Robert Gates: de certa forma já estamos numa nova guerra fria

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Robert Gates: "O maior desafio da Rússia é a população e a economia"

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A capital da Ucrânia, Kiev, acolheu recentemente a décima-quarta Conferência para a Segurança Europeia, ocasião para debater a escalada de tensões na Coreia do Norte, a China e o papel da Rússia entre outros temas . A jornalista da euronews, Sasha Vakulina, falou com Robert Gates, antigo secretário norte-americano da defesa, começando por abordar a questão da Coreia do Norte e o recente aumento de tensões na península.

Sasha Vakulina, euronews: Gostaria de começar pelo recente aumento de tensões na crise da Coreia do Norte. Após o último lançamento, os norte-coreanos disseram que “o objetivo final é restabelecer o equilíbrio de forças com os Estados Unidos”. Quão perigosa é esta ambição?

Robert Gates: De facto, penso que é bastante perigoso. É óbvio que 30 anos de diplomacia não foram suficientes para impedir a Coreia do Norte de obter armas nucleares. Penso que uma opção que os Estados Unidos têm é colocar sobre a mesa um pacote de propostas diplomáticas em conjunto com uma declaração sobre as ações militares que seriam tomadas caso não se encontre uma solução política para o problema.

Esta solução política envolve o reconhecimento, o levantamento das sanções e a assinatura de um tratado de paz. Tudo isto teria que ser feito em coordenação com a Coreia do Sul e o Japão. Em troca, a Coreia do Norte reduziria, ou mesmo eliminaria, de forma significativa os programas nucleares em vigor.

O reverso disso é que se eles não aceitam o que se trata, no fundo, de uma abordagem direta, os Estados Unidos teriam que tomar várias medidas militares na Ásia. Isso é motivo de preocupação tanto para a Coreia do Norte como para a China em termos de sistemas anti-mísseis, forças navais adicionais, um conjunto de ações militares as quais tanto a China como a Coreia do Norte podem não gostar.

euronews: Onde está a Rússia neste contexto?

RG: Bem, como é frequente, a Rússia não está a ajudar. Penso que se trata de uma situação em que, ao contrário da China, a Rússia está satisfeita por ver os Estados Unidos preocupados com este problema na Coreia do Norte, aproveitando para explorar a situação na Ásia e onde quer que possam fazê-lo.

euronews: Vê a influência da Rússia no mundo a crescer nos últimos tempos?

RG: Penso que um dos principais objetivos de Putin dos últimos dez anos ou mais é restaurar o papel da Rússia enquanto grande poder cujos interesses têm que ser levados em linha de conta em qualquer situação internacional.

Penso que existem limites para a influência da Rússia porque penso que ele está a cair na armadilha soviética de uma política global agressiva, uma modernização militar que a economia russa não consegue sustentar a longo prazo.

euronews: A Rússia e a Bielorrússia lançaram exercícios militares conjuntos sob a designação de Zapad 2017. Considera isso como um ato de agressão?

RG: Penso que estão a tentar enviar um sinal para intimidar, mas penso que as medidas tomadas pela NATO, o movimento das forças da NATO na Polónia e nos Estados Bálticos, o reforço militar norte-americano na Europa, penso que eles podem querer intimidar mas no fundo não intimidam.

euronews: Pensa que nos dirigimos para um novo tipo de guerra fria?

RG: Bem, de certa forma já lá estamos. A questão é como interromper o agravamento da relação e ao mesmo tempo lidar com o intervencionismo tanto político como militar, assim como a agressividade na forma como ele se comporta.”

Para Putin, o maior desafio é o declínio da população e da economia. Ele precisa de reconhecer que a abordagem adoptada pela Rússia em relação ao Ocidente não serve os interesses a longo prazo da Rússia enquanto potência assim como do povo russo.

euronews: Pensa que a Rússia poderia reconhecer e reconsiderar a sua posição?

RG: Suspeito que provavelmente não enquanto Vladimir Putin for presidente.

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