"Estado do União": Teste violento à democracia nos EUA

"Estado do União": Teste violento à democracia nos EUA
Direitos de autor Manuel Balce Ceneta/AP
De  Isabel Marques da SilvaStefan Grobe
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Líderes europeus ficaram chocados e incrédulos perante a invasão do Capitólio nos EUA, realçando que o Presidente Donald Trump não entendeu o trabalho para que foi eleito

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Quando Donald Trump assumiu o cargo de presidente dos EUA, há quatro anos, lamentou as divisões na sociedade e criticou o que apelidou de “carnificina americana”.

Esta semana, essa visão algo obscura tornou-se realidade depois do discurso de Trump levar alguns dos seus apoiantes a um estado febril, alimentando-os com teorias da conspiração, tendo uma multidão invadido o Capitólio (sede do Congresso), o coração da democracia norte-americana.

Os líderes europeus reagiram com choque e incredulidade, realçando que Trump não entendeu a natureza de seu trabalho.

Angela Merkel, chanceler da Alemanha: “Uma regra fundamental da democracia é que, depois das eleições, há vencedores e vencidos. Ambos têm que desempenhar seu papel com decência e responsabilidade para que a própria democracia continue vencedora. O presidente Trump lamentavelmente não admitiu a sua derrota desde novembro”.

Emmanuel Macron, presidente da França: "A França está forte, fervorosa e resolutamente ao lado do povo norte-americano e com todas as pessoas que querem livremente escolher os seus líderes e decidir sobre o seu destino e que o fazem através da escolha democrática e livre que são as eleições. Não cederemos em nada à violência de uns poucos que a desafiam”.

"Temo que este não seja o fim da história"

Para analisar em mais profundidade este tema, Stefan Grobe entrevistou Nathalie Loiseau, eurodeputada liberal e ex-diplomata e ministra de França.

Stefan Grobe/euronews: Conhece os EUA muito bem. O que pensou quando viu as imagens sobre o Capitólio? O que sentiu?

Nathalie Loiseau/eurodeputada liberal francesa: Fiquei chocada. Vivi cinco anos em Washington e nunca imaginei que tal cena pudesse acontecer. Mas, simultanemanete, não fiquei surpreendida porque Donald Trump havia dito que algo iria acontecer a 6 de janeiro. E sabemos que ele é cínico, sabemos que ele queria o caos que se verificou.

Stefan Grobe/euronews: A proteção da democracia norte-americana não está no seu melhor, mas não devemos esquecer-nos de que Trump tem milhões de apoiantes, incluindo no Congresso. O que vai acontecer com essa energia insurrecional quando Trump deixar o cargo?

Nathalie Loiseau/eurodeputada liberal francesa: Na verdade, é uma sociedade dividida que Joe Biden vai herdar. Temo que este não seja o fim da história. Ainda faltam 13 dias para o início da presidência de Biden e deverá haver mais protestos. Quatro mortos é muito, mas suspeito que a violência não vai acabar tão depressaa.

Stefan Grobe/euronews: Mencionou Joe Biden, que terá a a tarefa monumental de reconciliar a nação. O que pode efetivamente fazer?

Isto está a acontecer no contexto muito específico da pandemia, de uma crise económica. Logo, o presidente Biden terá muito para fazer. Provavelmente vai focar-se muito na política interna e menos na política externa.
Nathalie Loiseau
Eurodeputada liberal francesa

Nathalie Loiseau/eurodeputada liberal francesa: Penso que é o homem certo, tem experiência, é um moderado e não vai colocar mais lenha na fogueira, vai tentar acalmar e resolver as preocupações principais. Isto está a acontecer no contexto muito específico da pandemia, de uma crise económica. Logo, o presidente Biden terá muito para fazer. Provavelmente vai focar-se muito na política interna e menos na política externa, imagino.

Stefan Grobe/euronews: Que lição se deve retirar para as democracias europeias? Existe o risco de atingirmos esse nível de divisão e de ódio como nos EUA?

Nathalie Loiseau/eurodeputada liberal francesa: Já o alcançámos no passado, no século passado. Recordo o ano de 1934, dia 6 de fevereiro, quando houve revoltas em França, na Assembleia Nacional Francesa, muito parecidas com as que estamos a testemunhar agora. Temos que estar cientes de que a democracia não é um dado adquirido, temos que protegê-la. Temos que lutar por ela. O populismo não é divertido, não é uma anedota. É ameaçador, é perigoso e temos que lutar contra ele.

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