Os membros da tripulação de um navio de bandeira liberiana incendiado por uma série de ataques no Mar Vermelho abandonaram a embarcação no domingo à noite, quando esta se encontrava a meter água. É o primeiro incidente grave na região após campanha de meses dos Houthi do Iémen.
As suspeitas sobre o ataque ao navio graneleiro Magic Seas, de propriedade grega, recaíram imediatamente sobre os Houthis, em particular porque uma empresa de segurança disse que parecia que barcos drones com bombas atingiram o navio depois de este ter sido alvo de armas ligeiras e granadas propulsionadas por foguetes.
Os meios de comunicação social dos rebeldes noticiaram o ataque, mas não o reivindicaram.
Uma nova campanha Houthi contra o transporte marítimo poderia atrair novamente as forças norte-americanas e ocidentais para a área, especialmente depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter visado os rebeldes numa grande campanha de ataques aéreos.
Ataque acontece em momento delicado
O incidente, o mais grave na região após um cessar-fogo com os Houthis, ocorre num momento delicado no Médio Oriente, quando um possível cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hamas está em suspenso e quando o Irão pondera se deve reiniciar as negociações sobre o seu programa nuclear, na sequência de ataques aéreos americanos contra as suas instalações atómicas mais sensíveis, no contexto de uma guerra israelita contra a República Islâmica.
“É provável que sirva como mensagem de que os Houthis continuam a ter a capacidade e a vontade de atacar alvos marítimos estratégicos, independentemente da evolução diplomática”, escreveu Mohammad al-Basha, analista do Iémen na empresa de consultoria de risco Basha Report.
O centro militar britânico de operações comerciais marítimas do Reino Unido começou por dizer que uma equipa de segurança armada no navio não identificado tinha respondido ao fogo contra um ataque inicial e que a “situação está em curso”. Descreveu o ataque como tendo ocorrido a cerca de 100 quilómetros (60 milhas) a sudoeste de Hodeida, no Iémen, que é detida pelos rebeldes Houthi do país.
“As autoridades estão a investigar”, afirmou. Mais tarde, disse que o navio estava a arder depois de ter sido "atingido por projécteis desconhecidos".
Ataque pode representa escalada de violência
Ambrey, uma empresa privada de segurança marítima, emitiu um alerta dizendo que um navio mercante tinha sido “atacado por oito esquifes enquanto transitava para norte no Mar Vermelho”.
Mais tarde, a empresa disse que o navio também tinha sido atacado por drones que transportavam bombas, o que poderia marcar uma grande escalada. De acordo com a mesma entidade, dois drones atingiram o navio, enquanto outros dois foram destruídos pelos guardas armados a bordo.
O centro de operações de comércio marítimo do Reino Unido disse que o navio estava a meter água e que a sua tripulação o tinha abandonado.
A 5ª Frota da Marinha dos Estados Unidos, baseada no Médio Oriente, remeteu as questões para o Comando Central das Forças Armadas, que afirmou ter conhecimento do incidente sem entrar em pormenores.
Moammar al-Eryani, o ministro da informação do governo exilado do Iémen que se opõe aos Houthis, identificou o navio atacado como o Magic Seas e culpou os rebeldes pelo ataque. O navio estava a transmitir que tinha uma equipa de segurança armada a bordo nas imediações do local do ataque e que se dirigia para norte.
“O ataque também prova, mais uma vez, que os Houthis são apenas uma fachada para um esquema iraniano que usa o Iémen como plataforma para minar a estabilidade regional e global, numa altura em que Teerão continua a armar a milícia e a fornecer-lhe tecnologia militar, incluindo mísseis, aviões, drones e minas marítimas”, escreveu al-Eryani na plataforma social X.
Os proprietários do Magic Seas não responderam a um pedido de comentário.
Houthi atacam durante a guerra entre Israel e o Hamas
Os rebeldes Houthi têm lançado ataques com mísseis e drones contra navios comerciais e militares na região, o que a liderança do grupo descreveu como um esforço para pôr fim à ofensiva de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza.
Entre novembro de 2023 e janeiro de 2025, os Houthis atacaram mais de 100 navios mercantes com mísseis e drones, afundando dois deles e matando quatro marinheiros. Isso reduziu muito o fluxo de comércio através do corredor do Mar Vermelho, que normalmente vê atravessar mais de um bilião de dólares em mercadorias.
Os Houthis interromperam os ataques num cessar-fogo autoimposto até que os EUA lançaram um amplo ataque contra os rebeldes em meados de março. Esse cessar-fogo terminou semanas depois e os Houthis não atacaram nenhum navio, embora tenham continuado a efetuar ataques ocasionais com mísseis contra Israel. No domingo, o grupo afirmou ter lançado um míssil contra Israel, que os militares israelitas disseram ter intercetado. O tráfego marítimo no Mar Vermelho, embora continue a ser inferior ao normal, aumentou nas últimas semanas.