam as preocupações com as fracturas na unidade do Ocidente.

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A reunião bilateral entre os líderes húngaro e russo teve lugar na terça-feira, à margem de um fórum internacional organizado pelo presidente chinês Xi Jinping, em Pequim, para celebrar a Iniciativa "Nova rota da seda", um vasto projeto de infra-estruturas que envolve mais de 150 países.

As conversações entre Orbán e Putin centraram-se nas "áreas do fornecimento de petróleo e gás, bem como da energia nuclear", de acordo com uma breve nota divulgada pelo Governo húngaro.

"O primeiro-ministro Orbán sublinhou a importância da paz, afirmando que o fim do fluxo de refugiados, das sanções e dos combates é fundamental para todo o continente, incluindo a Hungria", refere o comunicado.

O encontro foi mal recebido em Bruxelas, de acordo com diplomatas de diferentes países que falaram sob condição de anonimato. A questão foi discutida durante uma reunião de embaixadores, na quarta-feira, em que alguns representantes pediram esclarecimentos ao seu homólogo húngaro.

"Não foi muito bem recebido, digamos assim", disse um diplomata, referindo-se a Putin como uma fonte de "todo o tipo de problemas" para o bloco. O sinal que envia não é positivo".

"Nem toda a gente ficou satisfeita", disse um segundo diplomata. "Não é nada de novo. Ele tem desempenhado o papel de enfant terrible da UE durante alguns anos".

Vladimir Putin é um presidente sujeito a sanções da UE, acusado, entre outras coisas, de cometer crimes de guerra contra a população ucraniana, de utilizar como arma o fornecimento de energia para causar estragos económicos, de levar a cabo incessantes campanhas de desinformação para desestabilizar os sistemas democráticos liberais e de prosseguir uma agenda neo-imperialista.

Putin é, inclusive,alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional (TPI) pela deportação e transferência ilegal de crianças ucranianas.

Orbán, por seu lado, é o líder de um Estado-membro da UE que deveria seguir as estratégias comuns acordadas pelo Conselho Europeu, do qual faz parte. Antes de se encontrar com Putin, o primeiro-ministro húngaro informou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que "o desaconselhou vivamente", segundo o porta-voz de Michel.

"É crucial que todos se mantenham fiéis à política que temos. Se há um líder que se encontra com Putin, isso não está claramente de acordo com a política", disse um terceiro diplomata.

Perigo de fuga de informação confidencial?

Embora Orbán tenha sido criticado várias vezes por bloquear ou diluir a ação colectiva europeia de uma forma que parecia favorecer os interesses da Rússia, este encontro levantou preocupações sobre possíveis violações de segurança.

Os diplomatas baseiam-se em informações confidenciais para conduzir negociações e tomar decisões. A proteção das comunicações é particularmente importante em temas altamente sensíveis, como as sanções, a defesa, a energia e a tecnologia.

"Quando nos reunimos no Conselho, esperamos que todos respeitem as regras e ajam de boa fé. Imagens como esta não fortalecem, para dizer o mínimo, a imagem de todos nós num ambiente confortável, partilhando informações uns com os outros. Tenho a certeza de que há colegas que se interrogam sobre o que está a sair da sala", disse uma das fontes da euronews.

No entanto, outro diplomata minimizou o risco, dizendo que "não havia a sensação de um cavalo de Troia", apesar das divergências persistentes sobre a guerra na Ucrânia.

O governo de Budapeste bloqueou, durante meses, uma tranche de 500 milhões de euros de assistência militar da UE ao governo de Kiev, um impasse que se tornou um ponto de fricção em Bruxelas.

O veto começou no início de maio, depois de a Agência Nacional de Prevenção da Corrupção (NACP) da Ucrânia ter incluído o OTP Bank, o maior banco húngaro, na sua lista de "patrocinadores internacionais da guerra". Budapeste classificou a medida como "inaceitável" e "ultrajante" e exigiu uma retratação em troca da ajuda da UE.

Após meses sem progressos, a NACP tomou no início deste mês a decisão de retirar permanentemente o banco da lista. Mas a concessão não conseguiu fazer a Hungria mudar de ideias e o veto mantém-se até hoje.

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"Há várias questões que ainda estão a ser discutidas", disse um alto funcionário das instituições da UE, sem entrar em pormenores: "Esperamos, francamente, que mais cedo ou mais tarde cheguemos a um acordo. Ainda estamos a trabalhar nisso".

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