Cimeira UE/EUA centrada no comércio bilateral e na crise ucraniana

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O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) já teve muitos encontros com os líderes da União Europeia (UE), mas Barack Obama visita pela primeira vez as instituições, em Bruxelas, por ocasião da cimeira desta quarta-feira.

Formalmente lançadas na cimeira do G8, em junho do ano passado, as negociações para um acordo de livre comércio entre as duas potências estarão no topo da agenda.

Sindicatos, ambientalistas e ativistas europeus têm criticado a falta de transparência sobre as negociações que visam potencializar um mercado de 800 milhões de pessoas e que gera quase metade da riqueza mundial.

Os líderes deverão também abordar a questão da privacidade e da segurança na Internet, depois do escândalo envolvendo o ex-espião Edward Snowden, que denunciou escutas feitas por uma agência de segurança norte-americana a alguns líderes europeus.

Mas é a recente crise russo-ucraniana que deverá ocupar uma boa parte da cimeira, já que Bruxelas e Washington têm protagonizado a resposta da comunidade internacional ao aplicarem sanções contra a Rússia por ter anexado a Crimeia.

Uma crise que, logo no início, causou algum embaraço nas relações entre as duas potências devido à divulgação pública de uma conversa entre altos funcionários norte-americanos. A vice-secretária de Estado Victoria Nuland usou calão para defender o afastamento da UE na mediação diplomática.

“EUA estão empenhados em consolidar o fim da Guerra Fria”

A correspondente da euronews em Bruxelas, Isabel Marques da Silva, falou sobre a agenda da cimeira com o embaixador da UE nos EUA, João Vale de Almeida.

Isabel Marques da Silva/euronews (IMS/euronews): “Sabendo que a União Europeia e os EUA têm diferentes relações de interdependência com a Rússia, como podem os dois blocos complementar a ação, sobretudo no que diz respeito a sanções económicas?”

João Vale de Almeida/Embaixador da UE para os EUA (JVA/Embaixador): “Os EUA têm estado empenhados connosco na democratização da Europa, na abertura da Europa, no consolidar do fim da Guerra Fria. O que se trata aqui é muito simplesmente de uma violação da integridade territorial e da soberania da Ucrânia por parte da Rússia. Condenamos esse ato e não reconhecemos a anexação da Crimeia”.

IMS/euronews: “Mas a ameaça secessionista continua e veremos o que se vai passar no leste e no sul da Ucrânia, onde continuam muito ativas as forças pró-russas…”

JVA/Embaixador: “É evidente que estamos muito atentos, tanto os europeus como os norte-americanos. As mensagens que saíram do Conselho Europeu são muito claras em relação à firmeza, ao aumento e extensão das sanções, e que está muito alinhado com a posição americana”.

IMS/euronews: “Queria falar agora do acordo de livre comércio que está a ser negociado entre os EUA e a UE. Os EUA têm feito, como sabemos, uma grande exploração do gás de xisto, mas no momento não exportam esse recurso. Pensa que esse tópico poderá ser incluído agora nas negociações para que, a médio prazo, a Europa possa importar gás de xisto americano?”

JVA/Embaixador: “Tem razão em dizer que a energia é cada vez mais um fator de política externa. Os EUA têm feito uma pequena revolução energética nos últimos anos, com novas tecnologias, com novas descobertas geológicas, ao ponto de estarem em vias de alcançar a autosuficiência energética. A capacidade de partilharem esse recurso com o exterior é limitada por leis americanas, mas penso que essa questão tem que ser posta em cima da mesa de negociações”.

“A Europa não vai diminuir os seus níveis de proteção”

IMS/euronews: “O que preocupa muitos europeus é que alterações ao nível das barreiras técnicas e legais à importação de produtos para o interior da UE, possam pôr em risco os altos padrões europeus sobre proteção dos direitos dos trabalhadores, da saúde pública, do meio ambiente. Alguns exemplos comuns são os produtos com elementos geneticamente modificados ou com hormonas…”

JVA/Embaixador: “Nenhum desses receios tem qualquer espécie de fundamento. A Europa não vai diminuir os seus níveis de proteção – seja em termos ambientais, sociais ou dos direitos dos consumidores – por causa de um acordo comercial. Não o fará nem sequer com os EUA. Pelo contrário, se os EUA e a UE conseguirem encontrar uma plataforma de entendimento sobre a maneira como todas estas questões são regulamentadas, estarão a lançar uma mensagem para o resto do mundo: China, Brasil, Índia, os países emergentes incluindo também a Rússia. A mensagem é que a forma como vão tratar esses assuntos na cena internacional será muito exigente”.

IMS/euronews: “Apesar das tensões estarem mais desanuviadas no que respeita à espionagem eletrónica, a cibersegurança é um tema ainda muito caro aos europeus. Estará a administração Obama disponível para rever a legislação interna que dê garantia de maior privacidade ou, pelo menos, participar num tratado internacional com mediação das Nações Unidas?”

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JVA/Embaixador: “A administração Obama reconhece a sensibilidade europeia a este tipo de questões, reconhece que há um problema e que é precisor resovê-lo. Já se fizeram grandes progressos, já se tomaram medidas importantes, o trabalho vai continuar e o Presidente Obama, nesta sua viagem à Europa, certamente não deixará de falar sobre isso. Os cidadãos pedem segurança, mas também querem respeito pela privacidade”.

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