De acordo com o Enviado da União Europeia (UE) para as Sanções, David O' Sullivan, as medidas tomadas pelo Ocidente para levar os países a restringirem a circunvenção às sanções estão a resultar, tendo muitos deles tornado "mais difícil" para a Rússia importar esses produtos.
A Comissão Europeia suspeita que vários países próximos da Rússia deixam que o seu território seja usado para reexportar produtos críticos fabricados na UE e que são usados no esforço de guerra de Moscovo contra a Ucrânia. Mas a situação parece estar a mudar.
"Não querem ser plataformas de circunvenção. Não querem que as suas jurisdições sejam utilizadas para permitir que os militares russos continuem a ter acesso a estes produtos letais", explicou David O'Sullivan à euronews.
O'Sullivan afirmou que os aliados ocidentais (UE, EUA, Reino Unido e Japão), identificaram 38 produtos prioritários suspeitos de serem exportados em grandes quantidades para países terceiros e depois reexportados para a Rússia, incluindo os chamados "produtos do campo de batalha" utilizados nos mísseis e drones russos.
Equipas da UE, do Reino Unido e dos EUA visitaram os Emirados Árabes Unidos, o Quirguistão, a Turquia, o Cazaquistão, o Uzbequistão, a Arménia e a Sérvia, nos últimos meses, para obter o apoio dos governos na luta contra a circunvenção às sanções.
"Temos viajado para estes países nos últimos meses, por vezes individualmente, por vezes em grupo (EUA-Reino Unido-UE, EUA-UE, UE-Reino Unido). E penso que obtivemos uma resposta bastante positiva sobre esta questão", acrescentou.
No entanto, o diplomata sublinhou a necessidade de uma "vigilância constante" para garantir que outros países não se tornem canais de circunvenção.
"Temos de analisar a evolução, porque a experiência diz-nos que quando se fecha um canal, surge um novo", afirmou.
Um pacote de sanções para resolver a circunvenção
O 11º pacote de sanções da UE contra a Rússia, introduzido no final do mês passado, tem como objetivo colmatar as lacunas e evitar a circunvenção, incluindo através de um instrumento a ser utilizado contra os países facilitadores. Será uma medida de último recurso para restringir a venda, o fornecimento, a transferência e a exportação de bens e tecnologias sancionados para determinados países terceiros.
O'Sullivan afirmou que as sanções introduzidas até à data estão a ter um impacto tangível, impedindo a Rússia de obter armas sofisticadas e afetando a economia do país.
"Tradicionalmente, a Rússia tinha um excedente orçamental bastante significativo. Agora caiu em défice e prevê-se que continue a ter dificuldades, uma vez que transfere dinheiro do setor produtivo - educação, investigação, segurança social, etc. - para a economia de guerra", afirmou.
A China e a Índia representam "um desafio totalmente diferente no que respeita à questão das sanções".
Ambos os países se recusaram a condenar a guerra ou a impor sanções económicas. O último pacote de sanções da UE incluía três empresas sediadas na China, suspeitas de permitirem a circunvenção.
Bens congelados para reconstruir Ucrânia
A UE e os seus parceiros estão também a tentar encontrar uma forma de utilizar milhares de milhões de euros em ativos russos imobilizados para ajudar a reconstruir a Ucrânia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse na semana passada que a instituição está a analisar "com muita prudência" um imposto sobre os lucros desses ativos, que poderia gerar receitas de até três mil milhões de euros por ano.
O Banco Central Europeu manifestou a sua preocupação com o plano, alegando que poderia minar a confiança no euro e causar mais instabilidade económica.