Os afegãos são um dos povos que mais pede asilo na União e o bloco tem sido constante na ajuda humanitária ao país em guerra há duas décadas, ciente do impacto no seu próprio território.
A União Europeia prometeu doar mais 1200 milhões de euros ao Afeganistão para o período de 2021-2025. O anúncio foi feito na conferência virtual sobre assistência ao país que decorreu, segunda e terçã feira, com a participação de cerca de 70 governos.
o bloco europeu quer ajudar a minorar o sofrimento no país, mas sabe que também ganhará em termos de segurança do seu próprio território.
Apesar do acordo para a paz assinado, em fevereiro passado, entre os EUA e os rebeldes Talibã, o país é palco de violência constante, tendo morrido quase seis mil civis (5939 ) entre janeiro e outubro deste ano. As crianças representam 31% e as mulheres 13% dessa estatística.
“Temos que perceber que nas negociações de paz para o acordo de Doha, entre os EUA e os Talibã, havia cinco capítulos. Quatro capítulos foram concluídos. O único que resta fechar é o cessar-fogo. Penso que a comunidade internacional tem o direito, o dever e a responsabilidade de exigir aos Talibã que implementem o cessar-fogo, não amanhã, mas hoje, porque o cessar-fogo não deve chegar no fim do processo de paz, algo que ainda levará muito tempo. Poderá demorar meses, talvez anos", disse Roland Kobia, enviado especial da União Europeia para o Afeganistão.
Asilo, narcóticos e islamismo radical
Os afegãos são um dos povos que mais pede asilo na União e o bloco tem sido constante na ajuda humanitária ao país em guerra há duas décadas, ciente do impacto no seu próprio território.
“Aquilo a que assistimos no passado é que a instabilidade que vem do Afeganistão atinge as regiões mais distantes desse país, tais como a Europa. O Afeganistão é, atualmente, o ponto de origem do maior número de migrantes irregulares na Europa, algo muito importante. Devemos encontrar a melhor maneira de lidar com essa realidade e analisar as causas profundas. Também existe o problema dos narcóticos. O Afeganistão é o primeiro produtor de heroína do mundo. Há uma série de questões importantes, incluindo o radicalismo islâmico violento a outras ideologias radicais, que são de certo modo exportadas para fora do Afeganistão e chegam aos nossos países”, acrescentou o enviado especial.
Saída das tropas dos EUA
Há quase 20 anos no país, depois dos ataques terroristas da Al-Qaeda (protegida pelos talibãs) em Nova Iorque, o contingente militar dos EUA, tem sido progressivamente reduzido e poderá descer para apenas 2500 operacionais em janeiro.
"Vejo que o presidente Donald Trump está a entregar um presente de despedida envenenado ao presidente-eleito Joe Biden, ao anunciar a retirada das forças dos EUA. É muito provável que o presidente-eleito Biden tenha que voltar atrás e manter o número atual de tropas até haver uma melhoria da situação no terreno", disse o analista Fabrice Pothier, do centro de estudos Rasmussen Global.
Os diplomatas consideram que depois da conferência poderá haver vontade politica renovada de cessar as hostilidades.
O presidente afegão Ashraf Ghani apresentou uma proposta para alocar os fundos doados até que o cessar-fogo se torne uma realidade, prometendo apostar no combate aos efeitos da pandemia e à projeção das frágeis estruturas democráticas.