O que pensam os habitantes de Lampedusa dos migrantes que aguardam atracar?

O que pensam os habitantes de Lampedusa dos migrantes que aguardam atracar?
De  Valérie Gauriat
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O Insiders desta semana foi até à ilha italiana - nos útlimos anos um dos maiores palcos da crise migratória - peceber o que pensa quem lá mora

Um popular destino turístico italiano, ao sul da Sicília, Lampedusa é também um dos centros mais famosos da tragédia dos migrantes no Mediterrâneo.

A repórter da Euronews Valerie Gauriat falou com Pietro Bartolo, eleito deputado europeu na lista do Partido Democrata Italiano, nas eleições de maio passado. Bartolo é também o médico mais conhecido das ilha.

LAMPEDUSA - A ENTRADA DA EUROPA

"Ali é a Líbia. E este é o ponto mais a sul da Europa.", disse Bartolo. "Somos a porta de entrada para o continente. E agora alguém quer fechar este portão. Talvez esteja a ruir...está a sofrer, esta porta! Quando se vem aqui, sentimos o vento do sul, vindo de África, que carrega a poeira africana. Quase que conseguimos ouvir as lamentações, os gritos, o sofrimento...”, disse. 

Bartolo diz ter resgatado muitos migrantes do mar e diz que tratou de cerca de 300.000 pessoas em quase 30 anos.

"É por aqui que chegam as pessoas.", acrescentou Bartolo. "Passei mais noites e dias neste cais do que na minha própria casa. Venho aqui todas as noites desde os últimos 30 anos. Este lugar está no meu coração, apesar de já ter visto aqui tanto sofrimento, tanto horror, tantas mortes neste cais...tantas mortes...", disse Bartolo.

"Nós somos culpados"

“Nós é que somos responsáveis! Somos nós que trazemos as guerras, somos nós que provocamos a fome, a violência. Somos a causa de tudo! Eles foram forçados a fugir, a deixar tudo para terem uma vida um pouco mais calma, e e nós não os queremos aqui...? As coisas não podem funcionar assim, não é justo. Temos o dever e a responsabilidade de ajudá-los. Estas pessoas devem chegar por via aérea, normalmente, através de canais regulares, através de corredores humanitários. Não através do mar." disse Bartolo.

Salvini não quer mais navios humanitários em portos italianos

Um novo decreto proíbe que os navios humanitários atraquem nas costas de Itália. Durante a visita a lampedusa, o navio de resgate da ONG alemã Sea Watch 3, estava à deriva, às portas da ilha, com dezenas de migrantes. O assunto estava na agenda de uma reunião entre a camara de ilha e uma organização humanitária. 

Bartolo, presente na reunião, disse: "Tenho vergonha de que hoje a Itália possa proibir estas pessoas que estão a sofrer, de chegar aqui! Estou envergonhado!"

Fora da câmara municipal, ativistas gritavam: "Portos fechados! Portos fechados".

Nesse dia, 10 dos 52 passageiros do Sea Watch 3 foram autorizados a desembarcar. As câmeras foram mantidas à distância.

Na ilha, Pietro Bartolo está longe de conquistar o apoio de todos. Para muitos, são demasiados os recursos e fundos gastos com migrantes, enquanto nada é feito para o desenvolvimento local. Faltam infra-estruturas e falta empregos. Quem aqui vive diz que Lampedusa foi esquecida pela classe política.

Apoiantes de Salvini

Nas eleições europeias, a participação foi baixa, mas quase metade dos eleitores em Lampedusa escolheu o Partido da Liga de Matteo Salvini.

A proprietária de um restaurante, Angela Maraventano, também ex-deputada do Partido da Liga, explicou: "Juntei-me ao projeto da Liga por causa dos problemas que afetaram a minha ilha, diariamente, durante anos. Temos vindo a acolher migrantes gratuitamente. E agora já nos fartamos. Vamos pedir ao governo e ao Parlamento Europeu que nos dê algo em troca.". 

Os defensores de Salvini em Lampedusa dizem que se sentem abandonados. Attilio Lucia, gerente de uma loja, disse: "Os jovens trabalham apenas por 4 ou 5 meses por ano, depois disso não há mais nada para fazer e a maioria parte."

"Nós só queremos crescimento e não é a imigração que pode fazer com que Lampedusa cresça. A imigração beneficiou principalmente aqueles que especularam sobre este problema", disse Davide Masia, Presidente da Câmara Municipal de Lampedusa.

Angela Maraventano acrescentou: "Queremos viver serenamente na nossa ilha; vamos acolher aqueles que precisam, mas vamos lutar contra este fenómeno. Porque por detrás há delinquência, há máfias. Portas abertas para navios de cruzeiro, para pescadores, para turistas...Portas fechadas para aqueles que traficam carne humana, lutaremos sempre, sempre."

**Clique no vídeo em cima para assistir à reportagem completa. **

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