Agricultores semeiam caos em Bruxelas durante cimeira da UE

Os protestos junto ao Parlamento Europeu causaram algum caos
Os protestos junto ao Parlamento Europeu causaram algum caos Direitos de autor Lazlo Arato, Euronews
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De  Sandor ZsirosIsabel Marques da Silva com AP
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O chamado bairro europeu de Bruxelas foi um dos pontos quentes dos protestos dos agricultores, esta quinta-feira. A cimeira extraordinaria da UE, no Edifício Europa, foi um dos destinos dos centenas de tratores, bem como a sede do Parlamento Europeu.

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"É um SOS e têm de tomar medidas de emergência a favor dos agricultores. Tendo em conta os preços praticados, não ganhamos o suficiente, ganhamos menos do que o salário mínimo. Alguns de nós na Bélgicae ganham menos de mil euros por mês. Portanto, não é viável", disse Charles-Albert De Grady, agricultor belga, em entrevista à euronews.

Os manifetantes usaram foguetes, ovos e garrafas de cerveja como munições contra a polícia que, por vezes, respondeu com canhões de água.

Nas últimas semanas multiplicaram-se os protestos em muitos estado-membros da UE, incluindo em Portugal, contra cortes de apoios e existência de novas regras de produção.

Pedem-nos que aumentamos a área de terras em pousio, pedem-nos que façamos muitas coisas pela natureza. Não temos qualquer problema com isso, mas alguém tem de o financiar. Não somos nós que temos de pagar para ter produção mais ecológica.
Pierre Lebrun
Agricultor, Bélgica

O Pacto Ecológico Europeu é visto como uma crescente barreira para o setor, por causa das medidas de carácter ambientalista para diminuir as emissões poluentes do setor - que contribuem para as alterações climáticas - e para promover a conservação dos ecossistemas que estão degradados devido a algumas práticas agrícolas.

"Na verdade, pedem-nos que façamos o esforço e que o paguemos nós próprios. Pedem-nos que aumentamos a área de terras em pousio, pedem-nos que façamos muitas coisas pela natureza. Não temos qualquer problema com isso, mas alguém tem  de o financiar. Não somos nós que temos de pagar para ter produção mais ecológica", disse Pierre Lebrun, agricultor belga.

Para dar resposta, os governos vão fazendo promessas de novos apoios e a Comissão Europeia abriu um diálogo com representantes do setor sobre uma estratégia para o futuro.

O executivo comunitário criou, também, medidas para suavizar o impacto de importações da Ucrânia em alguns países do bloco, nomeadamente a leste.

Temos de garantir que os agricultores conseguem obter o preço correto pelos produtos de alta qualidade que fornecem. Precisamos também de garantir que a carga administrativa que lhes é imposta continua a ser razoável.
Alexander de Croo
Primeiro-ministro, Bélgica

Líderes afloram o tema

O tema acabou por ser debatido, informalmente, pelos chefes de Estado e de Governo da UE, que pediram às instituições europeias (Comissão e Conselho da UE) para analisarem as medidas que poderão ser tomadas no âmbito da Políticas Agrícola Comum e de outros instrumentos comunitários.

O primeiro-ministro  da Bélgica (país que preside este semestre à UE), Alexander De Croo, disse que as exigências dos agricultores têm de ser atendidas: "Temos de garantir que os agricultores conseguem obter o preço correto pelos produtos de alta qualidade que fornecem. Precisamos também de garantir que a carga administrativa que lhes é imposta continua a ser razoável".

Para além dos planos da Comissão Europeia, os líderes propuseram outras formas de ajudar os agricultores, nomeadamente reduzindo a aposta nos acordos de livre comércio. Um deles é com o bloco Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) que tem grande potências agrícolas na América do Sul.

Os agricultores elegam que as importações não cumprem as mesmas normas regulamentares que os agricultores da UE e fazem concorrência desleal.

"A prioridade para nós deve ser a implementação das regras e regulamentos existentes e não a imposição de novos regulamentos adicionais aos agricultores nos próximos anos", disse, por seu lado, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.

Os agricultores são um grupo eleitoral fundamental - tanto a nível da UE como a nível nacional - e os líderes têm-se esforçado por responder às suas exigências antes das eleições europeias de junho. 

Nas últimas semanas, os políticos populistas e de extrema-direita têm utilizado o tema para o seu discurso eurcético e antissistema.

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