"As próximas eleições darão novas esperanças à população brasileira", Paulo Rabello de Castro, economista brasileiro

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No início do Mundial de Futebol, os brasileiros mostram, mais uma vez, o grande descontentamento interno. Os protestos duram há um ano e não têm fim à vista. Esta é a maior vaga de contestação desde os anos noventa.

Menos de metade dos brasileiros considera uma boa ideia acolher o Mundial, segundo uma sondagem Datafolha. Consideram mal gasto o dinheiro nos estádios quando o país precisa de outras infraestruturas. A fatura com o Mundial revelou-se muito superior ao previsto e nem tudo está acabado.

Começaram por contestar o aumento dos transportes, mas os brasileiros exigem também melhor educação, saúde e gestão pública e a luta contra a corrupção.

Um braço de ferro social a meses das presidenciais e que tem como pano de fundo uma forte desaceleração económica. Dos 7,5% de crescimento em 2010, o Brasil passou para 2,3% em 2013 e, para este ano, a ONU, espera apenas um crescimento de 1,7%.

A isto junta-se um défice da conta corrente em máximos de uma década e uma inflação que, em maio, atingiu 6,37%, apesar das várias intervenções do Banco Central.

Os economistas consideram que o país é penalizado pelo complexo sistema de impostos.

O Brasil é também um país de contrastes: é a sétima economia mundial mas, em termos de PIB per capita, não vai além do meio da tabela da classificação internacional.

Patrícia Cardoso, euronews:

Para abordar a situação social e económica do Brasil, temos connosco Paulo Rabello de Castro, economista e coordenador do Movimento Brasil Eficiente.

Os protestos duram há um ano, apesar da presidente ter recuado no aumento dos transportes e de ter apresentado vários pacotes de medidas. Qual é a solução para resolver este conflito?

Paulo Rabello de Castro, economista:

Não há uma solução para este conflito. Essa manifestação, que obviamente reúne, basicamente, jovens, mas que em junho – é bom que todos entendam – teve a participação de pessoas das mais diversas condições sociais, de todas as idades e, basicamente, classe média, pedindo uma reformulação da gestão do governo como um todo, isso se refere à nossa baixa qualidade de gestão em saúde, a nossa sofrível gestão da educação, a nossa mobilidade urbana, absolutamente fora de padrão. Portanto são questões estruturais que apenas um próximo governo, creio eu, e as próximas eleições darão novas esperanças à população brasileira.

Euronews:

Alguns empresários consideram que o descontentamento social é a oportunidade para avançar com reformas. Então, as medidas do governo não são suficientes.

P. R. de Castro:

Sem dúvida. O governo fez uma abordagem de emergência, o programa mais conhecido foi o chamado o programa “Mais Médicos”, que resultou na convocação de uma boa quantidade de médicos cubanos. E por estarem estes médicos contratados com valores de salário muito inferiores aos dos seus colegas brasileiro, imediatamente isso criou uma situação de mal-estar.

Esse descontentamento representa e, de uma certa forma, é resumido numa frase: o Brasil acordou. Não significa que o Brasil não tenha tido um aumento da renda per capita e uma inclusão de milhões de pessoas ao chamado mundo do consumo. Não é quando a situação é de pobreza crónica mas, exatamente, quando milhões de pessoas são incorporadas e começam a perceber que na realidade os serviços, que sempre foram muito sofríveis, muito ruins, de facto são ruins, mas que elas podem ir às ruas e protestar.

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Euronews:

Pensa que estes protestos em massa podem pôr em causa a imagem do Brasil como destino turístico?

P. R. de Castro:

Eu acho que não. O Brasil não é um grande destino turístico, por enquanto, embora a gente saiba que o Brasil é um dos países mais belos do mundo. Mas turismo é, antes de mais nada, prestação de serviços e, como nós somos muito fracos na prestação de serviços públicos, o Brasil ainda tem que se preparar para compor com serviços aquilo que a natureza lhe dá como condição excecional de atração de turistas.

Euronews:

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Esta tensão pode afetar o desenrolar do Mundial de Futebol?

P. R de Castro:

Eu acho que não. Os protestos serão protestos localizados, em geral, próximos dos estádios onde serão realizados os jogos. É possível que não haja uma manifestação de grande porte.

O Brasil se preparou, como costuma fazer as coisas, meio que improvisadamente, em cima da hora, mas com muita alegria e vai receber com muita cordialidade, muita amizade e muito carinho os turistas que vêm do mundo inteiro. Isso, com certeza, ocorrerá e será uma grande festa, um grande evento.

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