Avanços e recuos da UE em matéria de desenvolvimento sustentável

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De  Elza GONCALVES
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A União Europeia decidiu integrar os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU na análise dos orçamentos de cada Estado Membro, o chamado semestre europeu. A euronews analisou o exemplo da Dinamarca.

A União Europeia decidiu integrar os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU na análise dos orçamentos de cada Estado-Membro, o chamado Semestre europeu. Os dezassete objetivos fixados pelas Nações Unidas pretendem garantir um futuro sustentável e responder aos desafios atuais em matéria de pobreza, desigualdade, alterações climáticas, degradação ambiental, paz e justiça.

Progresso fez progressos limitados em 2019

A União Europeia pretende atingir os objetivos da ONU em 2030, em particular, na área económica e na área social. No âmbito do Semestre Europeu, um processo anual de monitorização das políticas fiscais e económicas, a Comissão Europeia analisa o desempenho de cada Estado- Membro.

Os países mais avançados neste domínio são a Dinamarca, a Suécia, a Finlândia, a França, a Áustria, a Alemanha e os Países Baixos. No entanto, ao ritmo atual nenhum desses países vai atingir as metas. A lista dos países mais atrasados na prossecução dos objetivos da ONU são a Grécia, a Bulgária, a Roménia e Chipre. Segundo a análise da Comissão Europeia, Portugal fez progressos limitados em 2019.

O exemplo da Dinamarca

A Dinamarca, um dos países mais avançados em relação à concretização dos dezassete objetivos fixados pelas Nações Unidas, é vista como um exemplo no que toca às energias limpas, à sustentabilidade e ao combate contra as alterações climáticas.

A euronews esteve em Sonderborg, uma pequena cidade empenhada em atingir a neutralidade carbónica em 2029. Graças ao projeto Zero, Sonderborg quer tornar-se na primeira cidade europeia a suprimir totalmente as emissões de CO2. O objetivo do projeto é provar que é possível fazê-lo com a participação ativa das empresas locais e dos habitantes. A iniciativa reúne fundos do município e das empresas do setor energético.

Cidade dinamarquesa reduz 40% das emissões de CO2

"Enquanto parceria público-privada podemos trabalhar em conjunto. O nosso objetivo é a eficiência energética: rever o nosso modo de vida, encontrar formas de reduzir o consumo e as emissões e de produzir novas formas de energia", disse à euronews Hans Lehmann, presidente do conselho de administração do ProjectZero.

Até agora foi possível reduzir quase 40% das emissões de CO2. Falta ainda suprimir 700 mil toneladas de emissões. Uma das soluções passa pela construção de um parque eólico para baixar as emissões para 400 mil toneladas em 2025.

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Hans Lehmann, presidente do conselho de administração do Projeto Zeroeuronews

Empresas participantes já amortizaram investimento

A euronews visitou uma cooperativa de supermercados que aderiu ao projeto Zero em 2016 e que pretende criar um modelo de negócios sustentável. "Neste supermercado, investimos muito dinheiro na iluminação e na medição do consumo. Há uma empresa que monitoriza o nosso consumo de eletricidade, aquecimento, ventilação e ar condicionado. No total, investimos 2,2 milhões de coroas. Já recuperámos esse investimento, valeu a pena", Asger Skov Nielsen, responsável da Cooperativa BALS.

O setor da Habitação Social

A redução do consumo energético do setor residencial é o outro dos objetivos da cidade. Uma das soluções é o aquecimento urbano alimentado por energias renováveis. O setor da Habitação Social está empenhado em servir de exemplo.

"Tem havido vários projetos de renovação e melhorámos muitos aspetos. Poupámos muito dinheiro, apesar de as rendas terem aumentado um pouco. Houve uma grande cooperação e os residentes estão satisfeitos", disse à euronews Jørgen Brodersen, responsável de uma Associação do Setor da Habitação Social na Dinamarca.

A cidade dinamarquesa quer interligar a produção e o consumo de energia. Por exemplo, estão em construção duas fábricas de biogás para transformar os resíduos agrícolas, industriais e domésticos em gás. Os transportes públicos usam biocombustíveis. Apesar dos progressos, ainda há vários desafios. "Temos o dinheiro e as tecnologias. O mais difícil é mudar o nosso modo de vida, tornarmo-nos mais sustentáveis à escala global e nós podemos ser um exemplo", frisou Hans Lehmann, presidente do conselho de administração do ProjectZero.

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Jeppe Kofod, ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarcaeuronews

O modelo dinamarquês é aplicável à Europa?

A euronews entrevistou o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, Jeppe Kofod.

euronews: "Quais são os principais objetivos políticos e qual é o enquadramento legal adequado para atingir os objetivos de sustentabilidade, ​​até 2030, na Europa?

Jeppe Kofod: "Em primeiro lugar, qualquer governo que tenha uma meta ambiciosa para 2030 ao nível do clima, do ambiente e da responsabilidade social terá de analisar as ferramentas de que dispõe. É preciso uma regulamentação adequada e parcerias com o setor privado, com as empresas e os investidores. Para alguns países é mais doloroso, quando é necessário eliminar gradualmente, por exemplo, o carvão. É preciso um plano de longo prazo, é preciso requalificar os trabalhadores das minas de carvão ou das centrais elétricas".

euronews: "Como captar o capital privado necessário para alcançar esses objetivos?

Jeppe Kofod: "O que constatámos na Dinamarca é que não há contradição entre a transição energética, o investimento, por exemplo, em energias renováveis, e a competitividade, a capacidade de atrair investidores. As duas coisas estão ligadas uma à outra se procedermos corretamente. Mesmo após o pico da crise financeira que eliminou muitos empregos na Europa, o único setor que cresceu na Dinamarca foi o da energia limpa, porque queríamos apostar nesse setor. Se fizermos as coisas como deve ser a transição é positiva para o clima, para o ambiente, para o emprego e a melhoria das condições sociais em todos os Estados Membros.

euronews: "Pensa que podemos avançar nessa direção sem que as pessoas percam o emprego?

Jeppe Kofod: "Os empregos atuais no setor dos combustíveis fósseis, por exemplo, vão desaparecer e é preciso criar novos empregos. A grande questão política é ajudar as pessoas que trabalham nesses setores a passarem para um novo setor, novos empregos, o que implica formação e aprendizagem ao longo da vida, investimentos do Estado em educação para preparar a próxima geração, dar aos jovens que estão atualmente no sistema de ensino as ferramentas certas para poderem inovar na nova economia sustentável. É preciso fazer as duas coisas já.

euronews: Pensa que é realista atingir os objetivos da sustentabilidade até 2030?

Jeppe Kofod: "É um enorme desafio. Não quero subestimá-lo. A Dinamarca tinha um grande setor petrolífero nos anos 70, como muitos outros países. Nessa altura, considerámos que era preciso eliminar essa dependência e conseguimos fazê-lo. Até 2030, 100% da nossa eletricidade será produzida a partir de fontes renováveis. A nível mundial, podemos ver que a China está a progredir, eles precisam desse tipo de tecnologia que nós podemos produzir. Há o caso recente da Índia com mil e trezentos milhões de pessoas em transição. A África e a América Latina também precisam das nossas ideias e tecnologias. Se desenvolvermos este setor, podemos criar empregos para a Europa.

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