Braço de ferro franco-britânico em alto mar

Agora é altura de apurar os estragos após o confronto em alto mar entre pescadores franceses e britânicos por causa da pesca da vieira. O facto de a captura desta espécie estar sujeita a leis nacionais, e não europeias, gera um braço de ferro que chegou a vias de facto.
"Só agora é que começámos a descomprimir. Mas é difícil. E é difícil para o barco. Houve um barco inglês que chocou com o meu. Esmagou uma parte. O problema não é que eles pesquem aqui. É que eles só deviam começar em outubro, ao mesmo tempo que nós. Mas se começam um mês e meio antes, nós depois só ficamos com as migalhas", diz-nos Franck Tousch, pescador francês.
A questão é que os britânicos têm direito a pescar vieiras ao longo do ano, ao contrário dos franceses, que só podem fazê-lo entre maio e outubro.
"Todos nós andamos angustiados: temos barcos para pagar, famílias a sustentar... por isso, decidimos que vamos fazer-lhes frente", aponta Julien Hue, outro pescador.
As embarcações britânicas podem operar até 22 quilómetros da costa da Normandia. Mas há uma exceção, que foi onde os confrontos ocorreram: a chamada Baía do Sena, rica no tão disputado molusco. Do lado inglês, o problema vai muito além dos danos nos barcos.
"Os nossos pescadores também passam dificuldades. Mas não andam a cercar ninguém, nem a lançar pedras. É absurdo. Estão a fazer a própria lei. Vamos expulsá-los a meio caminho para ver como se sentem. Eles pescam mais nas nossas águas do que o contrário. A marinha francesa devia ter feito alguma coisa, devia tê-los afastado. Agora não sei o que fazer... Podemos voltar ou não? Nós temos autorização, mas não sei", afirma Derek Meredith, armador inglês.
Já os pescadores franceses esperam que o Brexit resulte na interdição destas águas aos vizinhos do outro lado da Mancha.