Pandemia exacerba debate sobre a criação industrial de visons

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De  Julian GOMEZ
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Na Grécia, a pandemia exacerba o debate sobre a criação industrial de visons.

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Na Grécia, a pandemia exarcebou o debate em torno da produção industrial de visons, depois de vários países terem abatido milhões de animais contaminados pela Covid-19.

Em novembro, a Dinamarca anunciou o abate de 17 milhões de visons para prevenir a proliferação do vírus SARS-CoV-2 e uma eventual transmissão aos humanos. Houve também abates em massa na Holanda e em Espanha. Mas, no norte da Grécia, a situação é diferente. A região, uma das mais pobres do país, depende, em grande medida, da indústria das peles. 

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ZOI M. THOMOU, VETERINÁRIA GREGAeuronews

Houve contaminações em 15% das criações gregas

A euronews visitou uma das cerca de 80 quintas situadas no norte da Grécia onde são criados cerca de 1,5 milhões de animais. Os criadores autorizaram uma visita às instalações mediante condições estritas. Um teste PCR negativo foi exigido à equipa de reportagem.

"Ficámos muito surpreendidos pelo facto de estes animais serem tão sensíveis ao vírus da Covid-19. As pessoas começaram logo a usar máscaras, a limpar as mãos. Não trabalhavam ao lado de outras pessoas no mesmo local. Tentámos fazer tudo o que era possível para manter a Covid-19 longe daqui. E, neste momento todos os criadores de visons estão vacinados”, disse à euronews Nicole Bauduin, criadora de visons, na Grécia.

As medidas implementadas pelos criadores gregos fazem parte das recomendações elaboradas pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças no contexto da atual situação de "alto risco".

A euronews visitou uma quinta na Grécia que não registou infeções. Mas, em 15% das quintas gregas já houve casos de Covid-19, menos do que na Holanda, mas, ao nível do que se passou nas grandes produções de peles da Dinamarca e da Suécia. Ao contrário de outros países, na Grécia, os animais doentes não são abatidos mas permanecem isolados sob supervisão veterinária.

“Se encontrarmos animais positivos ao vírus, a quinta inicia o protocolo de quarentena. Já não matamos mais animais. Ajudamos os animais doentes de todas as formas possíveis. Sabemos que o animal doente pode desenvolver imunidade. Depois de um certo tempo, o vírus já não está presente, embora seja preciso mais pesquisa para ter certeza”, afirmou a veterinária grega Zoi M.Thomou.

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AKIS TSOUKAS, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PELES DE CASTÓRIAeuronews

Setor das peles emprega 60% dos habitantes de Castória

Uma abordagem diferente da de outros países, motivada, em grande parte, por razões económicas. A indústria das peles é a segunda mais importante da região, em termos de emprego, depois do setor da energia. Só em Castória, as peles dão emprego a 60% dos 35 mil habitantes da cidade.

A euronews visitou uma empresa de curtumes onde são processadas cerca de um milhão de peles por ano. O trabalho da pele é uma tradição local antiga que data da era bizantina. O dono da empresa considera que sem as peles a economia da região entraria em colapso.

“O setor emprega milhares de trabalhadores. Temos o setor da criação e o setor do processamento, fabricamos roupa, nomeadamente casacos. Há mais de duas mil empresas. Algumas são pequenas empresas familiares, outras são grandes", explicou Akis Tsoukas, dono de uma empresa de curtumes e presidente da Associação de Peles de Castória.

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GEORGIOS VAVLIARAS, VICE-GOVERNADOR REGIÃO DA MACEDÓNIA OCIDENTALeuronews

Exportações valem 200 milhões por ano

A euronews falou com um retalhista do setor que emprega cerca de 500 pessoas. Os casacos de pele são desenhados e fabricados por artesãos qualificados. A roupa é exportada para a Rússia, a Ucrânia, o Mónaco e a Suíça. Antes da pandemia, as exportações de peles da Grécia valiam cerca de 200 milhões de euros.

“Há procura. Em muitos países, devido ao frio, as pessoas precisam mesmo de peles. As peles não podem ser substituídas por outros materiais”, sublinhou Dimitrios Kostopoulos, vendedor de peles.

A pandemia forçou as autoridades locais a encontrar um equilíbrio entre a saúde pública e a proteção dos rendimentos das famílias. A euronews entrevistou o vice-governador da região, responsável pelo desenvolvimento empresarial.

“Aqui, as peles são a principal fonte de rendimentos. Podemos dizer que se trata de uma situação de monocultura, porque todos os outros setores também vivem das peles. Por isso, para nós, seria muito difícil perder essa atividade e criaria sérios problemas. Mas, ao mesmo tempo, encorajamos as pessoas daqui a fazerem outros trabalhos. Queremos convencer as pessoas a virarem-se para outros setores. O objetivo é que os jovens fiquem aqui e trabalhem. E queremos que as pessoas que emigraram voltem para casa", considerou Georgios Vavliaras, vice-governador da Região da Macedónia Ocidental.

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STAVROS KARAGEORGAKIS, ESPECIALISTA EM ÉTICA ANIMALeuronews

Associações ambientais pedem fim da indústria de visons

Uma abordagem que suscita críticas. Tradicionalmente opostos à produção industrial de peles, os grupos de defesa do ambiente e da natureza afirmam que a pandemia está a aumentar o sofrimento dos animais. A euronews esteve num refúgio para espécies selvagens feridas, perto da cidade de Salónica e falou com um especialista em ética animal.

“Em particular, durante a pandemia, as condições de confinamento para os animais pioraram. Os animais não podem evitar o contágio do vírus porque estão presos em pequenas gaiolas, num espaço de alguns centímetros. Em segundo lugar, porque se vivessem noutras condições poderiam ter desenvolvido uma imunidade de outra forma, mas dentro de gaiolas infelizmente não é possível", sublinhou Stavros Karageorgakis, especialista em ética animal e professor universitário em Salónica.

Para os grupos de defesa do ambiente, a necessidade de promover o crescimento económico não justifica a forma como o setor é gerido. O cultivo de peles foi proibido ou está em vias de ser proibido em vários países da União Europeia. Na Grécia, a questão não está em cima da mesa. Para Stavros Karageorgakis, graças ao turismo, à agricultura e aos serviços seria possível compensar o fim da indústria das peles na Europa.

"A União Europeia pode desempenhar um papel decisivo em relação a esta realidade nefasta que todos vivemos. A indústria de peles deveria ser proibida em todos os Estados-Membros. Claro que as regiões em questão precisam de motivação e incentivo, porque vão ser penalizadas financeiramente. Tem de haver alternativas através de programas apropriados, para por fim a essa prática cruel”, afirmou Stavros Karageorgakis, especialista em ética animal e professor universitário em Salónica.

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Um ponto de vista rejeitado pelos criadores e industriais do setor. "Algumas pessoas aproveitam todas as ocasiões para se manifestarem contra as peles. Não é só a Covid-19, são as gaiolas, a forma como os animais são tratados”, lamentou a criadora de visons Nicole Bauduin.

Os industriais e criadores gregos querem preservar a atividade económica. Os artesãos afirmam que se trata de uma prática ancestral. As autoridades querem proteger, ao mesmo tempo, saúde pública e emprego. Os ambientalistas lutam pelo bem-estar animal. Um debate complexo exacerbado pela pandemia, na Grécia e em toda a Europa.

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