Newsletter Boletim informativo Events Eventos Podcasts Vídeos Africanews
Loader
Encontra-nos
Publicidade

Desmancha-prazeres ou apoiante? Trump não se pronuncia sobre o processo de alargamento da UE

Um membro do pessoal do protocolo arruma as bandeiras dos EUA, da UE e da Sérvia em Belgrado, na Sérvia.
Um membro do pessoal do protocolo arruma as bandeiras dos EUA, da UE e da Sérvia em Belgrado, na Sérvia. Direitos de autor  AP Photo
Direitos de autor AP Photo
De Stefan Grobe
Publicado a Últimas notícias
Partilhe esta notícia Comentários
Partilhe esta notícia Close Button

Historicamente, Washington tem apoiado o processo de alargamento com base no facto de a adesão de mais Estados-membros à UE significar mais negócios e influência. Agora já não. Donald Trump está-se nas tintas, dizem os especialistas à Euronews.

Com o alargamento da UE de volta à agenda política, os Estados Unidos tornaram-se um espectador silencioso de um processo que poderia trazer mais democracia e prosperidade a milhões de pessoas nos Balcãs Ocidentais e não só.

Enquanto as anteriores administrações norte-americanas apoiaram vivamente as tentativas de trazer mais países para a União Europeia, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, tem permanecido sinistramente silencioso.

Não há nenhuma declaração política pública que defina especificamente a sua posição sobre a adesão de cada país candidato à UE ou sobre o processo de alargamento em geral.

Em resposta ao pedido de comentário da Euronews, um porta-voz do Departamento de Estado enviou uma frase por correio eletrónico: "Os Estados Unidos acreditam que a adesão à UE é uma decisão para os países candidatos e para os atuais Estados-membros".

Por outras palavras, Washington não tem opinião.

"A Europa não está muito presente na mente de Trump fora do contexto comercial", disse Nicholas Lokker, do Centro para uma Nova Segurança Americana, um grupo de reflexão bipartidário com sede em Washington, à Euronews.

"E não se preocupa muito com a promoção da democracia na Europa ou no resto do mundo".

Esta é uma clara rutura com as tradições da política externa dos EUA.

Durante as décadas da Guerra Fria, tanto as administrações republicanas como as democratas consideraram os Estados Unidos como uma potência europeia de primeira ordem, que trabalhou sem ambiguidades para conseguir uma Europa democrática "inteira e livre" - do Plano Marshall à NATO, da ajuda à reunificação alemã à ajuda à estabilização dos Balcãs Ocidentais após as guerras dos anos 1990.

No que diz respeito à UE, o apoio dos EUA era visto em Washington como uma forma de aumentar a paz, a segurança e a prosperidade europeias, o que, por sua vez, beneficiaria os EUA em termos económicos e estratégicos.

E mais membros da UE significaria uma Europa mais estável e integrada, reduzindo a necessidade de uma grande presença militar dos EUA no continente e aumentando as oportunidades de negócio para os EUA através da expansão do comércio e do investimento num mercado único europeu mais próspero.

Daí o elogio de Washington à decisão da UE de abrir negociações de adesão com a Ucrânia e a Moldova em dezembro de 2023 como uma "afirmação poderosa do futuro europeu dos candidatos e potenciais candidatos à UE".

E ainda mais: "Este é um momento histórico para a Europa e para a parceria transatlântica", declarou na altura o Departamento de Estado de Joe Biden.

Para Trump, a Europa não é uma grande potência

Uma declaração tão forte por parte do governo dos EUA parece hoje em dia difícil de obter.

Se os candidatos à adesão à UE, do Montenegro à Moldova, podem ou não realizar todo o seu potencial democrático e económico dentro da União Europeia, não é uma questão para a administração Trump.

"A sua hostilidade para com a Europa é tal que ele vê qualquer coisa que torne a Europa mais forte como algo que torna os Estados Unidos mais fracos", disse James Bindenagel, diretor do Centro de Segurança Internacional e Governação da Universidade de Bona e antigo embaixador dos EUA, à Euronews.

"Trump preferiria ser um desmancha-prazeres do que um apoiante de uma maior integração europeia", acrescentou.

