Relação dos EUA com Ásia vai obrigar UE a rever parceria

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De  Isabel Marques da SilvaDarren McCaffrey
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Quatro anos da presidência republicana a cargo de Donald Trump puseram em causa a aliança militar e criaram uma guerra fria a nível comercial.

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Dos escombros da Segunda Guerra Mundial surgiu uma forte cooperação entre os Estados Unidos da América e os países europeus.

O Fundo Marshall foi um instrumento financeiro crucial para reconstruir a economia europeia e a NATO serviu de escudo militar protetor face à União Soviética. A cooperação política transatlântica lançou, de algum modo, as bases para criar a própria União Europeia.

Mas quatro anos da presidência republicana a cargo de Donald Trump puseram em causa a aliança militar e criaram uma guerra fria a nível comercial.

Reverter esse cenário só será possível se ganhar o democrata Joe Biden, dizem os analistas politicos.

"Biden tentaria consertar e restabelecer a aliança multilateral, especialmente com a União Europeia, com a qual tem um longo relacionamento. Isso não quer dizer que será fácil voltar ao estado inicial porque foram causados muitos danos na confiança mútua", explicou Robert Malley, ex-conselheiro do presidente democrata norte-americano Barack Obama.

"Mas penso que a Europa saberá que seja eleito Trump ou Biden, ou outro líder a seguir, será sempre necessário aprofundar a sua autonomia estratégica. Isso é necessário mesmo que as relações com os EUA possam melhorar de forma considerável se Joe Biden ganhar", acrescentou Robert Malley.

A desintegração da própria União Europeia?

Caso se confirme um segundo mandato de Trump, a situação poderá ser muito agravada, considera Jana Puglierin, analista política no Conselho Europeu de Relações Exteriores: "O maior medo é que a União Europeia  se desmorone, porque haveria um campo político que veria o segundo mandato de Trump como uma oportunidade de fortalecer a soberania europeia, mas haveria outro campo que tentaria manter a ligação aos Estados Unidos a qualquer preço". 

"Isso poderia facilmente dividir a União Europeia e é o maior receio do governo de Berlim, porque a Alemanha sempre apostou em manter o clube europeu unido, mobilizando tanto os polacos como os franceses, o norte e o sul", disse, ainda, Jana Puglierin. 

A incontornável China para um país bi-oceânico

Seja qual for o ocupante da Casa Branca, os novos equilíbrios geo-políticos dependem muito da relação que os EUA terão com a China, maior potência da Ásia. Oceano Atlântico e Oceano Pacífico são ambos cruciais para os interesses norte-americanos.

“Existem razões estruturais pelas quais a ascensão da China faz diferença para o futuro dos Estados Unidos, mas também em termos da posição da Ásia em geral. Os EUA são, no final das contas, uma potência bi-oceânica e isso foi sempre determinante na nossa construção", afirmou Ian Lesser, vice-diretor do centro de estudos The German Marshall Fund of the US.

"Penso que haverá um reequilíbrio. Também há mudanças demográficas e geracionais nos Estados Unidos que, provavelmente, nos vão empurrar nessa direção. É evidente que os jovens nos Estados Unidos estão a prestar mais atenção à Ásia e, provavelmente, um pouco menos à Europa. Mas ainda existem razões de grande peso para os Estados Unidos cuidarem da relação com a Europa", concluiu Ian Lesser.

A aliança transatlântica talvez não desapareça em breve, mas poderá nunca mais voltar a ser o que foi nos últimos 75 anos.

A União Europeia percebeu que tem de promover a solidariedade política interna e maior auto-suficiência na economia, defesa e diplomacia.

E depois de ter reforçado os laços com o Canadá e o Japão, deverá apostar em novas parcerias formais com regiões tais como a África, a América Latina e a Índia, para manter a sua relevância geopolítica e económica.

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