Outrora um ponto de convergência política, o Pacto Ecológico Europeu é agora uma fonte de crispação dentro da União Europeia (UE). O projecto emblemático da Comissão Europeia para um modelo económico menos poluente está sob crescente ataque, de que são exemplos alguma batalhas legislativas recentes.
A batalha para aprovar a Lei de Recuperação da Natureza, a polémica prorrogação do herbicida glifosato por mais 10 anos, a rejeição de um regulamento para diminuir o uso de pesticidas e o adiamento de legislação mais moderna sobre produtos químicos são exemplos de que a apetência por uma grande ambição na política climática da UE poderá estar a arrefecer.
Para a bancada dos verdes no Parlamento Europeu, a atmosfera internacional está a perturbar o objetivo da UE de obter a neutralidade de emissões poluentes, nomeadamente de C02, até 2050.
“As pessoas dizem que são demasiadas crises: a guerra, ainflação, o receio de perder o emprego e que não haverá quem cuide dos idosos porque as nossas sociedades estão a envelhecer", Jutta Paulus, eurodeputada alemã dos verdes, em entrevista à euronews.
"Todas estas questões juntas, acompanhadas de ataques populistas através das redes sociais e da difusão de notícias falsas, formam uma mistura tóxica de rejeição do Pacto Ecológico", explicou Paulus.
A UE adotou, rapidamente, variada legislação para promover a energia com base em fontes renováveis e não poluentes e para promover a eficiência energética. Também criou novos impostos sobre a importação de produtos em moldes mais poluentes e tem uma estratégia para abandonar os motores de combustão nos veículos.
Foram adotadas uma dúzia de leis para cumprir a meta de reduzir as emissões de CO2 em 55% até 2030. Mas a paisagem política parece agora menos favorável a uma abordagem progressista.
"Por vezes, exageramos, ou a maioria no Parlamento Europeu exagerou, não dando às populações opção de escolha, mas tomando decisões muito prescritivas a nível europeu, o que nunca é uma boa ideia", referiu Peter Liese, eurodeputado alemão do centro-direita, à euronews.
"Quando fazemos tudo o que os Verdes querem, corre-se o risco de não alcançar as metas climáticas ou de perder muitos empregos e competitividade. Ambas as coisas não são boas. Devemos estabelecer prioridades, não devemos exagerar e devemos ter o apoio das populações", sugere o eurodeputado.
Duas ambições em paralelo
Alguns setores industriais, empresas e a comunidade agrícola consideram que o cumprimento das regulamentações ambientais acarreta um fardo adicional. Apesar destes ventos contrários, a Comissão Europeia pretende manter o rumo.
"Temos realmente de fazer duas coisas. Uma é continuar com a nossa ambição climática porque a realidade é que as alterações climáticas estão à porta de todos", afirmou Wopke Hoekstra, comissário europeu para a Ação Climática.
"Dito isto, precisamos e garantir boas perspetivas para os cidadãos e empresas, isto é, fazer mais para garantir que as empresas podem continuar a evoluir e que as pessoas vêem um futuro brilhante à frente, mesmo que as circunstâncias possam mudar", acrescentou o comissário, em declarações à euronews.
A proteção do clima é mais do que apenas uma questão ambiental, tem grande impacto na posição geopolítica da UE, face à corrida industrial pelas tecnologias mais ecológicas por parte de potências tais como a China e os Estados Unidos.
As próximas negociações europeias para definir metas ambientais intercalares para 2040 serão, portanto, um indicador da ambição do bloco de 27 países neste domínio.