Em junho, os funcionários da União Europeia deram luz verde à Bulgária para se tornar o 21º país a aderir à zona euro. Pequenos empresários temem que a mudança possa gerar uma nova crise.
Os proprietários de pequenas empresas na Bulgária estão a encarar com preocupação entrada do país na zona euro. Muitos receiam que a adesão à moeda única, que acontece a 1 de janeiro de 2026, possa representar mais uma crise para o setor empresarial.
A família Terziev abriu a sua primeira loja de produtos biológicos há mais de dez anos na cidade de Haskovo, no sul da Bulgária. A pequena empresa, que já ultrapassou várias crises, enfrenta agora este novo desafio.
O proprietário diz que começou a etiquetar os produtos com a a informação da nova moeda, mas com muito desconforto.
"Nenhum comerciante é economista", diz. "O que nos preocupa é a informação que recebemos de conhecidos próximos, nos países que já adotaram o euro: sim, os indicadores económicos melhoram, mas a população fica mais pobre. Mas as grandes empresas lucram mais", explica Terziev.
Preço dos bens está a aumentar
A Bulgária é um país invulgar, na medida em que indexou a sua moeda, o lev, ao euro, desde o início da união monetária em 1999, mesmo antes de aderir à União Europeia, em 2007. O país apresenta níveis de dívida muito baixos, com apenas 24,1% da produção económica anua, um valor muito inferior ao nível de 60% estabelecido nos critérios económicos para a adesão à zona euro.
A última etapa consistia em manter a inflação abaixo do valor de referência de 2,8%, ou seja, não mais de 1,5% acima da média dos três membros mais baixos da zona euro.
Mas, no último mês, registou-se um aumento notável dos preços dos fornecedores, o que provocou o receio de falência.
"A conversão da Bulgária para o euro não é o nosso maior problema. O nosso grande problema é o que está a causar o aumento dos preços. É simples: quando os preços sobem e o poder de compra das pessoas é baixo, como é o caso da Bulgária, as pessoas compram menos e vendemos menos", diz Terziev.
As duas moedas estarão em circulação durante um mês
As maiores preocupações prendem-se com o mês de janeiro do próximo ano, altura em que as duas moedas estarão em circulação durante um mês.
"Sabemos muito bem que o caos vai começar no início de janeiro. A partir de janeiro, teremos de dar trocos em euros, teremos de fazer cálculos em cêntimos de euro. Teremos de estar sempre a trocar levas por euros e a ir aos bancos. Teremos de trabalhar e trocar dinheiro ao mesmo tempo. Fisicamente, não sei como é que vamos conseguir fazer isso", diz Terziev.
50% dos búlgaros são contra
Nem todos os clientes da loja de produtos biológicos de Terziev veem com bons olhos as compras em euros. A última sondagem Eurobarómetro realizada pela UE revelou que 50% dos búlgaros são contra a moeda única e 43% a favor.
Entre os motivos estão o receio da inflação, a desconfiança em relação às instituições oficiais num país que teve sete governos em quatro anos e a desinformação generalizada nas redes sociais.
Em Haskovo, muitos residentes não pretendem trocar rapidamente os seus levs para euros.
"Não, não tenho muito para trocar", disse um cliente. "Absurdo! Por agora, opto por me manter otimista e acreditar que não será necessário", disse outro.
Embora muitos receiem a mudança, outros mostram-se confiantes.
"Estou muito contente por a Bulgária ir adotar o euro. Espero que ajude o país a nível económico. Não estou preocupada", diz uma cliente, Monika Boyuklieva.
"Não creio que a inflação seja causada pelo euro, mas sim por outros fatores. Espero que tudo corra bem e que não haja grandes aumentos de preços", acrescenta Monika Boyuklieva.
No mês passado, os funcionários da União Europeia deram luz verde à Bulgária para se tornar o 21º membro da união monetária, um projeto-chave da UE que visa aprofundar os laços entre os países membros.
A partir de 8 de agosto, todos os preços de venda a retalho devem ser afixados nas duas moedas. Todos os bancos devem trocar lev até ao final de 2026.
O Banco Nacional da Bulgária trocará as notas e moedas de lev para euro por um período ilimitado.