De facto, Trump tem visto frequentemente a União Europeia mais como um concorrente económico do que como um parceiro.

A sua orientação mais ampla em matéria de política externa sublinha o lema “America First” (América em primeiro lugar), que persegue objetivos nacionalistas, dando prioridade às relações bilaterais em detrimento dos compromissos multinacionais exigidos pelo alargamento da UE.

Para Trump, a geopolítica é uma competição entre grandes potências como os EUA, a Rússia e a China - mas não a Europa, disse Lokker.

"Ele acha que o mundo deve ser dividido em esferas de influência. E seguindo esta lógica, os Balcãs devem pertencer à esfera da Rússia".

"Trump está muito interessado no autoritarismo. Na Europa, ele gosta de 'homens fortes' como Orbán ou (o primeiro-ministro eslovaco Robert) Fico", disse Bindenagel.

Trump aceita o argumento de que o alargamento da UE fortalece a Europa e enfraquece o presidente russo Vladimir Putin, acrescentou. "Mas a questão é a seguinte: Trump não quer enfraquecer Putin".

O único sítio onde o alargamento da UE mereceu uma atenção especial por parte da administração Trump foi a Ucrânia.

Trump e a adesão da Ucrânia à NATO

O país candidato contra o qual a Rússia desencadeou uma guerra em grande escala há mais de três anos ainda está a lutar pela sua própria sobrevivência como país independente.

Embora tenha reconhecido a importância estratégica da Ucrânia e a sua orientação europeia, Trump ainda não definiu publicamente uma posição específica sobre se apoia ou se opõe à adesão da Ucrânia à UE.

No entanto, um relatório da Bloomberg publicado em agosto sugeria que o presidente Trump tinha abordado a questão da adesão da Ucrânia com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e perguntado qual a razão da sua oposição à candidatura de Kiev.

As declarações de Trump deixam claro que ele é contra a adesão da Ucrânia à NATO.

"Vocês (Ucrânia) podem esquecer a NATO", disse Trump numa reunião de gabinete em fevereiro. "Acho que essa é provavelmente a razão pela qual tudo começou."

Com as portas da NATO fechadas, os ucranianos poderão ver a adesão à UE como um importante "prémio de consolação", ainda relevante no contexto das garantias de segurança.

O aprofundamento dos laços de segurança com os membros da UE pode, de facto, reforçar a capacidade da Ucrânia de se opor ao projeto imperialista de Moscovo, diz Lokker.

"O Kremlin terá de pensar duas vezes antes de atacar um país protegido pela cláusula de defesa mútua do bloco, especialmente tendo em conta o rearmamento maciço atualmente em curso na União Europeia", acrescentou.

Ajudar a promover a adesão da Ucrânia pode ser uma forma atrativa de Washington satisfazer as exigências persistentes de Kiev em matéria de garantias de segurança, reduzindo simultaneamente a sua própria quota-parte do fardo da segurança europeia.

"Faria sentido do ponto de vista de Trump", disse Lokker.

Sendo o maior país aderente - e com os EUA a deterem agora uma participação económica significativa no seu sector mineral - o sucesso económico da Ucrânia traria benefícios substanciais para Washington.

Mas a concretização deste potencial exigirá um enorme esforço de reconstrução pós-guerra.

O avanço da integração da Ucrânia na UE apoiaria esse esforço, desbloqueando um financiamento significativo para ajudar a transformar a sua economia.

Será que isso convence o presidente dos EUA? Não é claro.

De acordo com Bindenagel, Trump vê a Ucrânia como parte de uma guerra com a Rússia que ele quer desesperadamente acabar - mas apenas para ser celebrado como um pacificador mais tarde.

"Por isso, quer que a Rússia acabe com a guerra, mas não quer fazer nada a esse respeito.

O fracasso da cimeira russo-americana no Alasca, no verão, bem como a reunião Trump-Putin, em Budapeste, que acabou por ser cancelada, são uma prova disso.

"É difícil ler Trump nesta matéria, porque não tem uma estratégia clara", disse Lokker. "Basta ver todas as reviravoltas na Ucrânia desde que ele assumiu o cargo."

Ir para os atalhos de acessibilidade
Partilhe esta notícia Comentários