Alterações climáticas trazem novas oportunidades aos mares

Em parceria com The European Commission
Alterações climáticas trazem novas oportunidades aos mares
De  Denis Loctier
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Pescadores e cientistas estão a colaborar num projeto para medir os efeitos das alterações climáticas nos mares e gerar novas oportunidades.

Poderá o aquecimento global deixar-nos sem peixe e aos pescadores sem rendimento? Ou poderemos encontrar novas oportunidades no novo clima? Em Itália, tal como em toda a Europa, cientistas e pescadores procuram respostas.

Ettore Malfer tem mais de 80 anos. Começou a pescar logo depois da escola primária, aos 7 ou 8 anos.  Tem pescado no Lago de Garda, ao longo da vida. Antes, as enguias e os peixes endémicos eram abundantes. Agora, diz que quase desapareceram. Não sabe por quê, mas suspeita que possa ter algo a ver com as alterações climáticas que afetam o lago.

"Há cerca de 30,40 anos tínhamos quatro estações distintas: primavera, verão, outono e inverno. Hoje em dia, está tudo muito confuso, os invernos não são tão frios como costumavam ser e os verões são quentes demais", conta Ettore.

Para encontrar respostas para o problema, os pescadores do Lago de Garda estão a trabalhar com cientistas num projeto de investigação europeu. O ClimeFish, pretende estudar os efeitos das alterações climáticas na pesca e na aquacultura.

A cooperativa local de pescadores, com uma frota de 12 barcos de pesca, está a fornecer dados e amostras para os investigadores.

"Como vimos uma quebra nas capturas, é muito importante trabalhar em colaboração com os investigadores e dar-lhes os instrumentos necessários para compreender as causas destas mudanças e encontrar possíveis soluções", afirma Alessandra Mazzola, gerente da cooperativa.

ClimeFish

O Lago de Garda é um dos 15 casos em estudo do projeto que abrange lagos e lagoas de água doce, pesca marítima e aquaculturas de toda a Europa.

Michaela Aschan, professora Biologia e Gestão da Pesca, na Universidade do Ártica da Noruega, e coordenadora do projeto ClimeFish. sabe a investigação passa pelo diálogo com os vários agentes do processo. "Conversámos com as partes interessadas e perguntámos: quais são para vocês os principais desafios para o futuro? E depois voltámos para os nossos biólogos e modeladores e pedimos que ajustassem os modelos", revela.

Os investigadores aperceberam-se de que o clima mais quente na Europa está a fazer com que peixes e moluscos cresçam mais rápido, o que pode ser uma boa notícia para a indústria. Mas a pesca excessiva e outras ameaças também estão a aumentar.

Apesar de poder trazer algumas vantagens, os cientistas alertam para os perigos dos efeitos do aquecimento global nos mares.

"O principal problema que a pesca está a enfrentar é a migração do peixes para áreas mais a norte, especialmente no nordeste do Atlântico. Vemos também que, no caso da aquacultura, enfrentam uma maior proliferação de parasitas e doenças", revela Mariola Norte, do Centro Tecnológico do Mar (CETMAR).

Com base na pesquisa, os investigadores estão a preparar um conjunto de recomendações práticas sobre a mitigação dos efeitos das alterações climáticas, para os políticos e a indústria. Estão também a desenvolver uma ferramenta de software para ajudar a gerir as reservas de peixes com mais eficiência.

Astrid Sturm, cientista de computação, da Universidade de Tecnologia de Brandemburgo, revela que quere, "apresentar aos utilizadores diferentes cenários possíveis devido às alterações climáticas. Dentro desses cenários, estamos a concentrar-nos em possíveis resultados, sobre o que aconteceria se algum parâmetro fosse alterado. Com esse conhecimento, os utilizadores finais podem tomar as medidas apropriadas".

Da pesca de arrastão na Suécia às aquaculturas inovadores nas Ilhas Canárias, as alterações climáticas estão a apresentar a toda a indústria novos riscos e oportunidades. O que torna premente os países da União Europeia reverem os padrões e as diretrizes de proteção da pesca e de apoio ao setor.

O rumo a tomar é claro para a coordenadora do projeto ClimeFish. "Cabe a nós, como seres humanos, regular adequadamente as reservas e chegar a um acordo entre as diversas partes, para depois termos uma boa pesca", defende.

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