Futuro da energia na Europa: o plano para acabar com os combustíveis fósseis russos

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De  Naomi Lloyd
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A pressão aumenta para a Europa acabar com a dependência face aos combustíveis fósseis russos, mas quão realistas são os planos da UE para o conseguir colocar em prática até 2027?

A Europaprometeu reduzir a dependência face aos combustíveis fósseis russos até 2027, através do aumento das energias renováveis. Esta transição, que deixa de fora o petróleo e o gás já era um objetivo-chave antes da guerra na Ucrânia, uma vez que a UE pretende passar a ter um impacto climático neutro até 2050. Mas quão realistas e acessíveis são os planos que têm sido traçados até ao momento?

Independência Energética

A Europa precisa de reduzir a dependência face aos combustíveis fósseis russos e de combater as alterações climáticas.

A Comissão Europeia apresentou um plano de ação, REPowerEU, para acabar com a dependência até 2027, o que inclui o aumento e a aceleração das energias renováveis.

Vai custar 210 mil milhões de euros e é necessário um grande investimento para que isso venha a acontecer. É aqui que o InvestEU, o principal programa de investimento da União Europeia, entra em ação.

A trabalhar em parceria com o Banco Europeu de Investimento, tem uma garantia de 26 mil milhões de euros da UE, o que tranquiliza os investidores e espera-se que traga mais de 370 mil milhões de euros em financiamento público e privado.

Os investimentos concentram-se em quatro áreas: investimento sustentável, inovação, inclusão social e criação de emprego. Estima-se que pelo menos 30% deva contribuir para tornar a Europa neutra ao nível do carbono.

Plano de energia solar

Parte do plano REPowerEU consiste em duplicar a capacidade de energia solar da Europa nos próximos dois anos e meio. Espanha é um dos países onde a InvestEU está a financiar centrais solares.

Entre Valladolid e Salamanca, existem painéis solares de perder de vista. Neste local, há sete centrais solares, construídas desde 2020, em parte graças ao InvestEU.

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Em Espanha, existem várias centrais solares entre Valladolid e Salamanca.Euronews

Silvia Alonso Guijarro, da empresa de energia solar, Solaria, explicou à Euronews porque é que Espanha é um bom local para ter painéis solares.

"Espanha é um ótimo local para construir estes painéis solares, estas centrais solares porque somos um dos países que tem mais horas de sol por ano. Estas sete centrais solares fotovoltaicas têm uma capacidade de 261 megawatts, o que significa que produzem 477 giga-watts/hora de energia por ano", disse.

O Banco Europeu de Investimento tem desempenhado um papel crucial no financiamento deste projeto. Do total de 189 milhões de euros, providenciou 54 milhões sob a forma de empréstimo ou de um mecanismo de garantia e serviu como intermediário para mais 14 milhões. Isto significa que mais de um terço do custo total já estava coberto. O suficiente para tranquilizar os investidores privados, que finaciaram 89 milhões.

O chefe do gabinete espanhol do Banco Europeu de Investimento, Fernando Torija, diz que tais garantias são fulcrais.

"Estamos a apostar no futuro destas empresas. Isto diz algo aos outros investidores, que talvez estejam a investir na empresa, quer sejam financiadores, quer sejam acionistas e coloca a empresa no mapa, dizendo, ‘tenho um selo de qualidade do Banco Europeu de Investimento’, salientou.

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Fernando Torija, chefe do gabinete espanhol do Banco de Investimento EuropeuEuronews

O objetivo original do InvestEU era financiar uma recuperação económica que fosse verde e digital, mas com a guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia, este tipo de programa pode agora ajudar com esforços europeus para acabar com a dependência do gás e petróleo russos.

O CEO da Solaria, Darío López Clemente, explicou-nos que a empresa e o Banco Europeu de Investimento estão a trabalhar em conjunto nos planos de desenvolvimento de várias outras centrais solares em Espanha.

"A nossa intenção é continuar a desenvolver projetos. Estamos também a trabalhar com o Banco Europeu de Investimento para um maior pacote de financiamento. Penso que a crise na Ucrânia colocou em cima da mesa as reais necessidades da Europa. Estamos absolutamente dependentes de outras fontes de energia que não temos e precisamos de estar conscientes do quão importante é a energia para nós. E a única forma de resolver esta situação é com as energias renováveis. É uma emergência. Um período de quatro ou cinco anos será demasiado tarde para poder desenvolver toda esta energia. Terá de ser dentro de um, dois anos, no máximo", defendeu.

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Darío López Clemente, CEO da empresa de energia solar SolariaEuronews

Em maio, a Comissão Europeia lançou o plano “REPowerEu”, que também tratará de obstáculos não financeiros, tais como permissões administrativas e autorizações.

A jornalista da Euronews, Naomi Lloyd, falou com a Comissária Europeia da Energia, Kadri Simson, para tentar perceber quais têm sido os esforços da União Europeia para reduzir a dependência face ao petróleo e gás russos.

Naomi Lloyd, Euronews: É realista pensar que se pode acabar com a dependência dos combustíveis fósseis russos até 2027?

Kadri Simson: Estamos a fazer o nosso melhor para nos livrarmos desta dependência ainda mais rapidamente, o mais rápido que conseguirmos. E a REPowerEU é o plano de como substituir as importações russas por alternativas. E chegámos a vários parceiros comerciais de confiança. Mas isto não é suficiente. Não queremos substituir os combustíveis fósseis por outros combustíveis fósseis a 100 por cento. Isso significa que, onde pudermos, iremos substituir o gás natural por energias renováveis. Daremos prioridade à electrificação no setor da construção, mas também nos transportes. Para além disso, daremos prioridade à poupança.

NL: Falou sobre acabar com a dependência dos combustíveis fósseis russos, mas quer importar petróleo e gás de outros países. Isso não dará azo a novas dependências?

KS: Estamos a planear substituir apenas um terço das importações russas por outros combustíveis fósseis. Portanto, sim, vamos diversificar as nossas rotas de abastecimento. Mas paralelamente a isso, estamos também a acelerar a nossa própria transição verde. Onde pudermos substituir os combustíveis fósseis por energias renováveis, iremos fazê-lo.

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Kadri Simson, Comissária Europeia da EnergiaEuronews

NL: Pode falar-nos sobre os planos para acelerar a expansão da energia renovável dentro da REPowerEU?

KS: Há várias formas de apostar nas energias renováveis muito rapidamente, por exemplo, nos telhados. De acordo com a nossa proposta, todos os novos edifícios construídos devem ter painéis nos telhados. O maior entrave é permitir que isso aconteça. Neste momento, pode levar até sete anos para se obter uma licença para um parque eólico offshore. Mas a Comissão Europeia fez uma proposta, o direito a que chamamos "interesse público superior". Isto encurta o período de licenciamento de forma significativa.

NL: Calculou que para acabar com a dependência dos combustíveis fósseis russos o custo é de 210 mil milhões de euros. Poderá a Europa suportar isso?

KS: Se tivermos em conta que em anos anteriores, pagámos anualmente cerca de 100 mil milhões de euros à Rússia por importações de petróleo, gás e carvão, então, faz sentido substituir essa dependência. Sabemos que os Estados Membros ainda têm fundos de recuperação não utilizados, pelo que existem parte de empréstimos, no valor de 225 mil milhões, que os estados membros podem utilizar para projetos verdes. O financiamento é a chave. InvestEU é um instrumento muito útil à nossa disposição, porque no período de 2020 a 2027 poderemos mobilizar cerca de 372 mil milhões de euros.

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