Conclusões rejeitam acusações de intencionalidade no papel da França no genocídio da minoria tutsi no Ruanda entre 1990 e 1994
Uma comissão que passou quase dois anos a investigar o papel da França no genocídio dos Tutsis no Ruanda em 1994 concluiu que o país reagiu com lentidão ao evento que provocou a morte de mais de 800 mil pessoas.
O relatório aponta o dedo para o que designa como "as grandes responsabilidades" de França no genocídio que devastou a minoria étnica Tutsi do país.
No entanto, nas conclusões, o documento rejeita acusações de cumplicidade de França afirmando não existirem provas de qualquer intenção nos atos de genocídio cometidos no país.
A iniciativa do relatório remonta a 2019 partindo do presidente francês Emmanuel Macron que pretende esclarecer o papel da França nos acontecimentos ocorridos no Ruanda entre 1990 e 1994.
"As autoridades francesas seguiram políticas desligadas da realidade; políticas que mantinham o estigma da colonização, que ignoravam que o país podia ultrapassar a crise e essencialmente acentuaram a crise étnica, alinhando-se com o regime do presidente Habyarimana, que era um regime racista, e que não conseguiram afastar o presidente dos extremistas", afirma Vincent Duclert, presidente da Comissão de Historiadores Sobre o Papel de França no Ruanda.
"A França estava cega, ignorou todos os avisos, foi um grande problema, mas se considerarmos que existiu cumplicidade, isso significa essencialmente que toda a comunidade internacional foi complícita neste genocídio".
O presidente Macron espera que o relatório coloque um ponto final nas acusações que duram há mais de 25 anos.
"Estes termos de "responsabilidade acrescida", ou "falhanço", não novos. É bom que o discurso político inclua estes termos. Muda muito porque muitos negam os acontecimentos, em particular em França, devido à presença de alguns responsáveis e das suas famílias no país. Os políticos estão finalmente a levar estes termos a sério e isso é bom porque permite reduzir o sentimento de impunidade", defende Jessica Mwiza, vice-presidente da Associação Ibuka em França.
Na sexta-feira, o governo ruandês reagiu descrevendo o relatório como "um passo importante em direção a um entendimento comum relativamente ao papel de França no genocídio".
O governo ruandês adiantou que nas próximas semanas será publicado um relatório investigativo sobre este tema.