Segunda portuguesa morta pelo Hamas e novos relatos do terror vivido em Israel

Funeral de duas vítimas do massacre no festival Supernova
Funeral de duas vítimas do massacre no festival Supernova Direitos de autor AP Photo/Maya Alleruzzo
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De  Francisco Marques
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Presidente Marcelo expressa pesar pela morte das jovens luso-israelitas num dos dias mais trágicos da história de Israel e que ameaça deixar feridas abertas por muito tempo

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As histórias de quem sobreviveu à ofensiva de sábado do Hamas são horrorizantes. Os relatos somam-se às imagens que nos têm chegado dos locais por onde passaram os terroristas.

Num deles, o Festival Supernova, estavam duas luso-israelitas. Foram ambas mortas pelos homens do Hamas. Depois de Rotem Neumann na terça-feira, na quarta foi também identificado o corpo de Dorin Attas, num processo mais demorado devido ao estado do cadáver pelo impacto de uma granada.

A morte de Dorin Attas foi confirmada à SIC Notícias pela mãe da jovem de 22 anos, num telefonema para o correspondente em Israel daquele canal televisivo português, Henrique Cymerman.

Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte das duas luso-israelitas. Numa nota oficial, o Presidente da República exprimiu "o pesar, de forma especial, relativamente aos cidadãos portugueses falecidos ou desaparecidos em Israel nos últimos dias".

Haverá ainda pelo menos três cidadãos com passaporte português desaparecidos.

No ataque ao festival de música pela Paz e liberdade em que estavam as duas portuguesas, foram mortas mais de 260 pessoas. Não se sabe quantas terão sido levadas para Gaza como reféns do Hamas.

Shani Hadar, de 35 anos, foi uma das que conseguiu sobreviver. Foi baleada num ombro, mas conseguiu esconder-se durante 10 horas e escapou. Tinha decidido à última hora ir ao festival, que tinha mudado de localização nos dias anteriores devido a um problema logístico com a escolha do cenário original.

Foi escolhido um sítio no deserto do Negev, a cerca de cinco quilómetros da fronteira com a Faixa de Gaza, perto do Kibbutz de Re'im.

Kibbutz

"Um kibbutz é um assentamento comunitário em Israel em que toda a riqueza é partilhada e os lucros são reinvestidos no bem comum.

"O primeiro kibbutz foi fundado em 1909. Atualmente existem cerca de 270, com uma população total superior a 120 mil pessoas.

"Os adultos vivem em quartos privados, enquanto as crianças são geralmente alojadas e cuidadas em grupo."

Fonte: Dicionário da Merriam Webster

Shani Hadar lembra-se de ter sido "atacada por um terrorista quando tentava fugir da estrada". 

"Eles tomaram as estradas. Vi que havia terroristas à minha frente e atrás. Não tinha escolha a não ser correr para a esquerda da estrada", recordou, acrescentando depois como conseguiu suster o ferimento: "Usei um kimono como ligadura. Percebi que ia continuar a sangrar e sabíamos que a ajuda não seria rápida a chegar."

Na terça-feira, um grupo de 35 idosos residente no Kibbutz Kfar Aza, uma das comunidades agrícolas atacadas de forma bárbara no sábado pelo Hamas, regressou a casa de uma viagem à Bulgária.

A viagem pode ter-lhes salvado a vida, mas estas pessoas regressaram sem saber quem tinha sobrevivido ao massacre no Kibbutz onde vivem.

Uma técnica do Ministério dos Serviços Sociais e Bem-estar de Israel descreve o estado dos membros deste grupo como "claramente muito traumático". 

"Eles estão no inferno do desconhecimento. Não dormiram. Não comeram. Esperamos que daqui por uns dias recebam boas notícias, mas sabemos que a maioria não as vai ter", lamentou a assistente social, não identificada.

O Kibbutz de Kfar Aza fica cerca de 12 quilómetros a norte do local onde decorria o Festival Supernova. 

Os membros desta comunidade agrícola que ali foram encontrados apresentam sinais de terem sido executados, inclusive bebés, desconhecendo-se se algum dos residentes tenha sido levado como refém pelos terroristas.

Muitos dos sobreviventes dos diversos ataques do Hamas estão a deslocar-se para zonas afastadas de onde escaparam aos massacres. 

No Kibbutz de Shefayim, um hotel abriu as portas para acolher os traumatizados e também os que estão de luto pela perda de familiares e amigos.

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Entre os relatos de quem sobreviveu ao terror, há relatos de quem se fingiu de morto e de quem se escondeu em armários ou debaixo de camas, conseguindo evitar os atacantes. Mas quase todos perderam alguém que lhes era próximo.

Alguns sobreviveram aos ataques fingindo-se de mortos. Outros, escondidos dentro de armários ou debaixo de camas. Todos perderam alguém que lhes era próximo.

Rachel Stellman é uma dos sobreviventes, assume-se "de esquerda", deixa entender que era favorável a uma convivência pacífica com os vizinhos palestinianos, mas receia que este ataca lhe altere a forma de pensar.

"Sabemos que nem todos os palestinianos apoiam o Hamas, mas agora já não sei o que pensar. Vou ter de trabalhar muito para recuperar a minha humanidade", admite.

O balanço de vítimas da ofensiva iniciada sábado pelo Hamas, e que degenerou numa guerra lançada por Israel contra o grupo terrorista na Faixa de Gaza, continua a ser atualizado. 

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Há ainda corpos a ser descobertos e civis a serem apanhados na troca de tiros e bombas destes últimos dias. 

A última contagem, divulgada esta quinta-feira de manhã, aponta para pelo menos 1.300 mortos do lado e 3.300 feridos, 28 em estado crítico e 350 em estado grave, no lado de Israel, de acordo com os meios de comunicação hebraicos.

Do lado palestiniano, os números do respetivo Ministério da Saúde aponta para pelo menos 1.203 mortos e 5.769 feridos, a maioria civis, vítimas dos bombardeamentos israelitas.

Corpo de militante do Hamas morto no Kibbutz de Be'eri coberto por um saco mortuário
Corpo de militante do Hamas morto no Kibbutz de Be'eri coberto por um saco mortuárioAP Photo/Ohad Zwigenberg

Na quarta-feira, as forças de defesa de Israel (IDF) divulgaram ter encontrado 1.500 cadáveres de combatentes do Hamas nas zonas próximas da Faixa de Gaza, por onde os terroristas irromperam no sábado, mas este número não está incluído nos balanços oficiais de vítimas. 

Os soldados israelitas têm recuperado os cadáveres das vítimas do Hamas, mas têm ignorado os dos combatentes, numa clara mensagem para o grupo terrorista palestiniano, que o governo de Telavive se diz determinado a destruir após a trágica invasão de sábado.

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Vítimas do Hamas por nacionalidade

Um balanço por nacionalidades das vítimas mortais estrangeiras no ataque do Hamas contra Israel mostra que os Estados Unidos são país com mais mortos (25), seguido pela Tailândia (21), que soma ainda 14 reféns confirmados e 13 feridos entre os 30 mil cidadãos que trabalham no país.

França soma 12 mortos e 17 desaparecidos; o Nepal tem 10 mortos e pelo menos um desaparecido; a Argentina contabiliza sete mortos e 15 desaparecidos; a Rússia confirmou quatro mortos e seis desaparecidos; a Ucrânia regista sete mortos, nove desaparecidos e nove feridos; o Brasil lamenta duas mortes e um desaparecido; e, entre outros, Espanha confirmou quarta-feira a morte de uma hispano-israelita, militar numa base próxima da Faixa de Gaza, e um desparecido.

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