Refugiados afegãos: Uma barreira chamada Irão

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De  Ricardo Figueira  com Maryam Shahi, Amir Behnam Masoumi
Refugiados afegãos: Uma barreira chamada Irão

Uma grande parte dos migrantes que chegam todos os dias à Europa é constituída por jovens afegãos. 14 anos depois da derrota dos talibãs pela coligação internacional, a insegurança, os ataques terroristas e a corrupção sistémica reinam neste país, em guerra há mais de 30 anos. A juventude afegã está farta desta situação.

Aqui é o meu país, mas não tenho garantias de futuro. Tenho de voltar ao Irão e pedir um novo título de residência. Ou faço os estudos universitários no Irão ou vou para a Europa

Aqueles que partem em direção à Europa têm uma barreira pela frente: O Irão. Os guardiães da revolução, colocados na fronteira com a Turquia, não deixam passar aqueles que se dirigem para o Ocidente: “Eles prenderam o meu filho Hamad, juntamente com o primo, a poucos metros da Turquia”, conta Hadji Mohammad, operário em Cabul. “Mandaram-nos de volta para o Afeganistão, mas não vão ficar aqui. Vão voltar a tentar a sorte, em breve”, acrescenta.

O Irão vai mudar a política migratória?

Alireza, afegão, terminou o ensino secundário no Irão. Como não pôde continuar os estudos superiores no primeiro país de acolhimento. Pôs-se a caminho da Europa, mas foi detido na fronteira turca. “Prenderam-me, retiraram-me o título de residência e mandaram-me de volta para o Afeganistão”, disse à euronews. “Aqui é o meu país, mas não tenho garantias de futuro. Tenho de voltar ao Irão e pedir um novo título de residência. Ou faço os estudos universitários no Irão ou vou para a Europa”.

O Irão acolheu cerca de três milhões de refugiados afegãos desde a guerra civil dos anos 80. A maior parte acaba a trabalhar nas obras, como operários não qualificados. A aquisição da nacionalidade iraniana é praticamente impossível, mesmo para aqueles que partilham a língua (persa) e a herança cultural com o Irão.

Os imigrantes afegãos pós-talibã são, na maioria, indocumentados, o que faz deles uma comunidade marginalizada.

Tudo indica, no entanto, para que a República Islãmica mude a política relativamente aos migrantes afegãos. A TV nacional interessa-se cada vez mais pela questão. Outra boa notícia para os afegãos: Por ordem do aiatola Khamenei, líder supremo do país, as escolas iranianas são agora obrigadas a aceitar os alunos afegãos, mesmo os sem documentos.

Apesar dos aspetos positivos, um professor afegão de sociologia, diplomado pela Universidade de Teerão, considera-os um jogo político do Irão: “Com a subida do autointitulado Estado Islâmico, o Irão procura aliados mais fiáveis. Partilhamos a língua e as tradições culturais. Vivemos no Irão há muito tempo. Há uma guerra aqui ao lado, na Síria. Quem melhor que nós para ter como aliados?”, Pergunta.