Equipas de busca e resgate continuam à procura de sobreviventes nas zonas afetadas pelo sismo. Entre os portugueses já em Lisboa, há dois feridos, pai e filha
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de França anunciou este domingo haver pelo menos quatro cidadãos franceses entre os mais de 2 mil mortos devido ao sismo de sexta-feira à noite a sul de Marraquexe, em Marrocos.
O último balanço de vítimas do forte sismo de sexta-feira em Marrocos foi divulgado na tarde deste domingo, aponta para 2.122 mortos e 2.421 feridos, incluindo pelo menos 1.404 em estado muito grave, informou o Ministério do Interior.
"Lamentamos a morte de três outros cidadãos franceses perto de Marraquexe, o que eleva o número de vítimas para quatro. Quinze cidadãos franceses feridos foram identificados", declarou o Quai d'Orsay, numa breve declaração escrita.
As equipas de busca e resgate continuam a trabalhar com grande intensidade e o balanço global de vítimas deve agravar-se à medida que as operações avançarem pelas zonas mais remotas, ao mesmo tempo que ocorrem novas e ameaçadoras réplicas, como a deste domingo de manhã, de 4.5 de magnitude, de acordo com o Centro Sismológico Euro-Mediterrâneo.
Socorristas espanhóis no terreno
Dezenas de países estão a oferecer ajuda e têm equipas de emergência prontas para partir. Espanha, por exemplo, anunciou o pedido formal ajuda por parte de Marrocos e mobilizou para Marraquexe 56 socorristas e quatro cães para ajudar na busca por sobreviventes.
Um outro voo "com diversos material de ajuda procedente das Comunidades Autonómicas" está previsto para também seguir caminho em breve rumo à região afetada pelo sismo.
Já em Marraquexe, desde a 01 hora da manhã deste domingo, está uma equipa de bombeiros voluntários oriundos de Lyon, em França.
O grupo gaulês, que transportou 300 quilos de material, vai reforçar as operações de socorro sensivelmente a meio caminho entre aquela cidade e o local do epicentro do sismo, situado cerca de 70 quilómetros a sudoeste.
Por outro lado, o presidente da organização não-governamental Socorristas sem Fronteiras denunciou estar a ser bloqueado pelo governo de Rabat de participar nas operações de socorro.
"Normalmente, teríamos apanhado um avião que descolava de Orly[Paris], mas infelizmente ainda não temos o acordo do governo marroquino. De facto, o governo marroquino está a bloquear totalmente as equipas de socorro, exceto uma, a do Qatar, que foi autorizada a aterrar lá", afirmou Arnaud Fraisse, este domingo, pelas 06h20 da manhã, à France Inter.
Uma centena de portugueses resgatados
Este domingo de manhã, aterraram em Lisboa, pelas 05 horas locais, 102 cidadãos portugueses que estavam em Marrocos, entre eles o pai e a filha menor que ficaram feridos na sequência do sismo.
A operação de retirada foi iniciada logo sábado à tarde com recurso a um avião da Força Aérea e, "apesar das vicissitudes no terreno, decorreu de forma ordeira e pacífica", indicou o ministério, que vai continuar em "contacto com os [cerca de 200] portugueses que permanecem na região mais afetada" pelo sismo.
Numa altura em que a escala da destruição ainda não foi avaliada, a prioridade é encontrar sobreviventes entre os escombros e levar alimentos e água potável às populações que ficaram sem nada.
Um homem residente em Amizmiz fez um apelo ao rei explicando a "situação de crise" em que se viveram as primeiras 24 horas após o tremor de terra: "Pedimos que o rei Mohamed VI intervenha e nos envie alguma ajuda, porque estamos a viver uma situação traumatizante. As pessoas não têm eletricidade, não têm nada para comer ou beber, nem pão, nada."
O rei Mohamed VI criou imediatamente uma comissão interministerial para organizar a muito necessária ajuda. Nas aldeias mais remotas as infraestruturas ficaram muito danificadas e falta tudo. A ajuda começa a chegar e a organizar-se.
A noite em que Marrocos tremeu
O sismo desta sexta-feira à noite é o mais mortífero em Marrocos do século XXI e só o de 1960, em Agadir, com 15 mil mortos, o ultrapassa na tragédia.
O centro de monitorização geológica dos Estados Unidos atribui-lhe a magnitude de 6.8, mas cientistas marroquinos estimam a força do abalo nos 7.2 da escala de Richter.
O epicentro ocorreu a 63 km de Marraquexe e o hipocentro a uma profundidade de 18,5 km.
Na histórica Marraquexe, a cidade mais atingida, as pessoas não ousam voltar para casa, por receio da instabilidade dos edifícios. Casas, edifícios públicos e monumentos ficaram bastante danificados e alguns ameaçam poder ainda cair.
A famosa Mesquita Koutoubia, construída no século XII e com um minarete de 69 metros conhecido como o "telhado de Marraquexe", ficou danificada, mas a extensão dos estragos não é ainda conhecida.
Nas redes sociais têm surgido vídeos de danos consideráveis nas famosas muralhas vermelhas que cercam a cidade velha de Marraquexe e que são Património Mundial da UNESCO.