Luta contra o tempo em Marrocos: quatro franceses entre os mais de 2.000 mortos

Funeral de vítimas muçulmanas do sismo em Ouargane, perto de Marraquexe
Funeral de vítimas muçulmanas do sismo em Ouargane, perto de Marraquexe Direitos de autor AP Photo/Mosa'ab Elshamy
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De  Francisco Marques
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Equipas de busca e resgate continuam à procura de sobreviventes nas zonas afetadas pelo sismo. Entre os portugueses já em Lisboa, há dois feridos, pai e filha

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O Ministério dos Negócios Estrangeiros de França anunciou este domingo haver pelo menos quatro cidadãos franceses entre os mais de 2 mil mortos devido ao sismo de sexta-feira à noite a sul de Marraquexe, em Marrocos.

O último balanço de vítimas do forte sismo de sexta-feira em Marrocos foi divulgado na tarde deste domingo, aponta para 2.122 mortos e 2.421 feridos, incluindo pelo menos 1.404 em estado muito grave, informou o Ministério do Interior.

"Lamentamos a morte de três outros cidadãos franceses perto de Marraquexe, o que eleva o número de vítimas para quatro. Quinze cidadãos franceses feridos foram identificados", declarou o Quai d'Orsay, numa breve declaração escrita.

As equipas de busca e resgate continuam a trabalhar com grande intensidade e o balanço global de vítimas deve agravar-se à medida que as operações avançarem pelas zonas mais remotas, ao mesmo tempo que ocorrem novas e ameaçadoras réplicas, como a deste domingo de manhã, de 4.5 de magnitude, de acordo com o Centro Sismológico Euro-Mediterrâneo.

Socorristas espanhóis no terreno

Dezenas de países estão a oferecer ajuda e têm equipas de emergência prontas para partir. Espanha, por exemplo, anunciou o pedido formal ajuda por parte de Marrocos e mobilizou para Marraquexe 56 socorristas e quatro cães para ajudar na busca por sobreviventes.

Um outro voo "com diversos material de ajuda procedente das Comunidades Autonómicas" está previsto para também seguir caminho em breve rumo à região afetada pelo sismo.

Já em Marraquexe, desde a 01 hora da manhã deste domingo, está uma equipa de bombeiros voluntários oriundos de Lyon, em França. 

O grupo gaulês, que transportou 300 quilos de material, vai reforçar as operações de socorro sensivelmente a meio caminho entre aquela cidade e o local do epicentro do sismo, situado cerca de 70 quilómetros a sudoeste.

Por outro lado, o presidente da organização não-governamental Socorristas sem Fronteiras denunciou estar a ser bloqueado pelo governo de Rabat de participar nas operações de socorro.

"Normalmente, teríamos apanhado um avião que descolava de Orly[Paris], mas infelizmente ainda não temos o acordo do governo marroquino. De facto, o governo marroquino está a bloquear totalmente as equipas de socorro, exceto uma, a do Qatar, que foi autorizada a aterrar lá", afirmou Arnaud Fraisse, este domingo, pelas 06h20 da manhã, à France Inter.

Uma centena de portugueses resgatados

Este domingo de manhã, aterraram em Lisboa, pelas 05 horas locais, 102 cidadãos portugueses que estavam em Marrocos, entre eles o pai e a filha menor que ficaram feridos na sequência do sismo.

A operação de retirada foi iniciada logo sábado à tarde com recurso a um avião da Força Aérea e, "apesar das vicissitudes no terreno, decorreu de forma ordeira e pacífica", indicou o ministério, que vai continuar em "contacto com os [cerca de 200] portugueses que permanecem na região mais afetada" pelo sismo.

Numa altura em que a escala da destruição ainda não foi avaliada, a prioridade é encontrar sobreviventes entre os escombros e levar alimentos e água potável às populações que ficaram sem nada.

Um homem residente em Amizmiz fez um apelo ao rei explicando a "situação de crise" em que se viveram as primeiras 24 horas após o tremor de terra: "Pedimos que o rei Mohamed VI intervenha e nos envie alguma ajuda, porque estamos a viver uma situação traumatizante. As pessoas não têm eletricidade, não têm nada para comer ou beber, nem pão, nada."

O rei Mohamed VI criou imediatamente uma comissão interministerial para organizar a muito necessária ajuda. Nas aldeias mais remotas as infraestruturas ficaram muito danificadas e falta tudo. A ajuda começa a chegar e a organizar-se.

A noite em que Marrocos tremeu

O sismo desta sexta-feira à noite é o mais mortífero em Marrocos do século XXI e só o de 1960, em Agadir, com 15 mil mortos, o ultrapassa na tragédia. 

O centro de monitorização geológica dos Estados Unidos atribui-lhe a magnitude de 6.8, mas cientistas marroquinos estimam a força do abalo nos 7.2 da escala de Richter.

O epicentro ocorreu a 63 km de Marraquexe e o hipocentro a uma profundidade de 18,5 km.

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Na histórica Marraquexe, a cidade mais atingida, as pessoas não ousam voltar para casa, por receio da instabilidade dos edifícios. Casas, edifícios públicos e monumentos ficaram bastante danificados e alguns ameaçam poder ainda cair.

A famosa Mesquita Koutoubia, construída no século XII e com um minarete de 69 metros conhecido como o "telhado de Marraquexe", ficou danificada, mas a extensão dos estragos não é ainda conhecida. 

Nas redes sociais têm surgido vídeos de danos consideráveis nas famosas muralhas vermelhas que cercam a cidade velha de Marraquexe e que são Património Mundial da UNESCO.

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