Os países da União Europeia que possuem sistemas de defesa aérea estão a ser pressionados para aumentar a sua ajuda à Ucrânia, naquele que foi um dos temas centrais da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, segunda-feira, no Luxembrugo.
A questão da assistência para defesa aérea adquiriu urgência depois de a Rússia ter renovado intensos ataques com drones e mísseis contra a Ucrânia, destruindo infra-estruturas críticas e edifícios residenciais e matando dezenas de civis.
Durante uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, aumentou a pressão política, pedindo a entrega das baterias de defesa aérea e das munições.
"Precisamos de chamar a atenção para a capacidade dos Estados-membros da União Europeia para aumentar o apoio à Ucrânia", afirmou Borrell à chegada para a reunião.
"Precisamos de fornecer intercetores às baterias que já existem e aumentar o número de baterias. E vamos ver o que os Estados-membros são capazes de fazer para fornecer. Porque nós, em Bruxelas, não temos", acrescentou.
O governo da Alemanha disse que enviaria, este mês, uma terceira bateria Patriot (um sistema avançado fabricado nos EUA que pode intercetar projéteis) e criou uma iniciativa para encorajar outros países a doar defesas aéreas adicionais. No entanto, a promessa de Berlim não foi seguida de compromissos por mais países.
O presidente ucraniano, Volodymr Zelenskyy, avisou que a Rússia iria em breve expandir os ataques aéreos e pediu pelo menos mais sete sistemas Patriot, ou equipamento semelhante.
"Não excluímos que as infra-estruturas das nossas outras centrais nucleares e as redes de distribuição também estejam ameaçadas pelo terror russo", disse Zelenskyy aos líderes da UE, na semana passada.
"Só é possível travar esta situação através da defesa aérea - através de sistemas específicos como o Patriot, o IRIS-T, o SAMP-T, o NASAMS... Sistemas que vocês têm. São necessários na Ucrânia neste momento - necessários para impedir que Putin recorra a métodos terroristas", acrescentou o presidente.
Pressão sobre donos de Patriot
Esta situação aumentou o escrutínio sobre os governos da Espanha, Grécia, Países Baixos e Roménia, os outros Estados-membros da UE que possuem sistemas Patriot. Para além da sua eficácia comprovada, estes sistemas têm a vantagem de serem familiares ao exército ucraniano. No entanto, podem demorar até dois anos a ser fabricados, o que torna mais difícil a sua substituição a curto prazo.
A Polónia também tem dois sistemas Patriot, mas são necessários para a defesa do país, que faz fronteira com a Ucrânia e com o enclave russo de Kaliningrado.
A ministra dos Negócios Estrangeiros neerlandesa, Hanke Bruins Slot, afirmou que o seu país está a analisar "todo o tipo de possibilidades" e manifestou o seu apoio à nova iniciativa da Alemanha. Mas advertiu que seria "difícil" esgotar as reservas do país.
Questionado sobre se a Espanha iria contribuir, o ministro José Manuel Albares Bueno evitou uma resposta direta e disse que a Espanha estaria "sempre" ao lado da Ucrânia.
"Estamos muito conscientes da necessidade de sistemas de defesa aérea e, em particular, de sistemas Patriot. A Espanha fez sempre tudo o que estava ao seu alcance", acrescentou.
Pacote dos EUA em boa hora
A reunião ocorreu pouco depois de o Congresso dos EUA ter aprovado, ao fim de muitos meses de impasse, o projeto de lei que liberta 61 mil milhões de dólares (57,4 mil milhões de euros) para fornecer equipamento de guerra à Ucrânia.
O avanço foi recebido com mensagens de celebração pelos líderes da UE, que se têm esforçado por compensar a ausência de apoio norte-americano e receiam que a escassez enfrentada pelas forças armadas ucranianas possa fortalecer a Rússia.
Mas o facto de a ajuda dos EUA estar de volta não significa que a UE deva recuar e reduzir os seus esforços, alertaram os ministros.
"Nesta altura, podemos dizer que nos desviámos de uma bala histórica, mas, infelizmente, muitas mais balas estão a caminho. Por isso, podemos alegrar-nos por um dia, mas temos de estar preparados para a batalha que se avizinha amanhã. Não podemos baixar os braços, não podemos parar a assistência", afirmou o lituano Gabrielius Landsbergis.
O Ministro da Defesa da Suécia, Pål Jonson, fez eco do apelo, apontando a evolução da guerra e os pequenos avanços efetuados pelas tropas russas nas últimas semanas: "O desafio está agora nas forças terrestres, a trajetória está a ir na direção errada", disse aos jornalistas.
A NATO também discutiu a questão, na semana passada, durante uma reunião por videoconferência, com representantes ucranianos. O secretário-geral, Jens Stoltenberg, afirmou que os aliados "planearam" as capacidades atuais dos sistemas aéreos e que seriam feitos novos anúncios "em breve".