Diploma europeu tem muita ambição e nenhum financiamento

O Vice-Presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, e a Comissária Europeia para a Educação, Iliana Ivanova, apresentam o projeto de um diploma europeu
O Vice-Presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, e a Comissária Europeia para a Educação, Iliana Ivanova, apresentam o projeto de um diploma europeu Direitos de autor Jennifer Jacquemart/CCE
Direitos de autor Jennifer Jacquemart/CCE
De  Mared Gwyn Jones
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied
Artigo publicado originalmente em inglês

A Comissão Europeia revelou planos para criar um diploma europeu para o nível universitário que será reconhecido em toda a UE, mas sem financiamento próprio.

PUBLICIDADE

A proposta prevê que as universidades dos 27 países da UE se associem para oferecer programas de estudo conjuntos a nível de licenciatura, mestrado ou doutoramento, que darão origem aos chamados "diploma europeus" reconhecidos em todo o bloco, segundo foi apresentado, na quarta-feira, em conferência de imprensa, em Bruxelas .

O sistema estará aberto a instituições públicas e privadas dos Estados-membros da UE, com a possibilidade de as universidades dos países parceiros do programa Erasmus+ também aderirem.

O vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirmou estar "convencido" de que o diploma europeu é a "próxima grande novidade" em termos de tornar os benefícios da integração europeia tangíveis para os cidadãos.

"Não tenho dúvidas (...) de que, dentro de alguns anos, o Diploma Europeu encontrará o seu lugar ao lado do espaço Schengen, do Erasmus, do mercado único e do euro, como realizações europeias concretas", disse Schinas.

A comissária europeia para a Educação e Juventude, Iliana Ivanova, disse que o plano era uma resposta às exigências dos estudantes, das universidades e dos empregadores e que iria aumentar a competividade, "assegurando o lugar da Europa na corrida mundial ao talento".

Mas, apesar do seu entusiasmo, a dupla teve dificuldade em explicar a necessidade dos novos diplomas ou como funcionariam na prática. 

Atualmente, não existe um reconhecimento automático dos diplomas académicos em toda a UE, o que significa que os estudantes têm de se submeter a procedimentos complexos e dispendiosos para que os seus documentos sejam reconhecidos noutro país.

Ao contrário de uma noção elitista, o programa é inclusivo e está aberto a qualquer pessoa, a qualquer universidade, de qualquer Estado-membro.
Iliana Ivanova
Comissária europeia para a Educação e Juventude

Schinas afirmou que o projeto não se destina a "substituir o reconhecimento de diplomas ou qualificações profissionais" de uma única instituição, mas sim a oferecer uma "via opcional" de um diploma europeu. A perspetiva de obter um diploma europeu em vários Estados-membros poderá atrair mais talentos de países terceiros.

Sem novo financiamento

Para obter um diploma europeu, os estudantes terão de estudar em universidades de pelo menos dois Estados-membros diferentes, mas não será libertado qualquer orçamento adicional para os ajudar a fazê-lo.

"O que estamos a fazer é o contrário  de uma abordagem elitista", afirmou Schinas, que explicou que não se cria uma determinada classe de universidades, em países selecionados.

"Ao contrário de uma noção elitista, o programa é inclusivo e está aberto a qualquer pessoa, a qualquer universidade, de qualquer Estado-membro", acrescentou Ilianova.

"As universidades não europeias da Ivy League estão verdadeiramente interessadas nos diplomas europeus, porque vêem nisto uma oportunidade para subirem na hierarquia", acrescentou Schinas.

Bruxelas acredita que o programa irá complementar o Erasmus+, sem dúvida a iniciativa mais popular e reconhecida da UE, que permite aos estudantes estudar ou trabalhar nas universidades de outros países europeus que não o de origem. 

O bloco investiu 26,2 mil milhões de euros no Erasmus durante o período 2021-2027, com os estudantes a receberem até 390 euros, por mês, em bolsas financiadas pela UE para os ajudar a estudar no estrangeiro.

Os futuros estudantes poderão utilizar o financiamento Erasmus para os ajudar a obter o Diploma Europeu, disse Schinas.

Dúvidas sobre o apoio nacional

De acordo com a iniciativa da Comissão, as universidades inscrever-se-iam no sistema numa base puramente voluntária e não receberiam qualquer novo financiamento. No entanto, as universidades poupariam ao partilharem os seus recursos.

O sistema envolve duas fases:

  • A primeira consiste num rótulo europeu que constituiria um selo de aprovação para demonstrar que um programa de estudos conjunto cumpre os requisitos do diploma europeu.
  • A segunda é um diploma europeu de pleno direito que seria atribuído conjuntamente por várias universidades de diferentes Estados-membros. Para tal, seria necessário que os Estados-membros alterassem a sua legislação nacional.

A Associação Europeia de Universidades congratulou-se com o projeto da Comissão, mas afirmou que o seu sucesso "depende, antes de mais, da aplicação, em toda a Europa, das ferramentas e dos instrumentos relacionados com os programas conjuntos que já existem".

PUBLICIDADE

A apresentação da proposta é apenas um primeiro passo para o desenvolvimento de um plano global. O trabalho intensificar-se-á no segundo semestre deste ano, disse um funcionário da UE, o que significa que o assunto ficará nas mãos da presidência húngara do Conselho da UE.

Atualmente, mais de 30 institutos húngaros estão suspensos do programa emblemático Erasmus+ da UE devido a preocupações com a sua autonomia em relação ao governo.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Cinco das dez melhores universidades do mundo em 2024 estão na Europa

Hungria reverte medidas para recuperar fundos da UE para universidades

Brexit leva estudantes Erasmus a optar pelos Países Baixos