Os microrganismos brasileiros que transformam poluição em alimentos do ecossistema

Colaboradores do "Lagoa Viva" despejam microrganismos líquidos na lagoa
Colaboradores do "Lagoa Viva" despejam microrganismos líquidos na lagoa Direitos de autor AP Photo/Silvia Izquierdo
De  Francisco Marques
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Processo criado nos ano ps 60 e desenvolvido em diversos países está a ser implementado desde agosto em Maricá, no Brasil, com expetativa de exportação

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O projeto "Lagoa Viva", de despoluição sustentável do sistema lagunar de Maricá, município do Rio de Janeiro, no Brasil, está prestes a completar seis meses, prazo definido para avaliar os primeiros resultados.

A iniciativa partiu do governo local, foi desenvolvido por investigadores da Universidade Federal Fluminense e está a ser implementado pela Codemar, a Companhia de Desenvolvimento de Maricá.

A primeira etapa do projeto incidiu na Lagoa de Araçitaba. Nas proximidades foi instalada uma biofábrica para a produção de 'bioinsumos', o termo brasileiro para descrever os microrganismos vivos utilizados para filtrar as águas e transformar os patogénicos em ingredientes que podem ser consumidos pela fauna e vegetação do ecossistema em despoluição.

Os investigadores apontam para efeitos transformadores visíveis em seis meses, como a renovação do ecossistema, a eliminação de mau cheiro e a limpeza da água.

"As lagoas têm uma representação simbólica importante para Maricá. Recuperar o nosso sistema lagunar traz-nos a mensagem de que somos todos, poder público e cidadãos, responsáveis por uma vivência harmónica com o meio ambiente", afirmou o presidente da câmara, Fabiano Horta, na inauguração do projeto, em agosto.

O investigador da UFF Estefan Monteiro, de 56 anos, destaca a "sustentabilidade" como "o foco mais interessante" neste projeto.

"Não estamos a usar químicos nocivos para o meio ambiente nem vamos promover impactos secundários que possam provocar danos com impactos reais", explicou o investigador.

O processo em curso na Lagoa de Araçitaba tem por base uma técnica surgida há cerca de 60 anos e que tem vindo a ser aplicada em diversos países, incluindo o Japão, onde os investigadores brasileiros recolheram informações.

Em Maricá, a técnica foi ajustada à realidade local, onde muita gente despeja os esgotos diretamente nos rios.

Os 'bioinsumos' produzidos têm a forma de bolas ou 'tijolos' sólidos de material orgânico, mas também em líquido, que os colaboradores do projeto, alguns alunos da rede municipal de Maricá, despejam na lagoa.

Os dejetos patogénicos são transformados por estes microrganismos produzidos na biofábrica em novos resíduos, mas num composto que serve de "alimento a peixes, camarões e pássaros, reativando a cadeia local", explicam os promotores.

Para nós, a ousadia é entender que a gestão pública tem de sair da caixinha. A gestão pública precisa de construir soluções fáceis, simples, diretas, mais baratas e com resultados efetivos para a população.
Olavo Noleto
Presidnete da Codemar

O projeto "Lagoa Viva" teve um investimento de 16 milhões de reais, isto é, mais de 2,6 milhões de euros. O município de Maricá aguarda agora os resultados, na expetativa de poder exportar a técnica para outras regiões do Brasil.

Outras fontes • AP, Codemar

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