Conselho de Segurança sem unanimidade mas Irão marca posição na ofensiva do Hamas

Manifestações em São Francisco pró e contra Israel
Manifestações em São Francisco pró e contra Israel Direitos de autor AP Photo/D. Ross Cameron
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De  Francisco Marques
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Conselho de Segurança da ONU sem unanimidade na condenação da ofensiva do Hamas contra Israel; EUA critica contenção chinesa e mobiliza porta-aviões

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Diversos países membros do Conselho de Segurança da ONU condenaram a ofensiva surpresa do movimento islamista Hamas, mas não houve uma declaração unânime saída da reunião à porta fechada daquele G-15 das Nações Unidas para a paz e segurança internacional.

Os Estados unidos lamentaram a falta de unanimidade na condenação do que descrevem como "os atos terroristas odiosos" do Hamas "contra o povo israelita e o seu governo".

"Uma boa parte dos países condenaram os ataques do Hamas, mas, evidentemente, não todos", lamentou o embaixador adjunto norte-americano Robert Wood, sem nomear o país ou países que se absteram na condenação, mas com a France Press a assegurar tratar-se da Rússia, que se tem mantido à margem da maioria desde que invadiu a Ucrânia.

A situação ainda é fluída e muito perigosa. Nós estamos a trabalhar muito, assim como sabemos que outros países também estão, para tentar evitar que este conflito se propague.
Robert Wood
Embaixador adjunto dos EUA nas Nações Unidas

"A minha mensagem foi a favor do fim imediato dos combates, se um cessar-fogo e de negociações significativas", afirmou, por seu turno, Vassili Nebenzia, o embaixador russo, evocando estar em cima da mesa um conflito armado resultante de "problemas não resolvidos".

O embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, condenou "todos os ataques contra civis" e sublinhou a necessidade de um regresso ao processo de paz numa solução de dois Estados.

De visita à China e recebido em Pequim na segunda-feira, o líder da maioria no Senado americano, o democrata Chuck Schumer, criticou a posição chinesa que se limitou a apelar à "contenção" após a ofensiva armada do Hamas contra Israel.

"Fiquei muito dececionado, para ser honesto, pela declaração [...] que não mostra nenhuma compaixão nem apoio a Israel nestes momentos difíceis e conturbados. Apelo ao povo chinês e a si para apoiarem o poo israelita e a condenarem estes ataques cobardes e cruéis", disse Schumer ao chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi.

Reação do Irão

O Irão, país de quem se diz ser o maior beneficiado do atual conflito armado entre o Hamas, que apoia, e Israel, um histórico rival, garantiu, entretanto, na ONU, que não esteve envolvido na ofensiva islamista deste fim de semana, mas não deixou de tomar posição a favor dos palestinianos.

"As medidas resolutas tomadas pela Palestina constituem uma defesa totalmente legítima contra sete décadas de ocupação opressiva e crimes hediondos cometidos pelo regime sionista ilegítimo", afirmou a missão iraniana na ONU, em comunicado, citado pela Reuters.

Num artigo sobre a conversa telefónica com o homólogo do Iraque, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão acrescentou que "as operações dos grupos de resistência palestinianos são uma natural resposta às continuadas ações agressivas e extremistas do regime sionista contra os locais sagrados do Islão e a Mesquita Al-Aqsa", esta última situada exatamente no local sagrado judaico conhecido como "Monte do Templo" e que é também sagrado no culto católico.

Os Estados Unidos decidiram entretanto mobilizar ajuda militar a Israel e o Secretário da Defesa dos EUA ordenou ao USS Gerald R. Ford, o mais moderno e avançado porta-aviões da marinha americana, a navegar para o leste do Mediterrâneo e ficar em prontidão para ajudar as forças israelitas.

Andrew Vaughan/The Canadian Press via AP, File
O porta-aviões USS Gerald R. Ford em outubro de 2022, em Halifax, no CanadáAndrew Vaughan/The Canadian Press via AP, File

Além dos dos cinco mil homens a bordo e da frota de jatos que transporta no deck, o porta-aviões conta ainda com a apoio de cruzadores e contratorpedeiros, que deverão num primeiro momento travar um eventual abastecimento de armas aos militantes do Hamas sitiados na Faixa de Gaza.

Manifestações

Com Washington claramente ao lado de Israel, diante da Casa Branca concentraram-se diversos manifestantes pró-Palestina num protesto em linha com as palavras do representante da Autoridade Palestiniana na ONU.

A História não deve começar apenas quando morrem israelitas.
Riyad Mansour
Representante na ONU da Autoridade Palestiniana

"Nunca aceitaremos uma retórica que desvaloriza a nossa humanidade e nega os nossos direitos; uma retórica que ignora a ocupação da nossa terra e a opressão do nosso povo. Não é o momento de deixar que Israel persista nas suas terríveis opções. É, sim, o momento de dizer a Israel para mudar de rumo e que existe um caminho para a paz em que nem palestinianos nem israelitas são mortos", afirmou Riyad Mansour, em Nova Iorque.

Em diversos países, foram organizadas manifestações este fim de semana, depois do ataque surpresa e de larga escala do Hamas contra Israel, que já provocou mais de um milhar de mortos em ambos os lados.

Na capital da Alemanha, houve protestos pró e contra Israel. A manifestação que celebrou no sábado a ofensiva do Hamas, pela descrição da polícia berlinense, foi "esponânea" e mereceu atenção especial, tendo sido interrompida devido aos alegados "gritos de glorificação da violência".

"Após a dissolução da manifestação, registaram-se atos de resistência e, ocasionalmente, arremesso de garrafas contra os agentes da polícia. Dois agentes ficaram feridos", revelou a polícia berlinense, acrescentando que seis acusações criminais foram processadas e 36 pessoas foram identificadas por se recusarem a abandonar o local.

Na Jordânia, país vizinho de Israel e dos territórios palestinianos, conhecidos como Cisjordânia, centenas de pessoas concentraram-se na capital, Amã, com cartazes de apoio ao Hamas e gritos para o mundo árabe, nomeadamente para a Arábia Saudita, parar as negociações de normalização das relações com Israel.

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Esta recente proximidade entre Israel e o reino saudita, mediada pelos Estados Unidos, é apontado como um dos vários fatores que pode ter contribuído para a ofensiva deste fim de semana da jiad islâmica palestiniana.

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