Documentos do Panamá: As ligações de Bashar al-Assad e Kim Jong-un à Mossack Fonseca

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De  Francisco Marques com guardian, le monde, lusa
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O regime liderado por Bashar al-Assad na Síria e o da Coreia do Norte, de Kim Jong-un, representam duas das mais polémicas entidades relacionadas à

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O regime liderado por Bashar al-Assad na Síria e o da Coreia do Norte, de Kim Jong-un, representam duas das mais polémicas entidades relacionadas à Mossack Fonseca. A empresa panamiana está no centro da recente investigação jornalística ainda em fase de revelação conhecida como “Documentos do Panamá.”

O presidente sírio é referido através do primo. Com uma fortuna familiar avaliada em 5 mil milhões de euros antes do início da guerra civil, Remi Makhlouf, de 47 anos, é alvo de sanções internacionais desde setembro de 2008, por, entre diversas atividades criminosas, corrupção violenta e abuso de bens públicos para financiar operações de guerra.

España, Reino Unido, Rusia, Siria, Argentina. Presidentes, Monarcas, directores de cine, futbolistas #panamapaperspic.twitter.com/AEBNgm9sU3

— Anonymous (@Anonymous_UE) 3 de abril de 2016

Mesmo com as sanções norte-americanas, Remi Makhlouf conseguiu manter os movimentos de dinheiro no estrangeiro através de uma empresa criada pela agora famosa Mossack Fonseca nas Ilhas Virgens Britânicas. Pela Drex Technlogies, Remi terá conseguido fundos para financiar, por exemplo, a força aérea síria no trágico início da guerra civil naquele país há cinco anos.

A ligação do primo de Bashar al Assad à Mossack Fonseca durou de 2008 a 2011, tendo sido interrompida depois de também a União Europeia ter imposto sanções a Remi Makhlouf, o que obrigava a cumprimento pelas empresas panamianas e também às das Ilhas Virgens britânicas.

Antes, numa curiosa “revienga”, também o banco britânico HSBC entrou “no jogo” e terá feito lóbi para que Remi Makhlouf pudesse manter contas bancárias na Suíça. Os documentos revelados mostram como a Mossack Fonseca, o HSBC e responsáveis britânicos ajudaram Remi Makhlouf a controlar cerca de 60 por cento da economia síria.

Rami Makhlouf owns at least 3 companies in #panamapapers: Ramak Limited, Dorling International, Drex Technologies. pic.twitter.com/44hUTOBXn1

— DavidKenner (@DavidKenner) 4 de abril de 2016

Em outubro de 2010, já as autoridades financeiras das Ilhas Virgens Britânicas tinham solicitado à Mossack Fonseca informação sobre a Drex Technologies, através da qual a família Makhlouf geria a participação na Syriatel, revelou o Tesouro dos Estados Unidos. O HSBC foi alertado pela delegação da empresa panamiana em Genebra da investigação a realizar pela Agência de Investigação Financeira. O HSBC, por sua vez, contactou a cliente a avisar igualmente da investigação.

A 15 de março de 2011, forças de segurança sírias abriram fogo sobre manifestantes pró-democracia em Damasco. Líder dos serviços de inteligência na capital, na altura, Hafez Makhlouf, irmão de Remi, terá tido um papel-chave no espoletar do conflito contra o regime de Assad. Hafez já fazia parte da lista negra dos Estados Unidos desde 2007 devido à interferência síria no Líbano.

Dias depois, certificados da Drex Technologies foram enviados para o Gabinete britânico dos Negócios Estrangeiros. Referiam Remi Makhlouf como dono e principal beneficiário da empresa. A pedido da delegação do HSBC em Genebra, foram enviados serem assinados e selados por responsáveis britânicos. Nada sugere que o ministro dos Negócios Estrangeiros à altura, William Hague, soubesse de alguma coisa. O enredo é intricado e até esta semana mantinha-se “invisível”, mas terá movimentado muitos milhões de dólares manchados de sangue.

Coreia do Norte financiou programa nuclear

A Coreia do Norte também é referida na investigação jornalística, mas tal como o regime de Assad, surge de forma indireta nos “Documentos do Panamá”. > Here are the famous politicians in ‘the Wikileaks of the mega-rich’ #PanamaPapershttps://t.co/Ll2wyPj9KCpic.twitter.com/ksNfrzYfrU

— WikiLeaks (@wikileaks) 4 de abril de 2016

O caso “Documentos do Panamá”

A maior investigação jornalística da história, divulgada na noite de domingo, envolve o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), com sede em Washington, e destaca os nomes de 140 políticos de todo o mundo, entre eles 12 antigos e atuais líderes mundiais.

A investigação resulta de uma fuga de informação e juntou cerca de 11,5 milhões de documentos ligados a quase quatro décadas de atividade da empresa panamiana Mossack Fonseca, especializada na gestão de capitais e de património, com informações sobre mais de 214 mil empresas “offshore” em mais de 200 países e territórios.

A partir dos Papéis do Panamá (Panama Papers, em inglês) como já são conhecidos, a investigação refere que milhares de empresas foram criadas em “offshores” e paraísos fiscais para centenas de pessoas administrarem o seu património, entre eles, o rei da Arábia Saudita, elementos próximos do Presidente russo Vladimir Putin, o presidente da UEFA, Michel Platini, e a irmã do rei Juan Carlos e tia do rei Felipe VI de Espanha, Pilar de Borbón.

O semanário Expresso e o canal de televisão TVI estão a participar nesta investigação em Portugal.

Uma empresa de fachada denominada DCB Finance Ltd. foi também registada nas Ilhas Virgens Britânicas em 2006, constituída legalmente pela Mossack Fonseca em nome de um norte-coreano, Kim Chol-Sa, e de um britânico, Nigel Cowie, um banqueiro britânico que se mudou para a Coreia do Norte há 20 anos e liderou o primeiro banco estrangeiro naquele país, o Daedong Credit Bank. Os documentos agora revelados sugerem que a Mossack Fonseca não tenha detetado a ligação da DCB Finance à Coreia do Norte apesar de a morada indicar Pyongyang. A relação surgiu após a Agência de Investigação Financeira das Ilhas Virgens Britânicas ter pedido informação sobre a empresa, em 2010. Aí, a empresa panamiana cortou os laços com a norte-coreana.

A DCB e o banco Daedong mantinham laços estreitos e em junho de 2013 foram ambos visados por sanções norte-americanas, sob suspeita de terem fornecido serviços financeiros desde 2006 a duas entidades norte-coreanas com um “papel central” no desenvolvimento do programa nuclear e de mísseis balísticos da Coreia do Norte.

O Tesouro norte-americano disse que a DCB Finance tinha sido usada para “levar a cabo transações financeiras internacionais como forma de evitar o escrutínio por instituições financeiras que evitam negócios com a Coreia do Norte”.

Há mais do que 34 portugueses nos #panamapapershttps://t.co/iHhXIy9qRppic.twitter.com/RzuSBUZuFQ

— Expresso (@expresso) 5 de abril de 2016

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