Numa intervenção nas Conferências do Estoril, a primeira-dama ucraniana apelou à responsabilização das organizações internacionais e exigiu "respostas tangíveis" para repor a paz na Ucrânia.
Numa intervenção de sete minutos na 9ª edição das Conferências do Estoril, a primeira-dama da Ucrânia salientou que a "constatação mais dolorosa" do conflito desencadeado pela invasão russa a 24 de fevereiro de 2022 "é a deportação sistemática de crianças ucranianas".
Segundo Olena Zelenska, "19 mil [crianças] foram levadas para a Rússia, um ato testemunhado pelo mundo, mas que recebeu ação insuficiente. Ao envolvermo-nos nessas discussões hoje, devemos avaliar criticamente a eficácia das organizações internacionais e as suas respostas, ou melhor, a sua inação", criticou a primeira-dama ucraniana, durante a apresentação que tinha como tema "Como manter vivo o espírito de uma nação em tempo de guerra perante quase mil dias de conflito contínuo?".
Além de criticar a inação da comunidade internacional, Olena Zelenska aproveitou o lema das Conferências do Estoril, 'Hora de Repensar', para frisar que a "reflexão prolongada pode levar ao perigo" e que o "tempo gasto na discussão deve traduzir-se em resultados tangíveis".
"À medida que nos envolvemos em discussões significativas hoje, concentremo-nos em resultados tangíveis. Não se trata apenas da Ucrânia. Trata-se da segurança coletiva da nossa comunidade global. Nenhum crime está demasiado distante para nos preocupar a todos e cada ato de violência representa uma ameaça à nossa humanidade partilhada. As ações que escolhermos tomar hoje moldarão o nosso futuro coletivo. Se nos comprometermos a agir, podemos aproximar a paz e defender os princípios da coexistência perante a adversidade", frisou a mulher do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy.
Sobre a questão do tempo, Zelenska também destacou que na Ucrânia atual se reavalia a importância de aspetos básicos do dia-a-dia, agora dificultados por causa da invasão russa, exemplificando com a simplicidade de chamar um táxi para o aeroporto, entrar num avião e chegar a Portugal em apenas quatro horas.
"Em total contraste, um míssil russo pode atingir um lar pacífico em Kharkiv em apenas 30 segundos.[...] Não são dados mais de dois minutos para estancar o sangramento de uma pessoa ferida por um bombardeamento. A urgência da guerra remodela a nossa compreensão do tempo. Decisões críticas devem ser tomadas em segundos, enquanto a agonia de suportar a guerra estende o tempo para uma provação sem fim", lamentou.
A primeira-dama ucraniana aproveitou ainda a ocasião para agradecer a participação de Marcelo Rebelo de Sousa na primeira cimeira global da paz, que se realizou na Suíça, e também do presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, que esteve esta quinta-feira no Estoril. Olena Zelenska foi recebida, à chegada, pelo Presidente português e ovacionada pelo público antes e depois da sua intervenção das Conferências do Estoril, que terminam na sexta-feira.