Imagine ver a Guerra das Estrelas e pensar que os que têm os sabres de luz vermelhos são os bons da fita...
“Isso não é uma lua...”
Não, Obi-wan, não é mesmo. É a conta oficial da Casa Branca a publicar uma imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) de Donald Trump no papel de Jedi.
É engraçado as coisas que passam por normais hoje em dia...
Para assinalar o Dia da Guerra das Estrelas, celebrado a 4 de maio - em homenagem à célebre frase “May the force be with you” (“Que a força esteja contigo”) - a Casa Branca publicou, na sua conta oficial no X, uma imagem gerada por computador de uma versão altamente musculada de Trump a empunhar um sabre de luz em frente a bandeiras dos EUA e a um par de águias-carecas.
É... Bem, já passou o ponto da paródia.
A legenda dizia: “Feliz 4 de maio para todos, incluindo os Lunáticos da Esquerda Radical que estão a lutar tão arduamente para trazer os Lordes Sith, Assassinos, Senhores da Droga, Prisioneiros Perigosos, e os bem conhecidos Membros do Gangue MS-13, de volta à nossa Galáxia. Vocês não são a Rebelião - vocês são o Império. Que o dia 4 esteja convosco.”
Existem muitas coisas por desvendar aqui, mas um elemento destacou-se ainda mais do que aquelas veias cómicas salientes nos bíceps de Trump: o sabre de luz vermelho.
Como até o mais casual dos fãs da Guerra das Estrelas pode atestar, o vermelho é a cor escolhida pelos vilões Lordes Sith. O criador da Guerra das Estrelas, George Lucas, explicou uma vez, sobre as cores dos sabres de luz: “Os bons são verdes e azuis, os maus são vermelhos.”
Não se trata de ciência aeroespacial, mas significa que a imagem é um autorretrato todo-poderoso que indica que Trump é o próprio mal que está a tentar derrotar.
Como um utilizador do X salientou: “A falta de autoconsciência e a hipocrisia de chamar à esquerda 'o Império' enquanto se mostra Trump com um sabre de luz Sith.”
Alguns argumentaram que o vermelho é a cor republicana e que, por isso, funciona. No entanto, o universo da Guerra das Estrelas apresenta outras cores de sabres de luz, como o verde, o amarelo ou mesmo o roxo, nenhuma das quais tem conotações negativas ou ligações com a cor de eleição dos Democratas: o azul.
O erro não é surpreendente, tendo em conta que a iliteracia cultural de Trump está documentada, como provou com as suas frequentes menções a Hannibal Lecter e a falta de conhecimento associada às referências literárias e cinematográficas que fazia durante a campanha. Mais uma vez, e à semelhança das suas referências a Hannibal, esta imagem falhada da Guerra das Estrelas é uma tentativa ridícula de utilizar uma pedra de toque cinematográfica popular, resultando em táticas confusas de fomento do medo que revelam a genuína falta de conhecimentos culturais de Trump e da sua equipa.
Foi também a segunda vez em três dias que a Casa Branca partilhou uma imagem de Trump gerada por IA que gerou controvérsia.
Trump partilhou uma imagem na sua conta na Truth Social que o retratava como Papa, depois de ter afirmado, em tom de brincadeira, que deveria suceder ao falecido Papa Francisco.
De facto, dias antes da publicação, Trump brincou que era a “escolha número um” para suceder ao Sumo Pontífice. “Gostaria de ser Papa. Essa seria a minha escolha número um”, disse aos jornalistas, na Casa Branca.
Trump foi criticado pela sua publicação irreverente. Os republicanos que estão contra Trump repartilharam a imagem no X, chamando-lhe “um insulto flagrante aos católicos e uma ridicularização da sua fé”, enquanto o antigo primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, escreveu no X: “Esta é uma imagem que ofende os crentes, insulta as instituições e mostra que o líder da direita global gosta de ser um palhaço. Entretanto, a economia americana corre o risco de entrar em recessão e o dólar perde valor”.
Quer se trate de um Papa ou de um Jedi concebido com IA, é evidente que a administração Trump está a mostrar que a comunicação tradicional da Casa Branca é uma coisa do passado e que até a Inteligência Artificial está a fazer com que pareçam os maus da fita.