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Secas quentes podem empurrar a Amazónia para clima hipertropical até 2100 e árvores não resistirão

Amazónia poderá entrar em território desconhecido ao evoluir para clima hipertropical
Poderá a Amazónia entrar em território desconhecido ao evoluir para clima hipertropical Direitos de autor  Felipe Dias / Unsplash
Direitos de autor Felipe Dias / Unsplash
De Craig Saueurs
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Há pelo menos 10 milhões de anos não ocorre clima hipertropical na Terra.

A floresta amazónica pode estar a desenvolver um clima que não se vê na Terra há dezenas de milhões de anos.

Num estudo publicado esta semana na Nature, cientistas defendem que a região se aproxima do que chamam um clima “hipertropical”, um estado mais quente, mais seco e mais volátil que pode desencadear mortes generalizadas de árvores e enfraquecer um dos mais importantes sumidouros de carbono do planeta.

Os autores alertam que, sem fortes reduções nas emissões de gases com efeito de estufa, a Amazónia poderá enfrentar até 150 dias de “seca quente” (períodos de secura intensa agravados por calor extremo) por ano até 2100.

Inclui os meses de pico da estação chuvosa, como março, abril e maio, quando extremos destes são hoje praticamente inéditos.

“Quando estas secas quentes ocorrem, é o clima que associamos a uma floresta hipertropical”, disse o autor principal Jeff Chambers, professor na Universidade da Califórnia, Berkeley, num comunicado. “Vai além do limite do que consideramos uma floresta tropical atualmente.”

Como cientistas identificaram o ponto de rutura da Amazónia

Liderado por investigadores da Universidade da Califórnia, Berkeley, o estudo baseia-se em mais de 30 anos de dados de temperatura, humidade, humidade do solo e intensidade luminosa recolhidos em parcelas de investigação a norte de Manaus, no centro do Brasil.

Sensores instalados nos troncos das árvores permitiram à equipa observar como as árvores reagem ao aumento do calor e à diminuição da humidade. Durante secas recentes provocadas pelo El Niño, os investigadores identificaram dois pontos de stresse principais.

Quando a humidade do solo baixou para cerca de um terço dos níveis normais, muitas árvores fecharam os poros das folhas para conservar água. Isso interrompeu a capacidade de absorver dióxido de carbono, essencial para construir e reparar tecidos.

O calor prolongado levou depois à formação de bolhas na seiva, perturbando o transporte de água num processo que os investigadores compararam a uma embolia (uma obstrução súbita num vaso sanguíneo que pode provocar um AVC).

Espécies de crescimento rápido e de baixa densidade da madeira revelaram-se particularmente vulneráveis, morrendo em maior número do que as árvores de madeira de elevada densidade, disseram os investigadores.

“Isso implica que as florestas secundárias podem ser mais vulneráveis... porque têm uma maior proporção deste tipo de árvores”, disse Chambers. São florestas que se regeneraram naturalmente após danos causados por humanos ou por fenómenos naturais.

Os investigadores observaram os mesmos sinais de alerta em vários locais e secas. Isso significa que a Amazónia provavelmente reage ao calor e à secura de forma semelhante e previsível.

Embora a mortalidade anual de árvores na Amazónia esteja atualmente ligeiramente acima de 1 por cento, os investigadores estimam que possa subir para cerca de 1,55 por cento até 2100. Apesar de parecer uma alteração pequena, um aumento de apenas meio ponto percentual numa floresta do tamanho da Amazónia representa um número muito elevado de árvores perdidas, acrescentou Chambers.

Clima hipertropical: o que é e por que importa

Os autores definem as zonas mais quentesdo que 99 por cento dos climas tropicais históricos como hipertropicais, marcadas por secas muito mais frequentes e intensas.

Um clima assim não tem equivalente na história moderna, dizem. Só existiu nos trópicos quando a Terra era muito mais quente, entre há 10 e 40 milhões de anos.

Ao contrário das zonas tropicais atuais, onde as temperaturas se mantêm relativamente estáveis e os ciclos de precipitação sustentam vegetação densa todo o ano, um clima hipertropical traria calor extremo, épocas secas prolongadas e potencial para tempestades fortes.

A mudança pode ter consequências graves que se farão sentir muito para lá da Amazónia.

As florestas tropicais absorvem mais do nosso carbono do que qualquer outro ecossistema. Quando estão sob stresse, porém, absorvem muito menos (em anos especialmente secos, a Amazónia chegou a libertar mais carbono do que o que absorveu), salientaram os autores.

À medida que as temperaturas globais continuam a subir, qualquer queda na capacidade da Amazónia para armazenar carbono pode acelerar o aquecimento em todo o mundo. Pode mesmo agravá-lo. Nos últimos anos, partes de algumas florestas tropicais enfrentaram épocas de incêndios severas impulsionadas pelo calor e pela seca, libertando grandes quantidades de carbono e pondo os seus ecossistemas sob stresse.

O que está a acontecer na Amazónia pode afetar outras florestas. Os autores deixam claro que as florestas tropicais da África Ocidental e do Sudeste Asiático podem enfrentar riscos semelhantes com a subida das temperaturas, dependendo da velocidade e da escala das reduções de emissões.

“Tudo depende do que fizermos”, disse Chambers.

“Se emitirmos gases com efeito de estufa sem controlo, tanto quanto quisermos, vamos criar este clima hipertropical mais cedo.”

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