Crescem manifestações islamitas, contra a profanação de Maomé

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O mundo muçulmano inflamou-se, depois da divulgação na internet de um filme misterioso, chamado, “Inocência dos Muçulmanos”, denegrindo o Islão e o profeta Maomé.

As manifestações anti-americanas estão a crescer, extremamente dramatizadas, em alguns países muçulmanos.

Está tudo em alerta. É o caso do Afeganistão, onde há receio de violentos tumultos. Um dos generais da Nato lançou um apelo, nesse sentido:

“Nós respondemos imediatamente, ao sabermos da violência no exterior e avisámos a Força Internacional de Segurança e Assistência e a comunidade internacional. Falámos também com a Força Nacional de Segurança do Afeganistão, sobre as possibilidades de atos de violência, nos próximos dias”.

Não é a primeira vez que os muçulmanos se exaltam a níveis extremos, depois de provocações contra o Islão.

Foi justamente no Afeganistão, em Fevereiro, que manifestações violentas provocaram 36 mortos, depois da revelação de uma profanação e queima do Corão, por parte de soldados americanos, na prisão Bagram.

Antes disso, houve o caso de Terry Jones, pastor numa insignificante congregação, na Flórida. Em 2011, ele organizou o “Dia Internacional do Julgamento do Corão”, e a queima de fotografias de Maomé e do Corão.

Poucos dias depois, milhares de manifestantes atacaram os escritórios das Nações Unidas, em Mazar-e-Sharif, no norte do Afeganistão, onde foram mortos sete funcionários da organização.

Mas foi em 2005 que aconteceu o protesto mais espetacular – o escândalo das caricaturas de Maomé.

Uma dúzia de desenhos a caricaturar o Profeta, publicada num jornal dinamarquês, que depois foi secundado por diversos jornais da Dinamarca e de outros países.

O caso teve um enorme impacto, tanto diplomaticamente, como nas ruas. Dezenas de pessoas morreram nas manifestações que se seguiram e, sete anos mais tarde, as repercussões continuam.

ok Antropólogo diz que violência árabe é contra o ocidente

Para analisar a questão, está connosco Malek Chebel.

Antropólogo, especialista em questões islamitas e tradutor do Corão.

en – O filme “A Inocência dos Miçulmanos” é considerado de mau gosto, má qualidade, é claramente uma provocação, sem qualquer fundamento histórico ou analítico. Sendo assim, porquê uma tão grande reacção? Não seria melhor ignorá-lo?

MC – Talvez… o filme é muito mau, é mediocre, mas evidencia um grande desprezo, pelo profeta do Islão e foi isso que indignou as populações muçulmanas.

EN – Lembro-me de filmes ou desenhos sobre Jesus, por exemplo, “A última tentação de Cristo”, de Martin Scorsese, ou, num estilo mais satírico, “A vida de Brian”, de Monty Pithon. Nunca provocaram um protesto dos católicos, à escala dos que temos visto, por estes dias. Porquê, esta diferença?

MC – Porque o catolicismo já é mais antigo, na História e na sua própria cronologia. Mais, a religião católica é, de alguma forma, secular, laicizada, desde há muito. Houve guerras religiosas, dentro do catolicismo, o que não aconteceu com o Islão, porque o islamismo saíu de um período um pouco perturbado, das colonizações, das descolonizações e procura, num plano existencial, encontrar uma postura de mais longa existência.

EN – Nota-se, concretamente, depois de vários anos, que não se pode criticar, ou ridicularizar o Islão. Que liberdade de expressão é esta? MC – Na verdade, não se pode criticar o profeta que é um modelo. Se alguém quiser observar as pessoas, os crentes, verá que têm uma conexão quase carnal com Maomé, mas, no entanto, pode-se criticar o Islão. O Islão é criticado diariamente, mas em proporções aceitáveis. Agora, este filme é uma difamação sistemática. Foi assim entendido pelas populações árabes que não têm a distância crítica para a compreensão da História, da imagem e da força que têm, no Ocidente. Eles não têm distanciamento e pensam que, por dinheiro, tudo ataca o Islão e, em especial o Profeta Maomé.

EN – A identidade do realizador e dos intérpretes deste filme não é muito clara. Sabe-se apenas que foi apoiado por Terry Jones o pastor que se tornou célebre, no ano passado, por queimar o Corão. É um extremista, não apoiado pelas autoridades americanas. Mas acredita-se no contrário, nos países árabes?

MC – Não fazem distinção, entre o ocidente oficial, as elites políticas do ocidente, e as bases. Sobretudo, os fundamentalistas, porque, no Islão, não existe essa distinção. Tudo o que vem do Ocidente, tanto o bem como o mal, é sempre mau. É do Ocidente.

EN – O mundo árabe está a mudar, desde a “primavera árabe”. Isso explica este movimento? Existe um contexto particular que promove esta inflamação?

MC – Eu não creio nessa conexão direta. Não há nenhum nexo de causalidade, entre a ‘primavera árabe’ e essa reação. A prova é que já houve outros casos, como as caricaturas, os véus, os minaretes, etc… Por isso, não relaciono. Apesar disso, você tem alguma razão, porque a palavra se libertou, já não há ditadores em vários países, há uma verdadeira liberdade de expressão, porque não há repressão, como havia no tempo de Mubarack, de Ben Ali e de todos os outros ditadores.

EN – Isto pode piorar, nos próximos dias e semanas?

MC – Eu acho que os integristas, os salafistas, numa palavra, os fundamentalistas, as pessoas que detestam o Ocidente, os caciques dos regimes de Ben Ali, Kaddafi, Mubarak, todos aqueles que foram excluídos, que perderam privilégios que tinham antes, aqueles que querem vingança, de uma maneira ou de outra, vão estimular o ódio de que se alimentam esses movimentos.

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