Inserção de doentes mentais: o exemplo de Geel

Inserção de doentes mentais: o exemplo de Geel
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De  Maria Barradas com Ana Lázaro Bosch
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Na pequena localidade de Geel, na Bélgica, há 185 doentes mentais inseridos em famílias de acolhimento. Um projeto terapeûtico com raízes numa lenda.

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A saúde mental é uma questão com a qual as nossas sociedades ainda não aprenderam a viver e muito menos conseguiram resolver. No Dia Mundial da Saúde, fomos a uma pequena localidade na Bélgica que foi pioneira numa abordagem revolucionária dos cuidados de saúde mental. Fomos ao encontro de Cindy.

Cindy recuperou a confiança graças à sua família de acolhimento. Há três anos que vive numa quinta-escola onde ajuda com os animais e com as aulas de equitação. Participa num projeto terapêutico no qual as famílias, sem formação específica, acolhem pacientes com doenças mentais ou dificuldades de aprendizagem. O projeto é, para a Cindy, claramente um sucesso.

"Para alguns funciona muito bem porque, graças a isso, sou mais independente e tenho mais confiança em mim. Não ter marcado na testa que estou louca é muito importante para mim", afirma a jovem.

Apesar de não serem mãe e filha, Cindy e sua anfitriã Nancy são próximas. Nancy Van Bael abriu as portas de sua casa porque gostava da ideia de ajudar e também porque sonhava ter uma família grande. E conseguiu, tem três filhos e, embora reconheça que viver juntos nem sempre é fácil, funciona.

"Às vezes é difícil porque há uma família e tem de se aceitar um estranho. Mas, uma vez feito, funciona como uma família normal. A Cindy já faz parte da nossa família", afirma.

A família de acolhimento recebe uma contribuição financeira que a ajuda a cobrir as despesas - cerca de 20 euros por dia - e pode pedir ajuda ou aconselhamento a qualquer hora do dia ou da noite.

O projeto é coordenado pelo Centro de Cuidados Psiquiátricos em Geel e o tratamento contém uma boa dose de inclusão social.

O psicólogo Wilfried Bogaerts refere os pontos positivos: "Um dos benefícios do sistema é que ele lida com o estigma. O facto de as famílias adotivas abrirem as suas vidas familiares a pessoas com problemas mentais mostra a outras pessoas que está tudo bem e mostra que ter um problema mental é algo que pode ser superado por todos".

Atualmente, 185 pacientes estão alojados noutras tantas famílias. Todos eles concentrados numa pequena localidade, no norte da Bélgica, chamada GEEL, a menos de 25 km do hospital. E não é por acaso que se conta a lenda de Santa Dimpna, uma princesa irlandesa que chegou aqui fugida do pai que queria casar-se com ela.

Dimpna morreu decapitada às mãos do seu incestuoso pai, mas conseguiu tirar o diabo da sua mente. A partir daí, os seus poderes curativos transformaram a cidade num centro de peregrinação para os doentes mentais e as pessoas começaram a recebê-los na sua casa.

Agora, sob rigoroso controlo médico, GEEL estabeleceu-se como sede de um projecto psiquiátrico para doentes como a Cindy.

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