A morte da nota de 500 euros que muitos europeus nem conheceram

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De  Francisco Marques com reuters, bce, bdp
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Em nome da luta contra o terrorismo e o branqueamento de capitais, ter na mão 500 euros vai passar a ser… mais pesado. Pelo menos para os europeus

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Em nome da luta contra o terrorismo e o branqueamento de capitais, ter na mão 500 euros vai passar a ser… mais pesado. Pelo menos para os europeus que tiveram o privilégio de lidar com a nota de valor mais alto alguma vez impressa pelo Banco Central Europeu (BCE) e que, em Portugal, até há não muito tempo era suficiente para pagar um ordenado mínimo e ainda valia troco ao empregador.

Depois de muita discussão, em especial entre os responsáveis financeiros franceses e alemães, o BCE anunciou esta semana a decisão de acabar com o papel-moeda de meio milhar de euros e aos poucos vai mesmo retira-las da circulação para estancar um suposto recurso para se movimentar dinheiro de forma clandestina.

So it's goodbye to the €500 note https://t.co/aiCH1xEwSapic.twitter.com/8EiD9jhWJT

— Bloomberg (@business) 5 de maio de 2016

A nota de €500

A mais valiosa nota corrente de euro alguma vez impressa pelo BCE entrou em circulação a 1 de janeiro de 2002, com a introdução da moeda única europeia. É a maior nota, em dimensão, das que compõem a presente série em circulação de papel-moeda da divisa comum europeia: 160×82 milímetros. Integras diversos meios de segurança como marcas de água, tinta invisível, hologramas e micro impressões. Apresenta de base uma cor púrpura e dá destaque ao período da arquitetura moderna do século XX.

Embora de falsificação muito difícil, é muito procurada por pessoas que pretendem movimentar grandes quantidades de dinheiro entre fronteiras sem o declarar. Cresce o receio que seja um recurso habitual entre células terroristas a operar sobretudo na Europa. Não é usual a utilização desta nota em compras do dia-a-dia, mas é tão legal como todas as outras. O Banco de Portugal avisa que não pode ser solicitada a identificação de quem pretende fazer pagamentos com uma nota destas.

A facilidade de uso desta nota em atividades ilícitas reflete-se por exemplo na comparação de duas malas com o equivalente a um milhão de dólares norte-americanos. Uma composta por notas de 100 dólares — a mais alta ainda impressa pelo Tesouro norte-americano — terá à volta de 10 quilos. Outra, apenas com notas de 500 euros, teria apenas cerca de 2 quilos. Transportar dinheiro dissimulado é, por isso, muito fácil recorrendo a notas de 500 e para isso, já há dois meses, o ministro das Finanças de França havia avisado. “A nota de 500 euros é mais usada para dissimular quantidades do que para compras. É normal colocarmos em causa a utilização desta nota”, defendeu Michel Sapin, num género de braço de ferro que, então, parecia ocorrer com os responsáveis do Bundesbank, o banco central alemão.

Os alemães gostam da sensação do dinheiro vivo e preferem usar as notas aos cheques ou às transferências bancárias. A política financeira germânica, muitas vezes com taxas baixas para os depósitos e investimentos, também leva muitos cidadãos a preferir guardar o dinheiro em casa face aos bancos e que melhor forma de ter as poupanças debaixo do colchão do que em notas de 500 euros?

A mais alta nota de euro alguma vez impressa pelo BCE vai manter-se em uso, entrando para a montra das notas descontinuadas mais valiosas do mundo ainda em circulação e cada vez mais valiosas no circuito paralelo de coleccionadores pela sua raridade. É o caso da de 10 mil dólares norte-americanos — cerca de 1 grama de papel com um valor legal a rondar os 8740 euros; ou a de 10 mil dólares de Singapura — 6440 euros (quadro em baixo).

Ainda em impressão, por outro lado, mantém-se, por exemplo, as de 10 mil dólares do Brunei (com um valor cambial de cerca de 6420 euros) e a de 1000 francos suíços, que na divisa europeia vale quase o dobro da nota agora condenada pelo BCE: pouco mais de 900 euros.

O papel-moeda que poucos portugueses tiveram oportunidade de conhecer e que o BCE decidiu agora deixar de imprimir, será recolhido progressivamente nos próximos tempos e estima-se que saia de circulação até ao final de 2018.

ECB ends production and issuance of €500 banknote https://t.co/J8P2yAEDin

— ECB (@ecb) 4 de maio de 2016

“À luz do papel internacional do euro e da confiança generalizada do respectivo papel-moeda, as notas de 500 euros vão manter-se legais e, por conseguinte, podem ser usadas como meio de pagamento e de preservação de valor. O Eurossistema, que compreende o BCE e os bancos centrais de cada país, irá dar os passos necessários para garantir que as restantes denominações se mantenham disponíveis em quantidades suficientes”, lê-se no comunicado do BCE.

O regulador europeu está em processo de lançamento de uma nova série de papel-moeda a que deu o nome de Europa e que integra novos sistemas de segurança contra falsificação. Das novas notas, as de cinco, dez ou 20 euros já se encontram em circulação. Também até ao final de 2018 está planeado que sejam colocadas em circulação as novas versões de segurança reforçada das notas de 50, 100 e 200 euros da série Europa.

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