Ele é o homem por detrás do Turning Torso, o famoso arranha-céus de Malmo, na Suécia, e do Museu do Futuro no Rio deJaneiro, que tem sido descrito como um dos melhores exemplos de arquitetura sustentável.
Santiago Calatrava falou com a Euronews sobre o trabalho, a inspiração e o futuro.
Euronews: (Jane Witherspoon): Porque razão escolheu uma carreira na arquitetura?
Santiago Calatrava: Depois da faculdade, decidi entrar numa escola de arte. E foi numa visita a Notre Dame. Lembro-me que era de noite e a luz entrava através de uma rosácea. Cheia de cor, cheia de luz e abri os olhos para o facto da arquitetura ser também uma arte. Na verdade, estudei sempre arquitetura olhando-a como se fosse uma arte. Estudei também engenharia civil porque quero saber mais sobre o material, a materialidade da arquitetura, sobre as leis da construção, sobre as regras da estática e sobre todos os aspetos matemáticos da construção em si. Como um processo e também como resultado. Foi a ideia de que a arquitetura é uma arte que me moveu desde o primeiro dia.
Euronews: O seu estilo foi descrito como "neo futurismo", como o descreve?
Santiago Calatrava: A realidade é que não sei se tenho um estilo, mas se tiver um é o estilo do meu tempo. Claro que sempre a pensar em frente, sempre a pensar como a forma pode melhorar, como a nossa vida pode melhorar. Como os nossos edifícios podem ser mais ousados, mais bonitos ou mais adequados às pessoas. E isto acaba por projetá-los no futuro, porque acredito que o futuro será, pelo menos, tão bom como o nosso presente.
Euronews: Nasceu em Valência, em Espanha. Como é que a sua cidade influenciou o seu estilo ao longo dos anos?
Santiago Calatrava: Foi um bom lugar para crescer, porque um dos lados estava virado para o Mediterrâneo. Era tradicionalmente uma cidade aberta ao mundo e também porque o mar estava lá. E tinha muitos monumentos maravilhosos.
Euronews: Qual é a parte do processo da arquitetura que mais o motiva?
Santiago Calatrava: Como vêem, tenho estado, desde o início, muito relacionado com a invenção ou com o próprio projeto. Desenho muito. Faço muitos esboços e, felizmente, tenho pessoas à minha volta que pegam nessas coisas e as transformam em projetos reais e depois em construção real. O que quero dizer é que a arquitetura é uma profissão em que se precisa de muitas pessoas boas à volta.
Euronews: Uma pessoa é considerada uma estrela, mas obviamente que só é tão boa por causa da equipa que a rodeia.
Santiago Calatrava: Arquitectura, como digo, é um trabalho modesto, não é algo extravagante. É uma questão de muitas horas de trabalho e, por vezes, não só de dias, são semanas, meses, ou mesmo anos.
Euronews: Estamos o Dubai. Porque é que o Dubai se destaca como uma cidade para a arquitetura?
Santiago Calatrava: Lembro-me muito bem do meu entusiasmo quando tinha 14, 20, 25, 30 anos. Vemos a quantidade de energia que temos, a quantidade de sonhos, a quantidade de esperança que temos. Também podemos projetar essa sensação em lugares e o Dubai é certamente um lugar enorme, entusiasmante e cheio de energias. É uma das cidades que hoje representa o nosso tempo, quase a 100%. Porque pertence quase a 100% ao nosso tempo e à nossa geração.
Euronews: Está atualmente a construir a Dubai Creek Tower que será a torre mais alta do mundo. de onde veio a inspiração?
Santiago Calatrava: A ideia para a Dubai Creek Tower foi uma flor com um longo caule de aço e depois, no topo, uma tulipa. Porquê uma flor? Porque eu pensei: que bela imagem para algo que tem que ser muito simples, muito concentrado em si mesmo e distribuir uma sensação de beleza para todos.
Euronews: Construiu a Turning Torso em Malmo, na Suécia, a Torre de Comunicações em Barcelona e é responsável pelo Pavilhão dos Emirados Árabes Unidos na Expo 2020. E neste caso, de onde veio a inspiração?
Santiago Calatrava: Tentei trazer algo que, aos meus olhos, representa a essência ou parte da essência desta cultura. Por isso escolhi um pássaro. Peguei num falcão de asas abertas e, a partir da ideia do falcão, surgiu a ideia do pavilhão
Euronews: De que forma a arquitetura moderna testa limites?
Santiago Calatrava: Hoje em dia, materiais como a fibra de carbono podem alterar o modo de conceção da arquitetura e podem proporcionar novas formas e fazer avançar as fronteiras e os limites. Outras coisas que empurram os limites são, por exemplo, as novas tecnologias relacionadas com a energia. Hoje, a nossa compreensão da energia é muito diferente da compreensão da energia de há trinta anos. Hoje em dia, estamos muito mais preocupados com a sustentabilidade.
Euronews: O Museu do Futuro no Rio tem sido descrito como um dos melhores exemplos de arquitetura sustentável. Porque é que a arquitetura sustentável é importante?
**Santiago Calatrava:**Temos de cuidar da Terra porque é a única coisa que temos, não é verdade? Também temos de tentar entregar esta Terra pelo menos tão boa como a recebemos para a próxima geração.
Euronews: O que é que o futuro reserva para si?
Santiago Calatrava: O que eu fiz foi prometer-me que vou trabalhar até ao fim da minha vida, se puder dar-me a esse luxo. Gosto do trabalho que tenho vindo a fazer e isso dá-me muita satisfação, entusiasmo e esperança. Também gosto das pessoas à minha volta, das pessoas com quem trabalho. Acredito que se continuar assim vou trabalhar até ao último dia da minha vida.