Em causa pode ficar a paz na ilha da Irlanda, já que o governo de Londres quer alterar o capítulo sobre a nova fronteira aduaneira.
Uma grande "nuvem" vinda do lado britânico ensombra a nova ronda negocial sobre um acordo comercial e político pós-Brexit, que tem lugar esta semana.
O governo de Boris Johnson pondera anular parte do acordo de saída da União Europeia, aprovado em 2019, no que respeita à fronteira aduaneira na ilha da Irlanda.
Johnson também exige terminar as negociações sobre a futura relação entre as partes até 15 de outubro, dois meses e meio antes do fim do período de transição (31 de dezembro).
“Não há nenhum "bluff" negocial da nossa parte. O primeiro-ministro foi claro, durante as eleições e desde então, de que faremos o possível para obter um acordo de livre comércio do mesmo género do que obteve o Canadá. Mas, na ausência de um acordo, sairemos da União de vez e sem pedir prolongamento do período de transição", disse George Eustice, ministro do Ambiente do Reino Unido, em declarações à euronews.
Uma postura que pode pôr em causa o trabalho de quatro anos, mas à qual o executivo europeu reagiu diplomaticamente.
“Desde o início das negociações, a União Europeia tem estado empenhada, de forma construtiva em com boa-fé, no diálogo com com o Reino Unido. Estamos absolutamente focados em aproveitar ao máximo a ronda negocial desta semana e de todas as que se seguirão. Partilhamos o desejo do primeiro-ministro Boris Johnson de chegarmos a um acordo rapidamente”, afirmou Daniel Ferrie, porta-voz da Comissão Europeia.
Paz na Ilha da Irlanda em causa por causa da fronteira aduaneira
Em causa pode ficar a paz na ilha da Irlanda, já que o governo de Londres quer alterar o capítulo sobre a nova fronteira aduaneira.
“Existe o Acordo de Saída, que foi aprovado pelo Parlamento em Westminster, ao nível da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes. Trata-se de um acordo internacional vinculativo, que não pode ser rasgado por causa de ameaças políticas. O facto é que o Reino Unido, de boa-fé, aprovou a legislação específica para sustentar o Acordo de Saída, assim como fez o Parlamento Europeu”, explicou Billy Kellagher, eurodeputado liberal irlandês.
“Os tratados internacionais têm que ser honrados e superam qualquer legislação interna que qualquer país possa aprovar. Este acordo existe para garantir que não se cria uma fronteira rígida entre o norte e o sul da Irlanda, algo que todos queremos evitar. As negociações entre a União Europeia e o Reino Unido estão em curso e estamos ansiosos para que haja um acordo em vigor antes do final do ano", afirmou Leo Varadkar, vice-primeiro-ministro da Irlanda.
O Reino Unido abandonou oficialmente a União Europeia a 31 de Janeiro, mas nos termos do período de transição, mantém todos os deveres e direitos de qualquer Estado-membro dentro do mercado único europeu e da união aduaneira até ao início de 2021.