Violações do cessar-fogo apressam a retirada de milhares de civis no Sudão

Um homem observa a coluna de fumo sobre a capital do Sudão
Um homem observa a coluna de fumo sobre a capital do Sudão Direitos de autor AP Photo/Marwan Ali
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De  Francisco Marques
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Secretário-geral da ONU apelou aos generais em conflito para baixarem as armas, numa altura em que surge também uma ameaça biológica

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Um cessar-fogo frágil, violado inclusive com ataques contra civis, e uma evacuação apressada estão a marcar a atualidade da guerra pelo poder iniciada no Sudão a 15 de abril.

As forças militares do general Abdel Fattah Burhan tentam reprimir a ofensiva das milícias rebeldes das Forças de Apoio Rápido afetas ao antigo vice líder do regime de transição, o também general Mohammed Hamdan "Hemetti" Dagalo, num confronto que poderá estar a ser influenciado de fora para dentro e que poderá inclusive envolver armas do agora famoso grupo mercenário russo Wagner.

O secretário-geral das Nações Unidas diz que "o conflito no Sudão não vai nem pode ser resolvido no campo de batalha". "Os líderes sudaneses têm de colocar os interesses do povo à frente e no centro, e silenciar as armas", expressou António Guterres esta manhã pelas redes sociais.

O Sudão está sobre brasas desde o início dos violentos confrontos armados. Apesar de um cessar-fogo de 72 horas ter sido anunciado à meia noite de segunda-feira, as trocas de tiros continuam na capital Cartum e na cidade vizinha de Omdurman.

Entretanto, um grupo armado ocupou o Laboratório Central de Saúde Pública de Cartum, onde estão armazenadas amostras de várias doenças contagiosas.

“Isto é extremamente perigoso porque temos amostras de poliomielite, de sarampo e de cólera no laboratório. Há, por isso, um enorme risco biológico associado à ocupação do Laboratório Central de Saúde Pública em Cartum por uma das partes em conflito", alertou Nima Saeed Abid, o representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) no Sudão.

Pelo menos 459 pessoas já morreram e mais de quatro mil ficaram feridas nestas quase duas semanas de conflito, estimam as Nações Unidas.

Houve, entretanto, um ataque à prisão de Kober, em Cartum, onde está detido o antigo ditador do Sudão Omar al-Bashir, e vários prisioneiros fugiram.

As milícias de Mohammed Hamdan "Hemetti" Dagalo alegam que o antigo ditador fugiu, mas os militares às ordens de Abdel Fattah Burhan garantem que Al-Bashir se mantém "num hospital sob vigilância da polícia judiciária".

O exército revelou também que outros quatro "militares acusados pelo golpe de 30 de junho" de 1989 estão igualmente "no hospital Aia das forças armadas" desde antes mesmo do início dos combates a 15 de abril.

Omar al-Bashir governou o Sudão durante três décadas e foi derrubado em abril de 2019, num golpe de Estado liderado pelo exército, que viriam a formar um Conselho Militar de Transição e a acordar um processo temporário de governação, agora totalmente desfeito um ano e meio depois do general Abdel Fattah Burhan ter tomado o poder através de um novo golpe de Estado e de o primeiro-ministro da transição, Abdalla Hamdok, se ter demitido.

Dois portugueses resistem no país

O conflito armado está a levar residentes locais e estrangeiros a tentar fugir o mais rápido possível do Sudão, onde apenas se mantêm por opção própria dois portugueses.

Dos 22 portugueses identificados no Sudão pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, dois mantém-se ainda no país.

Um é voluntário numa organização humanitária e está a mais de 500 quilómetros de Cartum, disse ao Expresso Suliman Abdelmagid Suliman Mohamed, Cônsul Honorário de Portugal no Sudão, que trabalha em cooperação com a embaixada portuguesa no Cairo.

O outro ficou em Sudão Porto porque "optou por aguardar por uma deslocação no quadro das Nações Unidas, organização à qual pertence", explicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em comunicado.

"Os cidadãos nacionais que optaram por regressar a Portugal têm assegurada ajuda do Estado português para o respetivo transporte. Os restantes cidadãos que escolheram outros destinos estão igualmente em contacto permanente com as entidades consulares que têm acompanhado a par e passo todo este processo, desde o eclodir do conflito", explicou o MNE de Portugal, que se têm coordenado com outros "países aliados" na retirada de cidadãos nacionais do Sudão.

A França chegou, entretanto, esta quarta-feira, o primeiro avião com cerca de 245 pessoas em fuga do conflito no Sudão. A aeronave partiu do Djibuti, primeira escala da fuga, e transportou 195 cidadãos franceses, mas também neerlandeses, italianos, neozelandeses, marroquinos e alguns sudaneses.

À Arábia Saudita chegou também esta quarta-feira um barco com 1.687 civis sudaneses e de mais 50 outras nacionalidades, também em fuga do conflito, anunciou o Ministério dos Assuntos Estrangeiros do reino saudita.

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A Agência das Nações Unidas para os Refugiados estima que este novo conflito armado no Sudão venha a provocar uma onde com pelo menos 145 mil refugiados, num fenómeno humanitário que poderá empurrar ainda mais gente para as perigosas travessias clandestinas do Mediterrâneo rumo à Europa.

Outras fontes • AFP, AP, Expresso

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