Os drones iranianos podem ameaçar o petróleo europeu?

Imagem divulgada através do sítio Web oficial do exército iraniano na quinta-feira, 20 de abril de 2023, de drones fabricados no Irão
Imagem divulgada através do sítio Web oficial do exército iraniano na quinta-feira, 20 de abril de 2023, de drones fabricados no Irão Direitos de autor AP/AP
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De  Indrabati Lahiri
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Artigo publicado originalmente em inglês

O Irão equipou recentemente a sua marinha da Guarda Revolucionária com drones para aumentar a vigilância no Estreito de Ormuz.

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Recentemente, o exército americano anunciou que poderá equipar os seus navios comerciais que atravessam o Estreito de Ormuz com guardas armados. A medida surge numa tentativa de evitar que o Irão se apodere de navios civis e comerciais.

Em resposta a este anúncio, o Irão forneceu à sua marinha da Guarda Revolucionária drones, a fim de aumentar a vigilância e a pressão sobre o Estreito de Ormuz. Este estreito separa o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico e é um dos mais importantes para o transporte mundial de petróleo.

Porque é que o Estreito de Ormuz é importante para o petróleo europeu?

Cerca de um quinto do petróleo mundial passa anualmente por este estreito. Trata-se de cerca de 20,5 milhões de barris por dia de uma variedade de produtos petrolíferos, incluindo condensados e petróleo bruto. Aproximadamente 20% do gás natural liquefeito (GNL) global também passa pelo estreito, o que representa cerca de 80 milhões de toneladas métricas.

No contexto europeu, a União Europeia importou cerca de 1,9 mil milhões de metros cúbicos de GNL do Qatar em 2022. 

O Iraque exporta cerca de 21,4 milhões de toneladas de petróleo bruto para a UE. Os EUA, que são o segundo maior fornecedor de petróleo bruto da UE, representando cerca de 10% a 13% das importações de petróleo bruto, enviam cerca de 1,4 milhões de barris de petróleo bruto e condensado por dia através do Estreito de Ormuz.

File photo of the Strait of Hormuz
File photo of the Strait of HormuzBill Foley/ AP

O canal é utilizado pela maioria dos grandes produtores de petróleo, como os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, o Irão, o Kuwait e o Iraque.

Ao longo dos últimos anos, o Irão apreendeu e deteve vários petroleiros internacionais dos EUA, Japão, Arábia Saudita, Singapura e Coreia do Sul, entre outros, por alegadas violações da navegação. O país só libertou estes navios depois de outros países terem libertado navios iranianos anteriormente detidos.

Além disso, também tem como alvo navios mais pequenos de países como a Tanzânia e as Ilhas Marshall, sob suspeita de contrabando de petróleo ou de colisão com navios iranianos.

Como é que as sanções internacionais podem ameaçar o estreito?

Os EUA também já tentaram impor sanções ao Irão para impedir o rápido crescimento do seu projeto nuclear. Essas sanções deveram-se principalmente ao incumprimento de programas de segurança, bem como à ameaça que o programa nuclear poderia representar para o Conselho de Segurança da ONU.

A ONU, a UE e o Reino Unido não tardaram a impor as suas próprias sanções, visando sobretudo os setores nuclear, energético, dos mísseis e outras armas, da navegação, da banca, dos seguros e do comércio internacional.

Estas sanções destinavam-se sobretudo a restringir as receitas do Irão provenientes das suas exportações de petróleo e de outras indústrias, como a dos transportes marítimos. 

O Irão retaliou muitas vezes ameaçando fechar ou restringir severamente o Estreito de Ormuz, paralisando efetivamente o comércio internacional de petróleo e de energia.

O atual conflito entre Israel e o Hamas suscita receios crescentes de que este se transforme num conflito mais vasto no Médio Oriente. Se assim for, o Irão poderá ficar ainda mais em apuros. Isto, porque o país tem vindo a apoiar o Hamas, bem como grupos terroristas regionais como o Hezbollah, sediado no Líbano, e os Houthi, sediados no Iémen.

Recentemente, os Houthi atacaram um navio turco no Mar Vermelho, a caminho da Índia. Estes grupos terroristas também têm sido utilizados como campos de ensaio para armas iranianas, como drones, mísseis e outros.

No caso de um conflito mais vasto no Médio Oriente, o Irão poderá ser potencialmente alvo de mais sanções internacionais por parte dos EUA e da UE devido ao seu papel no agravamento do conflito, ainda que indiretamente.

Em retaliação, o Irão poderá causar mais problemas no Estreito de Ormuz, atacando ou apreendendo mais navios ou, na pior das hipóteses, causando um bloqueio na rota de navegação.

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Os drones iranianos podem afetar o petróleo europeu através do Estreito e da Rússia

A mais recente iniciativa iraniana de equipar a sua marinha com drones poderá agravar ainda mais as tensões no Estreito de Ormuz, se os EUA optarem por reforçar as medidas. Se assim for, poderá muito bem asfixiar o abastecimento de petróleo bruto à Europa, numa altura em que o continente luta para recuperar devido à guerra.

O Irão tem continuado a fornecer drones à Rússia, apesar dos múltiplos e repetidos pedidos internacionais para que páre. Isto permitiu à Rússia instalar mais fábricas para produzir em massa drones com base em modelos iranianos, com a intenção de atingir mais instalações energéticas ucranianas.

Iranian Army picture of Iran-made drones on display at a ceremony in April 2023
Iranian Army picture of Iran-made drones on display at a ceremony in April 2023AP/AP

Embora a UE tenha reduzido drasticamente as importações de petróleo russo desde o início da guerra, o país ainda era responsável por cerca de 1,4 milhões de toneladas métricas de importações de petróleo bruto, em março de 2023.

De acordo com a Defence Intelligence Agency, o Irão já tinha exportado mais de 1700 drones das séries Mohajer e Shahed para a Rússia até agosto de 2022. Além disso, foram elaborados planos para produzir mais 6000 drones com o modelo iraniano na Rússia até ao início de 2023. Por volta de julho de 2023, a Rússia utilizava frequentemente drones iranianos nos seus ataques à Ucrânia.

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Os drones exportados foram em grande parte contrabandeados para a Rússia utilizando a própria companhia aérea estatal do Irão, bem como uma variedade de barcos. Esta cooperação foi mais longe, com Moscovo a manifestar o interesse em adquirir mísseis balísticos ao Irão.

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