Andaluzia poderá ser o "viveiro" da extrema-direita em Espanha?

Andaluzia poderá ser o "viveiro" da extrema-direita em Espanha?
Direitos de autor REUTERS/Marcelo Del Pozo
De  Ana LAZARO
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Quatro décadas após a queda do fascismo, a extrema-direita espanhola voltou ao palco político na Andaluzia, província que tem prosperado graças às estufas agrícolas onde trabalham milhares de imigrantes. Poderá esta província ser o "viveiro" da extrema-direita em Espanha?

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Quatro décadas após a queda do fascismo, a extrema-direita espanhola voltou ao palco político na Andaluzia, região autónoma que tem prosperado graças ao chamado "mar de plástico".

São estufas agrícolas onde milhares de imigrantes, sobretudo vindos de África, fazem o trabalho que os locais consideram demasiado pesado.

Em El Ejido, quase um terço dos 90 mil habitantes são imigrantes e muitos trabalham em difíceis condições, segundo um sindicalista.

"Existe uma grande hipocrisia porque se, de repente, estes imigrantes voltassem para seus países, os donos iriam procurar outros trabalhadores como eles porque precisam de mão-de-obra como a que temos aqui, pouco qualificada, para obterem lucros", disse, à euronews, Spitou Mendi, da União dos Trabalhadores Rurais.

Apesar dos imigrantes não serem responsáveis por haver pouco emprego mais qualificado, a mensagem do Vox contra esta parte da população terá ajudado ao seu sucesso nas recentes eleições regionais.

O partido de extrema-direita venceu as eleições neste município com 29,5% dos votos.

euronews

Loda Losada, comerciante espanhola, casada com um marroquino, teme pelo futuro: "Há momentos em que a coexistência é difícil, há uma grande disparidade de opiniões. Mas isto pode ser a ruína de Espanha e da sua juventude".

Outro argumento contra a migração usado pelo Vox tem a ver com o acesso a certos serviços públicos, tais como a saúde ou a educação, usando o slogan "os espanhóis primeiro".

O presidente da câmara de El Ejido, Francisco Góngora, reconhece que, havendo meios limitados, é necessário continuar a apostar em medidas de integração.

"Temos uma capacidade limitada e, neste momento, é verdade que temos alguns problemas. Por exemplo, ter vagas nas escolas perto das casas das crianças. É necessário trabalhar muito mais na questão da imigração porque não o temos levado suficientemente a sério".

Partidos tradicionais e independentismo

A desilusão com os partidos tradicionais pode ser um dos fatores que mais pesou na viragem. Os socialistas governaram a região por mais de três décadas e, nos últimos anos, têm estado associados a casos de corrupção.

"Sentimo-nos desapontados, abandonados pelo governo regional da Andaluzia. Estão no poder há 36 anos e só se lembram de nós quando há eleições", referiu Manolo López, trabalhador independente, simpatizante do Vox.

Os analistas dizem que a extrema-direita também ganhou "asas" por causa da crise do movimento independentista na Catalunha, reavivando as forças mais nacionalistas.

A enviada da euronews, Ana Lázaro, acrescenta: "Dizia-se que Espanha ficou vacinada contra a extrema-direita após 40 anos de ditadura sob Franco e que era uma espécie de exceção europeia. Mas as eleições da Andaluzia mostraram o contrário e o Vox vai voltar a medir forças em breve, nas eleições municipais e europeias".

Nome do jornalista • Isabel Marques da Silva

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