Há um velho ditado nas Seicheles: se comer fruta-pão, fica garantido o regresso às ilhas. Mas depois de provar o resto da cozinha crioula, pode não querer ir embora de todo.
Para os foodies, as tradições culinárias cheias de aromas e especiarias das Seicheles constituem um dilema. Como é possível recriar a mesma fusão de peixe acabado de pescar, marinado em especiarias cultivadas localmente e grelhado no ar quente e salgado? A resposta, em poucas palavras, é “não é possível”.
A cozinha crioula faz bom uso da generosidade natural da ilha. Mas os frutos tropicais, as especiarias exóticas e a pescaria do dia são apenas o início da história.
Quando os primeiros colonos europeus chegaram no século XVIII, encontraram um conjunto de ilhas desabitadas abençoadas com sol durante todo o ano, solo fértil e frutos tropicais como nunca tinham visto.
Ao longo dos anos, foram acrescentados sabores africanos, indianos e europeus à panela, com navios de passagem a deixarem um rasto de especiarias para trás. A cozinha foi evoluindo para uma mistura de costumes e sabores e é nesta fórmula agitada que está a verdadeira magia.
Atualmente, a comida nas Seicheles é mais do que apenas substância. Ela marca muitos dos momentos mais importantes, e há várias gerações que é um pretexto para reunir a família e os amigos.
Todos os domingos, os habitantes das Seicheles reúnem-se em grupos para desfrutar de peixe recheado de especiarias, caril aromático e outros pratos com várias gerações de idade, habitualmente em churrascos na praia, sendo que os turistas são mais do que bem-vindos a juntarem-se ao banquete.
O que há no menu?
Os pratos típicos crioulos caraterizam-se pela riqueza do tempero, com uma variedade de sabores complementares, desde chutneys picantes a molhos de caril aromáticos.
A fruta-pão é um alimento básico da dieta da ilha que pode ser grelhado, cozido, assado ou cozinhado ao vapor, embora seja mais frequentemente consumido como batatas-fritas. Com a textura e aroma do pão acabado de sair do forno, a fruta é a espinha dorsal culinária das Seicheles e pode ser encontrada em todos os restaurantes, barracas de comida e onde quer que seja.
Outro prato conhecido é o Les Roussettes, um caril picante preparado com pedaços de morcegos-da-fruta sem pele marinados em vinagre e vinho tinto, cozinhados com uma variedade de ervas aromáticas e especiarias. A iguaria local de longa data é obrigatória para os foodies mais ousados e é uma forma única de experimentar a cultura local.
O peixe grelhado é talvez uma escolha óbvia, mas a enorme variedade e frescura do arquipélago proporcionam uma verdadeira experiência que vem diretamente do oceano para a mesa, diferente de qualquer outra. Pescadas e grelhadas com receitas locais, as especialidades incluem peixe-papagaio, xaréu, peixe-vela e pargo vermelho, servidas com uma saborosa marinada de sumo de limão, alho, chili e um toque de gengibre.
Os apreciadores de marisco devem provar o Satini pelo menos uma vez. Exclusivo da região, o prato é essencialmente uma salada de marisco com raspas muito finas de cebola, papaia, maçã, malagueta e açafrão, terminada com um pouco de lima.
Não vá embora sem provar Ladob, um prato das Seicheles à base de banana-da-terra, fruta-pão e mandioca, que pode ser servido doce ou salgado. Um dos elementos básicos das mesas dos locais, a versão doce, coze a fruta em leite de coco com açúcar, baunilha e noz-moscada até ficar macia e cremosa.
As versões salgadas incluem normalmente peixe, com sal no lugar do açúcar. Ambas as variedades do prato podem ser servidas quentes ou frias e são uma pura maravilha quando consumidas acabadas de fazer.
Onde posso comer pratos verdadeiramente crioulos?
Nada se compara a arregaçar as nossas mangas e sermos nós a preparar algo delicioso para comer.
Existem muitas aulas de cozinha crioula nas Seicheles e, para obter uma perspetiva da vida quotidiana da ilha, é essencial fazer um tour de dia inteiro.
Junte-se a uma excursão organizada por uma família das Seicheles para desfrutar da experiência mais autêntica, que começa no mercado matinal de Victoria, onde se compram especiarias, cocos, batatas-doces e mangas.
Depois, é hora de fazer uma visita ao mercado de peixe para comprar peixe fresco, antes de regressar à casa desta família para pôr as mãos na massa. Quando estiver tudo pronto, é sentar-se à mesa todos juntos e apreciar o fruto de toda esta aventura gastronómica.
Se preferir deixar o trabalho duro para outra pessoa, uma visita ao restaurante Marie Antoinette em Vitória é uma excelente escolha para provar pratos crioulos caseiros.
Casal à conversa antes do almoço no restaurante Marie Antoinette
A mansão colonial tornou-se famosa graças ao explorador Henry Morton Stanley, que aqui ficou na década de 1870 ao regressar de África, onde encontrou o Dr. Livingstone.
Atualmente, o restaurante é uma instituição por direito próprio e conta com uma oferta de pratos tradicionais muito aclamados, como beringela frita, peixe-papagaio panado, caldeirada de peixe e bife de atum, num menu que sofreu poucas ou nenhumas alterações desde 1970.
Como introdução à comida crioula, não há melhor, apesar de a sua primeira visita não ser provavelmente a última, especialmente se comer fruta-pão.
FIM