Revolta no Cazaquistão: voltam a ouvir-se tiros e Presidente declara Luto Nacional

Um polícia de choque detém um manifestante em Almaty, Cazaquistão
Um polícia de choque detém um manifestante em Almaty, Cazaquistão Direitos de autor AP Photo/Vasily Krestyaninov
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De  Francisco Marques
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A revolta começou há uma semana contra o aumento do preço do gás natural, agravou-se e tornou-se violenta. Já morreram mais de 40 pessoas, incluindo 18 nas forças de segurança

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O caos, a destruição e os tiros prosseguiram este sábado em Almaty, no Cazaquistão, onde está em curso praticamente há uma semana uma revolta contra o regime no poder.

O presidente cazaque Kassym-Jomart Tokayev tem assumido as rédeas da repressão dos protestos e já autorizou inclusive o uso de força letal contra os manifestantes que insistam nos tumultos, que incluíram a invasão e o vandalismo de diversos edifícios públicos e até o ataque a esquadras da polícia.

O Cazaquistão apelou à ajuda da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO) e desde sexta-feira está a ver as forças de segurança reforçadas com militares da Rússia e de outros aliados integrantes da CSTO.

A revolta começou no domingo passado, no leste do país, com um protesto contra o aumento do preço do gás natural, o que ameaça agravar a crise económica já a pressionar esta antiga república soviética rica em petróleo, uma das matérias primas de maior inflação nos últimos dois anos, também o período da pandemia de Covid-19.

Os protestos alastraram nos dias seguintes a outras cidades e tornaram-se mais violentos em Almaty, a maior cidade o principal centro económico do país. A repressão das forças de segurança afetas ao governo tornou os protestos numa revolta violenta contra o regime.

Rustam Nogmanov, tem 48 anos, apoia os protestos em curso e defende que "as pessoas acordaram" para o que o Cazaquistão se tornou, mostrando-se agora convicto de que "não vai haver outro presidente no poder durante 30 anos".

"Há aspetos positivos nisto, mas também negativos. Gostava que as autoridades ouvissem o que temos a dizer porque isto já se está a arrastar há demasiado tempo", afirmou Nogmanov

Olhando aos números de sete dias de revolta contra o governo, mais de 40 pessoas já foram mortas, incluindo 18 agentes das forças de segurança. Mais de 1000 manifestantes e cerca de 750 polícias terão ficado feridos, e mais de 4 mil pessoas já foram detidas na sequência dos confrontos armados.

A instabilidade está a levar muita gente a fugir do Cazaquistão. Alguns cidadãos cazaques, mas também turistas russos que tinham viajado para ali passarem a época festiva e que agora só puderam voltar a casa a bordo de um avião militar porque a larga maioria dos voos comerciais de e para o Cazaquistão estão a ser cancelados.

A agência de notícias russa "Tass" noticiou no entanto que a companhia de baixo custo "FlyArYstan" operou este sábado o primeiro voo em três dias, de ida e volta entre a capital Nur-Sultan e a cidade de Kutaisi, na vizinha Geórgia.

O aeroporto de Almaty vai manter-se fechado por tempo indeterminado e pelo menos 160 dos 261 voos internos previstos para este sábado foram cancelados.

Pelo menos 157 pessoas que estavam bloqueadas na Geórgia puderam regressar ao Cazaquistão, incluindo cinco crianças.

Continuam, entretanto, a chegar ao país muitos militares afetos à CSTO. O mais recente contingente das chamadas Forças de Paz da aliança a aterrar no Cazaquistão é oriundo da Arménia e foi transportado pela Força Aérea da Rússia.

O objetivo da mobilização militar da CSTO é ajudar o governo cazaque a restabelecer a ordem e normalizar a situação e, além de russos e arménios, inclui também unidades de forças armadas da Bielorrússia, do Tajiquistão e do Quirguistão.

O presidente do Cazaquistão solicitou entretanto a realização de uma videoconferência da CSTO para aferir os novos passos da aliança para ajudar a conter a revolta no país.

A Rússia já se mostrou disponível e a reunião, em data ainda a anunciar, será liderada pela Arménia, que detém a presidência desta aliança de antigas repúblicas soviéticas.

Foi entretanto anunciado que se mantém em curso os preparativos para a cimeira prevista para fevereiro em Nur-Sultan da Comunidade dos Estados Independentes, uma outra organização envolvendo onze antigas repúblicas soviéticas.

Por fim, referência para o anúncio de que o Presidente Tokayev decretou a próxima segunda-feira, 10 de janeiro, como dia de Luto Nacional pelas "numerosas mortes em resultado dos trágicos eventos em diversas regiões do país", revelou o porta-voz do governo, Berik Uali, numa publicação de Facebook.

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O anúncio do Luto Nacional foi feito pela rede social Facebook numa altura em que tem sido curiosamente noticiado que a Internet está em baixo no Cazaquistão.

O que é a CSTO?

A Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, na sigla anglófona) é uma aliança de seis antigas repúblicas soviéticas (Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tajisquistão) fundada em fevereiro de 1992 como Forças Armadas Unidas e rebatizada escassos meses depois para Tratado de Segurança Coletiva e tornada, finalmente, CSTO em 2002.

O Usbequistão fez parte dos fundadores e em 1993 juntaram-se também o Azerbaijão e a Geórgia, mas este trio abdicou da aliança em 1999. A aliança é similar à NATO, tem uma base militar e de cooperação entre os estados. A sede está localizada em Moscovo, na Rússia, e anualmente são realizados exercícios envolvendo militares dos aliados.

A atual intervenção no Cazaquistão é a priemira operação num cenário de conflito real para as chamadas Forças de Paz da CSTO.

Site oficial da CSTO

Outras fontes • France Press, Tass

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