Defesas antiaéreas da Ucrânia neutralizaram sete dos 10 mísseis disparados pela Rússia. A tragédia podia ter sido maior: pelo menos 10 abrigos estavam fechados
Pelo menos cinco pessoas morreram e mais de 40 ficaram feridas num ataque aéreo russo que atingiu de madrugada um prédio em Lviv, na Ucrânia, a cerca de 70 quilómetros da Polónia.
A tragédia podia ter sido maior: pelo menos 10 abrigos antimíssil estavam fechados. As autoridades abriram um processo-crime e ordenaram daqui em diante a abertura sem limites de todos os abrigos na cidade, noticia a agência Interfax.
As defesas antiaéreas ucranianas terão neutralizado sete dos 10 mísseis disparados pela Rússia, a partir do Mar Negro, contra alvos em Lviv, por volta da uma da manhã desta quinta-feira, hora local (menos duas horas em Lisboa).
Além do edifício residencial onde morreram as cinco pessoas, com idades entre os 21 e os 95 anos, mais de 30 outros prédios, um orfanato e duas universidades também ficaram danificados, revelaram as autoridades locais.
A UNESCO, por seu turno, condenou o bombardeamento de um "edifício histórico" em Lviv: "Este ataque, o primeiro numa área protegida pela Convenção do Património Mundial desde o início da guerra em 24 de fevereiro de 2022, é uma violação desta convenção."
A organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura acrescentou ainda que o ataque desta madrugada viola também "a Convenção de Haia de 1954 para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito Armado", e expressou as condolências pelas cinco vítimas mortais em Lviv.
Pelo menos 64 pessoas tiveram de deixar as suas casas, informou o Ministério da Administração Interna da Ucrânia.
Alguns residentes do prédio mais atingido relataram uma experiência aterradora.
"Regressei e descobri que a minha mãe e os meus vizinhos tinham morrido. Parece que fui a única sobrevivente do quarto andar. É um milagre", dizia uma mulher aos jornalistas, pela manhã.
Uma outra, mais velha, disse que "se não fossem os socorristas", não tería saído do apartamento. "Os socorristas arrombaram a porta e deixaram-nos sair. Fiquei sem o apartamento... Não tenho palavras. Fiquei sem nada", lamentou.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, publicou imagens registadas por _drone d_os edifícios atingidos em Lviv vistos de cima. O terceiro e o quarto andares do edifício mais atingido ficaram destruídos.
Centenas de milhares de refugiados de guerra ucranianos procuraram segurança em Lviv, vindos de outras zonas a leste. É também a cidade onde as crianças expatriadas pela guerra regressam para se reencontrar por alguns dias com os pais que combatem a invasão russa na linha da frente.
Numa publicação nas redes sociais, Zelenskyy prometeu: "Haverá certamente uma resposta ao inimigo. Uma resposta forte".
"Este é o maior ataque a infraestruturas civis em Lviv desde o início da invasão em grande escala" da Ucrânia, descreveu o presidente da Câmara de Lviv, Andriï Sadovyi, no Telegram.
Lviv está a mais de 800 quilómetros da linha da frente da reconquista ucraniana. Mesmo assim, a cidade e a região circundante já foram alvo de diversos ataques desde a invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.
Na frente militar, Volodymyr Zelensky considerou que a lentidão na entrega de armas à Ucrânia atrasou a contraofensiva de Kiev, o que permitiu a Moscovo reforçar as suas defesas nas zonas ocupadas, nomeadamente com minas.
"Estou grato aos Estados Unidos (...) mas disse-lhes a eles e aos europeus que gostaríamos de começar a nossa contraofensiva mais cedo e que precisaríamos de todas as armas e equipamento para isso", expressou o líder ucraniano, numa mensagem que deve repetir de novo na próxima semana, na cimeira da NATO.