Ter uma PME e sobreviver à crise

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Entrevista do jornalista da euronews Serge Rombi a Antonio Tajani, vice-presidente da Comissão Europeia e Comissário Europeu da Indústria e do Empreendedorismo.

Serge Rombi: Fábricas que fecham portas, trabalhadores no desemprego, PME que não sobrevivem à crise…É um cenário fatalista ou vamos conseguir sair disto?

Antonio Tajani: Temos de conseguir sair. Estamos muito empenhados em colocar a economia real no centro da política económica. Cometemos erros no passado, porque nos centramos exclusivamente nas finanças e nos serviços. Pusemos de lado a indústria e as empresas. É preciso fazer exatamente o contrário: focar na indústria e nas empresas, utilizando as finanças para ajudar a economia real.

SR: E é com urgência, porque há setores muito afetados, como o do automóvel. A maioria dos construtores europeus está a ser fortemente atingida pela crise. Carlos Ghosn, o diretor-executivo da Renault, afirmou recentemente em Paris que, a continuar assim, o grupo pode mesmo desaparecer…

AT: Estamos a preparar um plano de intervenção no setor automóvel. Nos próximos quadros financeiros, vamos aumentar em mil milhões e meio de euros as verbas destinadas à pesquisa e à inovação no domínio dos veículos verdes. Estes veículos estarão no centro da nova política industrial. Por isso, faremos todos os possíveis para vencer este desafio, ajudando alguns setores. O setor das Pequenas e Médias Empresas… Há 23 milhões de PME que constituem a força motriz da nossa economia. É preciso ajudar a criar novos postos de trabalho. Se cada uma destas PME gerar um posto, teremos mais 23 milhões de empregos para os jovens. Daí ser necessário reforçar a inovação, a competitividade e a internacionalização das PME.

SR: Já voltamos ao tema das PME. Um outro exemplo concreto, na área da indústria, é o setor do aço, particularmente atingido em países como França, Itália, Finlândia ou Espanha. É uma tendência passível de ser revertida?

AT: Estamos a trabalhar para isso com os sindicatos, com as empresas e com o Parlamento Europeu. Vou apresentar outro plano de intervenção, para o setor do aço, até ao fim do primeiro semestre de 2013, depois de estudarmos tudo o que a Europa pode fazer para fortalecer este setor que é crucial. É óbvio que existe um problema de competitividade com as empresas chinesas e do Extremo Oriente. É necessária uma estratégia única, um verdadeiro plano de ação para defender este setor tão crucial para a nossa economia.

SR: Um plano para meados de 2013?

AT: Certamente.

SR: Já falou também de deslocalizações. Numa entrevista recente disse que “o vento está a mudar de direção”. Em que é que se baseia para afirmar isso?

AT: O contexto obriga-nos a descobrir as indústrias. Se queremos ganhar o desafio da crise, é preciso impedir que elas fujam. Não podemos simplesmente exigir mais sacríficios aos cidadãos. Não podemos simplesmente falar em reduzir a dívida pública. Há que estudar uma estratégia… que está a ser preparada, justamente, pela Comissão Europeia. O objetivo é o de que, até 2020, a atividade industrial represente 20 por cento do PIB. Há uma estratégia efetiva para fortalecer a indústria e tentar reconquistar a posição que tínhamos antes. Há alguns anos, esses 20 por cento já pertenciam à indústria. Com a nova estratégia, as coisas vão mudar, não é para voltar atrás. É preciso olhar para as políticas de forma diferente, valorizando o fator da qualidade para ganhar o desafio face à China, à Índia, à Rússia, aos Estados Unidos, ao Brasil. Na questão da quantidade, não podemos vencer, mas ganhamos se aproveitarmos as vantagens de ter uma rede europeia.

SR: Em relação às PME… Se assumir o papel de um empreendedor, temos encontrado vários na euronews, ele terá à sua frente inúmeros obstáculos: a pesada máquina administrativa, a corrupção, por vezes, processos difíceis. O sentimento de impotência é frequente. Também se deparam com o grande problema que são as faltas de pagamento. É possível dar garantias sobre estas questões, redinamizar os empreendedores?

AT: Fizemos um estudo no qual perguntámos aos empreendedores quais os dez obstáculos mais relevantes na Europa. Estamos à espera dos resultados para avançar com medidas concretas. Já melhorámos o sistema de regulamentação para as PME. Também estamos a reduzir a carga administrativa. O objetivo é que se possa criar uma nova empresa em três dias, com apenas 100 euros. Depois também pretendemos facilitar o acesso ao crédito. Organizámos um fórum destinado a explicar às PME como aceder ao financiamento. Em relação aos atrasos nos pagamentos, há uma diretiva europeia que deverá entrar em vigor em todos os Estados-membros até ao final de março de 2013. As administrações públicas têm um prazo de 30 a 60 dias para pagar às PME, senão enfrentam uma penalização de 8 por cento. Todos os Estados-membros têm de aplicar a diretiva. Trata-se de uma mensagem clara da Europa aos empreendedores e aos trabalhadores. Se uma empresa pequena só receber os pagamentos ao final de um ano, acaba por morrer, e com ela morrem postos de trabalho, dezenas de milhares, ao todo.

SR: Uma última pergunta. É a Semana Europeia das PME, quero abrir o meu próprio negócio, lançar-me como empreendedor, e tenho a sorte de ter à minha frente o vice-presidente da Comissão Europeia e Comissário para a Indústria e Empreendedorismo. Aconselha-me a investir em que setores?

AT: Penso que é melhor experimentar o setor da nova economia. Sugiro o espaço. Sugiro o turismo, as nanotecnologias, a biotecnologia, as áreas mais modernas, nas quais a Europa pode ganhar. Insisto: o turismo e o espaço. O grande projeto Galileu prevê lançar 30 satélites antes de 2020, alguns já estão lá em cima. Várias áreas vão beneficiar: a agricultura, os transportes, a saúde, a proteção civil, a pesca. São setores que comportam boas perspetivas de sucesso.

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